dez 13, 2013 Air Antunes Angatuba 0
Frei Marcelino Fernandes Ruivo nasceu aos 14 de maio de 1918, em Angatuba-SP. Era filho de Francisco Fernandes Ruivo e Catarina Maria do Espírito Santo. Recebeu o santo Batismo no dia 10 de junho de 1918 na igreja do Espírito Santo, Angatuba. Aí fez a Primeira Eucaristia e foi crismado por Dom Lúcio Antunes de Souza, Bispo de Botucatu. Fez os primeiros estudos no Grupo Escolar Dr. Fortunato de Camargo, Angatuba.
Congregado Mariano
Aos 16 anos mais ou menos ingressou na Congregação Mariana São Luís Gonzaga. “Aos 17 anos, afirmação sua, tinha convicção de que os rumos pelos quais estava conduzindo sua adolescência certamente conduziria o homem adulto, de teatro, que fatalmente seria, pois o artista nasce”. Congregado mariano adolescente considerava “homem mundano” o artista de teatro. No dia 23 de agosto de 1936, com 18 anos de idade entrou para o Seminário São Fidélis de Piracicaba.
Serviço Militar
Em 1939 foi preciso trocar o Seminário pela Caserna: cumprir o serviço militar em Itapetininga. No seu “Diário Autobiográfico” afirma que por todo tempo de duração do serviço militar, se dedicou a visitar quase todos os dias os doentes da Santa Casa para confortá-los e ensinar-lhe o Catecismo. Havia também o Lar de Velhinhos ou Asilo. Passou a andar por lá também. Amigos especiais entre os soldados nenhum, mas também nenhum inimigo, pois se dava bem com todos.
Em manobras com seu Batalhão no Vale do Paraíba, trepou no caminhão da cozinha que ia abastecer-se em Guará. Teve uma queda e o choque do corpo com o cascalho da estrada teve conseqüências de moléstia medular, que persistiram até o desenlace aos 73 anos.
Noviciado e Profissão
Vestiu o hábito e iniciou o noviciado no convento Santa Clara, Taubaté, aos 20 de janeiro de 1942. Foi seu Mestre Frei Salvador de Cavêdine. Emitiu a profissão temporária, em Taubaté, perante Frei Felicíssimo de Prada, aos 21 de janeiro de 1943 e a profissão perpétua, no convento São José, Mococa, perante Frei Plácido Bruschetta, Custódio Provincial, aos 2 de fevereiro de 1946.
Filosofia, Teologia e Ordenação
Estudou Filosofia em Mococa nos anos 1943 a 1945 e Teologia em Mococa, em 1946 a 1947 e São Paulo, 1948 a 1949. Em Mococa, nos dias 11 e 14 de junho de 1947, Dom Manoel da Silveira Delboux, Arcebispo de Ribeirão Preto, conferiu-lhe a Primeira Tonsura e as Ordens Menores. Foi ordenado Subdiácono por Dom Antônio Maria Alves de Siqueira, em São Paulo, dia 22 de maio de 1948 e Diácono por Dom Paulo Rolim Loureiro, aos 18 de setembro do mesmo ano. Recebeu a Ordenação Sacerdotal pela imposição das mãos de Dom Paulo Rolim Loureiro, em São Paulo, aos 18 de dezembro de 1949.
Professor em Mococa e Piracicaba
Concluídos os estudos em 1950, foi transferido para o convento São José, Mococa, como professor de Português no curso filosófico.
Foi preciso interromper o magistério em 1951 para auxiliar o Pároco em Santo André, na paróquia Santo Antônio de Vila Alpina. Em janeiro de 1952, recebeu transferência para o Seminário São Fidélis de Piracicaba, especialmente como professor de Português. Aí lecionou por três anos. Com a transferência dos dois últimos anos de seminário para Mococa, em 1955, Frei Marcelino foi transferido e nomeado professor no Seminário São José, Vice-Diretor dos Estudantes de Filosofia e Delegado da OFS (Ordem Franciscana Secular), em Mococa. De 1955 a 1957, foi professor de Português, Literatura Pátria, Francês, Canto Gregoriano, Teatro e outras disciplinas naquele convento e seminário.
