mar 11, 2014 Air Antunes Ilustrada 0
Quando o poeta e crítico literário Joaquim Osório-Duque Estrada nasceu, em 1870, no município de Vassouras, estado do Rio de Janeiro, os acordes do Hino Nacional Brasileiro, criado pelo músico Francisco Manuel da Silva, já soava em festividades importantes há quase quarenta anos. Apenas em 1909, a letra escrita por Duque Estrada juntou-se à música, depois de escolhida em um concurso. A verdade é que o Hino Nacional Brasileiro tal qual como conhecemos foi criado por uma parceria de autores que nunca se conheceram.
Francisco Manuel era um músico de muito prestígio no Rio de Janeiro, então a capital federal. Estudou com o padre José Maurício Nunes Garcia, um dos maiores nomes da música colonial brasileira, e foi nomeado cantor da Capela Real em 1809, com a chegada da corte portuguesa ao Brasil. Tocava violino, piano e órgão, além de organizar e dirigir conjuntos musicais, e destacou-se também como regente e promotor do ensino organizado de música. Partidário da Revolução de 7 de abril, em 1831, que levou à abdicação de D. Pedro I, Francisco Manuel criou a melodia para comemorar o sucesso da revolta, segundo alguns autores. Outros, mais ufanistas, insistem que a música foi composta na época da Independência, em 1822, para homenagear a nova nação que surgiu na América. O que se sabe com certeza é de que a beleza da composição fez com que, apesar das sucessivas tentativas de substituição, resistisse até hoje como símbolo do país, sobrevivendo a revoltas e revoluções.
Prêmio de consolação
Durante o século 19, a música do compositor carioca ganhou algumas letras, que não foram bem recebidas. A primeira delas era um poema do desembargador Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, considerado ofensivo pelos portugueses. “Os bronzes da tirania / Já no Brasil não rouquejam / Os monstros que a escravizam / Já entre nós não vicejam. / Do Amazonas / Até o Prata. Em 1841, para comemorar a coroação de Dom Pedro II, tentaram-se novos versos, que também não empolgaram, e a música, sem letra, passou a ser considerada o Hino do Império e tocada em solenidades oficiais.
Com a ruptura política, provocada pela Proclamação da República, a idéia era adotar um novo hino nacional. O primeiro presidente , marechal Deodoro da Fonseca, propôs um concurso , ao qual 29 autores se candidataram. Para a finalíssima , no Teatro Santana, classificaram-se quatro compositores: Antônio Francisco Braga, Jerônimo de Queirós, Alberto Nepomuceno e Leopoldo Miguez. Uma orquestra de 70 músicos, regida pelo maestro Carlos de Mesquita, encarregou-se das audições, sendo vencedora a música de Leopoldo Miguez. No entanto, o presidente baixou um decreto, conservando a melodia de Francisco Manuel da Silva como hino nacional. Como prêmio de consolação, a canção do maestro Miguez foi incorporada ao Hino da Proclamação da República, musicando os versos de Medeiros de Albuquerque: “Liberdade, Liberdade/ Abre as asas sobre nós/ Das lutas na tempestade/ Dá que ouçamos tua voz”. No entanto, o problema continuava. O Brasil tinha um hino nacional sem letra.
Talento precoce
Um ano antes do advento da República em 1889, Duque Estrada formara-se em Letras no Colégio Imperial D. Pedro II, onde estudou humanidades. Com 17 anos, já havia publicado o seu primeiro livro de poesias, Alvéolo, que recebeu crítica favorável de Silvio Romero, impressionado com o talento do rapaz. Mas sua enorme habilidade só seria imortalizada anos depois.
Em 1906 , o deputado federal e escritor Coelho Neto subiu à tribuna da Câmara para reclamar um poema digno para o Hino Nacional. Dois anos depois, aberto o concurso para escolher a melhor letra, o então jornalista e crítico literário Duque-Estrada enxergou a oportunidade que se abria e se inscreveu na competição.. Após vencer o concurso, com cinco contos de réis no bolso- metade do valor de um automóvel da época-, continuou a lançar obras poéticas e a escrever artigos para o jornal Correio da Manhã. Em 1915, foi eleito para a cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras (ABL), na vaga de Sílvio Romero, aquele mesmo que o elogiara anos antes, sendo recepcionado por um discurso caloroso de Coelho Neto.
Até então, o Hino Nacional ainda não tinha sido oficializado. Para encaixar perfeitamente os versos na música, Duque-Estrada teve de fazer algumas modificações e o hino só ganhou status de símbolo nacional oficial às vésperas do centenário da Independência, em agosto de 1922, com um decreto do presidente Epitácio Pessoa. É realmente um dos hinos mais bonitos do mundo”, afirmou Carlos Nejar, poeta e membro da ABL, durante seminário que comemorou os 100 anos da letra do Hino Nacional Brasileiro, no Teatro CIEE, em São Paulo, no dia 7 de maio de 2009.
Dupla dificuldade
Apesar da beleza quase inquestionável do hino, existem críticas que apontam cacófatos (como no trecho heróico brado) e a utilização demasiada da inversão das frases no velho estilo camoniano, que dificulta a compreensão da letra.
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