maio 25, 2014 Air Antunes Artigos 0
“Tão fielmente te invoquei como musa / E um apoio tão lindo encontrei para o meu verso,/Que toda caneta estrangeira pegou minha mania, / E sob ti a poesia deles dispersa. (….)” William Shakeaspeare em seu Soneto LXXVIII
Uma das piores crises existentes atualmente está incidida na arte. Algumas coisas que ainda denominam de música é uma ofensa aos ouvidos de bom gosto e,por conta disso, ficamos na dúvida sobre quem é o praticante de maior crime, se é o criador destas monstruosidades ou se são aqueles que as curtem. Mas quem sabe a banalização da arte não esteja ocorrendo por causa da banalização da musa! Tudo a ver! Já não se faz musas como antigamente! Desde a antiguidade diz-se que uma arte bem criada ocorreu porque houve a influência da musa.
O que chamam de musa nos dias hoje nada tem a ver com o verdadeiro sentido. Musa, hoje, é a rainha da bateria da escola de samba, mas não porque ela inspira os ritmados repiques da percussão, e sim porque é o que chamam de “bombada”, é toda siliconizada, é toda artificial, uma beleza moldada não pela natureza mas pelos mais afamados cirurgiões plásticos. Quer dizer, o termo “musa”, atualmente, está restrito ao papel de “boazuda” que muitas mulheres assumem, e isso até porque não têm outros atributos além do corpo modelado a oferecer. Tem ainda a musa do funk, do vôlei, do forró, do rodeio, a musa disso, a musa daquilo, mas nada a ver com as musas que inspiraram as mais belas canções já feitas, os mais ternos poemas, as páginas mais instigantes da literatura.
A musa real é aquela mulher que não depende de silicone, de “bombadas” na academia, de botox, de apetrechos caríssimos para adorná-las. A musa é aquela que inspira através do olhar, é aquela que quando fala o poeta sente a sensação de uma doce e suave brisa. A musa tem como seu principal adereço as qualidades que lhe reservaram a natureza naquilo que o poeta explica como a beleza que transcende a matéria. É oportuno salientar que na descrição da beleza, da formosura física da mulher, os antigos escritores, pintores, músicos, atribuíam tudo isso ao belo que ela irradiava de sua alma, ou seja, a beleza vista pelos olhos carnais não se resumia apenas à matéria, exclusivamente.
As ditas musas de hoje, da forma que a tratam, não passam de belezas físicas e param por aí, nada inspiram, apenas provocam o instinto animal, sexual, do macho pela fêmea. Elas jamais vão se transformar em páginas literárias que vão vencer as barreiras do tempo. É certo que as mulheres precisam se cuidar, é reconhecida a vaidade feminina natural, e há até quem, além de tudo isso, também se preocupa em exalar sua feminilidade, a poesia que ela é.
As verdadeiras musas, por incrível que pareça ainda existem, estão às nossas voltas, porém para sentir suas presenças é preciso de sensibilidade. Talvez esteja havendo escassez de homens sensíveis, daí a razão de não estar sendo notadas as verdadeiras musas. Entenda-se por homem sensível, não uma espécie de afeminado, mas o verdadeiro homem, aquele que trata a mulher como mulher, não como objeto. O homem sensível é o que a respeita, é o que não troca a de 50 por duas de 25; é o que não sai dizendo coisas como “isso é que é mulher não aquilo que tenho lá em casa”; é o que aceita os sinais do tempo no corpo da mulher (cabelos brancos, rugas, “pneuzinhos), e apesar disso tudo dobra a intensidade de seu amor.
Por falar em música, nela a vulgaridade tornou-se evidente, músicas deixaram de expressar o romantismo e passaram a expressar o sexo na sua forma mais vulgar, letras de músicas já não falam mais da “deusa de minha rua”, ou descrevem ” Olha que coisa mais linda/ Mais cheia de graça/ É ela menina/ Que vem e que passa/ Num doce balanço/ A caminho do mar”. Letras , em sua grande maioria, agora, se resumem a coisas como” “Créééééu, Crééééu, Crééééu…(um milhão de vezes ” CRÉU se repete)”, ou “ uh so as cachorras, uh uh uh uh uh! as preparadas,uh uh uh uh uh! as popozudas, uh uh uh uh uh! uh uh uh uh uh!”.
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