Santo André, Penápolis, Botucatu e Mococa
A partir de 1958, livre do magistério, pertenceu às seguintes fraternidades: Santo André (1958-1959 e 1963). Penápolis (1960-1961 e 1973-1975), Botucatu (1962, 1964-1972, 1976-1977), Mococa (1973). Cargos ocupados nessas Fraternidades: Vice-Superior, Delegado Distrital da OFS, Vigário Paroquial (auxiliar do Pároco), pregador e confessor. Em Penápolis mereceu alta consideração pelos seus debates apologéticos na Emissora de Rádio local com o Pastor Barbosa da Igreja Evangélica.
Com os Capuchinhos da Amazônia
Aos 13 de abril de 1975 partiu para Alto Solimões-AM. Naquela região trabalham os missionários da Vice-Província dos Capuchinhos de Manaus, filhos da Província Seráfica da Úmbria. Dois missionários Capuchinhos da Província de São Paulo, Frei Ciro e Frei Húmilis já trabalhavam há alguns anos naquela região de Alto Solimões. O governo da Prelazia estava nas mãos de Dom Adalberto Domênico Marzi, capuchinho da mesma Província da Úmbria. No dia da chegada de Frei Marcelino ao Marco Divisório, o Bispo entregou-lhe a paróquia dos Santos Anjos e o nomeou Guardião da pequena comunidade paulista. Em agosto de 1976, voltou de Alto Solimões para Botucatu, pertencendo à Fraternidade do Santuário Nossa Senhora de Lourdes. Aos 22 de maio de 1977 transferiu-se de Botucatu para Manaus. Por dois meses substituíu Pároco em São Paulo de Olivença, Alto Solimões. Depois, em Manaus foi auxiliar na paróquia São Sebastião. A partir de setembro do mesmo ano, Capelão da SPB (Sociedade Portuguesa de Beneficência). Em Manaus permaneceu até 1982, em geral como auxiliar, Secretário do outro Prelado Dom Alcimar Evangelista Magalhães e na substituição de Párocos.
Com os Capuchinhos da Úmbria
No dia 10 de dezembro de 1982, foi agregado à Província da Úmbria, Assis, Itália. Permaneceu em Assis alguns meses para adaptação à nova realidade, indo depois para Spello. Passou oito meses, voltando para Assis. No dia 10 de dezembro de 1985, pediu ao Padre Geral para reintegrar-se novamente, à sua Província de origem, Província dos Capuchinhos de São Paulo. A autorização foi-lhe concedida e ratificada pelo Definitório Provincial no dia 23 de setembro de 1986. De volta a Província de São Paulo, permaneceu em Botucatu até o dia de seu falecimento.
Desenlace
No seu “Diário Autobiográfico, (1945-1987)”, referindo-se aos seus sofrimentos físicos e interiores, assim escreveu: “Esta moléstia medular e suas conseqüências persistem castigando-me sem dó e serão a cruz que deverei carregar, talvez até o desenlace” (pág. 1).
Dia 22 de julho de 1991, Frei Marcelino não estava passando bem. O médico constatou febre, anemia e um abcesso intestinal que precisava de imediata internação e cirurgia. Dia 23 foi internado na Santa Casa de Botucatu e operado às 22 horas. Dia 30 de julho o médico fez outra cirurgia sem anestesia porque ainda havia certas necroses, muita febre e receio de uma colostomia para o resta da vida. Corria o risco de vida. Teve recuperação lenta, com alimentação especial, cuidados de enfermagem e tratamento dia e noite. Pouco mais de um mês depois da última cirurgia, Frei Marcelino faleceu dia 10 de setembro de 1991, em Botucatu, onde foi sepultado.
Crônica pela morte de um poeta
Com Frei Marcelino Fernandes Ruivo morre o poeta, o músico, o comediógrafo, o frade de refinados e inusitados gostos artísticos. A memória que é mais do que uma simples lembrança, evoca a vida … Sim, a vida dos tempos dos Seminários São Fidélis (1952-1954), em Piracicaba, e São José (1955-1957), em Mococa, em que o frade, professor de língua e literatura portuguesas, de francês, o cultor de canto gregoriano e da música popular brasileira contrastava com a pedagogia da educação feita a machado, por suas posturas humanas polidas e um quê de secular incomum.
Frei Marcelino era piedoso sem ranço e cortês sem pedantismo. Cá para mim, alguém maduro que devia conviver num ambiente infantilizado e um cidadão que tinha chegado pelo menos na Revolução Francesa quando o mundo ao seu redor ainda estava na Idade Média. Suas músicas, suas poesias, seus gostos tinham sabor algo excêntrico. Não era entre os alunos o que se podia chamar de popular, mas foi-lhes ensinando a apreciar o folclore brasileiro, a ter gosto pelas nossas coisas, num contexto onde a boa música tinha que ser necessariamente italiana. Informalmente, partindo de músicas didáticas cantadas nas aulas de francês, organizou um coral que não chamava Bach, Palestrina ou São Pio X, mas “coral dos Noitibós” com inequívoco cheiro de coisa brasileira. Nas aulas, lia jornais, revistas, romances, falava de teatro e cinema, para gáudio dos alunos e preocupação de alguns professores que não entendiam bem porque o frade professor de literatura indicava para seminaristas a leitura de “O Guaraní” de José de Alencar e “O Dilúvio” de Senklewcz, além de outras.
Ao iniciar a direção do teatro, em Piracicaba, provocou a reação dos próprios seminaristas, propondo um texto que falava de greves, de operários, de conflitos entre comunistas e católicos. Não era para menos! Teatro sem barões, condes e marqueses; sem capa e espada e sem roubo de criança, é lá teatro que se preze? Aos poucos, porém, já em Mococa a partir de 1955, fomos nos dando conta de que Frei Marcelino tinha uma proposta nova para a atividade teatral no Seminário (exigente e chata para nós acostumados a fazer as coisas de qualquer jeito) que não se contentava com algumas bravatas perpetradas sobre o palco e com alguns textos recitados em tom de sermão. As peças “O Cardeal Primaz”, em 1956, e “O Drama de um Médico”, em 1957, marcaram época, antecipando as mudanças que noutros campos da formação seminarística só viriam acontecer com o Concílio.
Refletindo a distância, tenho a impressão de que Frei Marcelino na época, com seu jeito secular, andava meio na contramão dos costumes fradescos. Com vinte ou trinta anos a menos talvez, hoje ele estaria fazendo pastoral especializada para o meio artístico e situando mais integradamente sua vocação presbiteral e capuchinha.
Numa coisa com certeza Frei Marcelino não foi compreendido: na enfermidade que o acompanhou por toda a vida, resultante de traumatismo de coluna, causado em manobra do serviço militar. Era produto de suas fantasias, dizia-se; coisa de poeta meio louco!
Suas “experiências místicas” dos últimos decênios, verdadeiras ou equivocadas, colocam uma questão que talvez não tenhamos apreendido bem: a experiência do Deus de Jesus Cristo, marca registrada da vida cristã, leiga ou consagrada, atual em qualquer época, ainda hoje, quando a paixão pelos empobrecidos da história deveria levar à paixão pelo Senhor da história, e vice-versa. Talvez não seja mesmo fácil entender que um artista, poeta e apreciador de novelas possa ter experiências místicas! Quem as teria então?
“Bate coração da gente…
toda vez que a gente sente.
Bate ao nascer,
bate quando cresce…
e de bater falece”.
Parou de bater o coração do frade poeta.
Frei Odair Verussa
Obras Publicadas
Melodias Ocultas (1952), São Paulo 1952 (poema), no Jornal de Piracicaba, Sinfonia Franciscana (edição interna), Jogral representado no Embaré, Santos.
Obras não publicadas
Compêndio de Califasia, Compêndio de História da Língua, Compêndio de História da Literatura, Tratado de Poesia, Sarcoma (novela), Teatros, Romances, Poesias e Tratados Espirituais. Várias obras não publicadas estão desaparecidas.
Frei Joaquim Dutra Alves, O.F.M Cap.
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