mar 18, 2014 Air Antunes Ilustrada 0
A tese de que os roqueiros são mais inteligentes foi comprovada em pesquisa feita pela University of Warwick, da Inglaterra. Concluiu-se que os jovens mais inteligentes ouvem rock and roll para lidar com as pressões associadas a serem talentosos. Existe no imaginário popular uma idéia de que o rock determina sinal de delinquência e pouca habilidade acadêmica, no entanto a pesquisa da universidade inglesa concluiu que jovens roqueiros surgem rotineiramente como pessoas brilhantes e talentosas.
Sexo, drogas e rock and roll, esta relação que se tornou jargão popular surgiu por conta da década de 1960, principalmente, quando o gênero esteve muito atrelado ao ativismo político, quando ídolos do rock embandeiraram reação anti-guerra, anti-ditaduras, anti-censura. Naquela época , como o rock imperava como força contrária ao conservadorismo, seus ídolos ficaram muito expostos numa mídia que vasculhava profundamente a vida deles, e então se sabia que muitos usavam drogra . Mas isso não significava que a droga fosse uma exclusividade de roqueiros. O próprio líder dos Rolling Stones, Mick Jagger, disse que naquela época na Europa e nos Estados Unidos, principalmente, era quase inevitável estar distante das drogas, em especial o jovem que vivia da música. Por conta daquilo tudo há quem credite a todo roqueiro a sina de viciado em drogas. E assim, o mundo do rock passou para muitos, a ser etiquetado como universo de irresponsávels e de delinquentes, o que é um grande erro.
Na prática, no próprio mundo do rock, alguns roqueiros são exemplos de que o gênero em questão é o que mais possui representantes na orla acadêmica, como podemos elencar na sequência:
*Bryan Keith Holland, vocalista da banda de rock californiana Offspring, é mestre em biologia molecular.
*Thomas Baptist Morello, o Tom Morello, compositor das músicas da banda Rage Against The Machine, é formada em Ciência Política, em Harvard. Inclusive as letras da banda refletem bem o academicismo de Morello.
*Freddie Mercury tinha formação superior em Design Gráfico.
*Bryan May, guitarrista do Queen formou-se em Ciências Físicas e Matemática Imperial, em Londres. Em 2007 ele concluiu seu doutorado em astronomia.
*Todos os membros da banda de rock brasileiro Engenheiros do Havaí, são formados em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Humberto Gessing (vocal) e Carlos Maltz (baterista) montaram a banda durante uma greve de professores. O nome da banda é uma piada sobre o estilo dos arquitetos.
*Arnaldo Antunes, hoje mais atuante na MPB, um dos criadores da abanda de rock Titãs, estudou Linguística na Faculdade de Letras da USP, e então não é novidade algum neste detalhe, atrelado a seu talento natural, ser atualmente um dos principais letristas da música brasileira.
* John Lennon era formado em Artes Gráficas pelo Liverpool Institute of Arts, de Liverpool.
*Greg Graffin, do Bad Religion, que também gravou dois álbuns solos, formou-se em Antropologia e Geologia na Universidade da California, e concluiu doutorado em palenteologia evolucionária na Cornell University.
*Rivers Cuomo, vocalista da Weezer, graduou-se em PHI Beta Kappa,como bacharel em Artes. Estudou também Letras na universidade de Harvard, mas abandonou o curso no final para se dedicar à banda.
*Bruce Dickinson, líder do Iron Maiden, além de piloto de avião, é historiador. Em 2011 ele recebeu título Honoris de doutorado pela Universidade Queen Mary College, de Londres, pela sua contribuição à indústria musical.
*Dave Rowntree e Alex Jones, baixista e baterista, respectivamente, da banda inglesa Blur, parciparam da missão especial Beagle 2 (missão da Inglaterra para buscar sinais de vida em Marte). Dave formou-se em Ciências de Computação na Politécnica de Thames. Alex é astrofísico e trabalha com o Departamento de Astrofísica na conceituada Universidade de Oxford.
Matéria do jornal O Estadão de 2011 discorreu sobre este detalhe. Vale transcrevê-la na íntegra:
Marcelo Moreira
Por mais preconceituoso que seja, não dá para fugir: a forma como a pessoa fala, se veste, age, trabalha, dirige e muitas coisas mais dizem muito sobre o indivíduo. Dá para julgar cada um por esse tipo de coisa? Cada um avalie da forma como achar melhor.Da mesma forma, os hábitos culturais – os livros que lê, a música que ouve, os eventos frequenta – também dizem bastante sobre as pessoas. Existe a chance de se errar por completo, mas faz parte do jogo.
Dois fatos importantes, apesar de corriqueiros, mostram que os apreciadores de rock podem ter esperança de dias melhores, apesar dos casos recorrentes de preconceito explícito e perseguição por conta do gosto pessoal em pleno século XXI – algumas dessas excrescências têm sido narradas aqui em textos no Combate Rock.
No começo de agosto um gerente de uma grande multinacional instalada no ABC (Grande São Paulo) penava para contratar um estagiário para a área de contabilidade e administração. Analisou diversos currículos e entrevistou 24 jovens ainda na faculdade ou egressos de cursos técnicos.
Conversou com todo o tipo de gente, do mais certinho ao mais despojado, do mais conservador à mais desinibida e modernosa. Preconceitos à parte, procurou focar apenas a questão técnica e os conhecimentos exigidos.
Alguns candidatos até possuíam a maioria dos requisitos exigidos, mas acabaram desclassificados em um quesito fundamental para o gerente: informação geral, que inclui hábitos culturais.
O escolhido foi um rapaz de 20 anos, o penúltimo a ser escolhido. Bem vestido, mas de forma casual, usando rabo de cavalo, mostrou segurança e certa descontração, além de bom vocabulário e de se expressar de forma razoável, bem acima da média.
Durante as perguntas, o gestor observou que o garoto segurava um livro e carregava um iPod. O livro era a biografia de Eric Clapton. Após a quinta pergunta, direcionou a conversa para conhecimentos gerais e percebeu que o rapaz lia jornais e se interessava pelo noticiário.
“Você gosta de rock?”, perguntou o gerente. “Sim, e de jazz também”, respondeu o garoto. O entrevistador não se conteve e indagou se o rapaz se importava de mostrar o que o iPod continha. E viu um gosto eclético dentro do próprio rock: havia muita coisa de Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC, mas também de Miles Davis e big bands.
“Não aprecio rock, não suporto o que minhas filhas ouvem, mesmo seja Rolling Stones, meu negócio é Mozart, Bach e música erudita. Mas uma coisa eu aprendi nas empresas em que passei e nos processos seletivos que coordenei: quem gosta de rock geralmente é um profissional mais antenado, que costuma ler mais do que a média porque se interessa pelos artistas do estilo. Geralmente são mais bem informados sobre o que acontece no mundo e respondem bem no trabalho quando são contratados. Nunca me arrependi ao levar em consideração também esse critério”, diz o gerente.
O resultado é que o garoto foi contratado após 15 minutos de conversa, enquanto cada entrevista com os outros candidatos durava 40 minutos. “Não tive dúvida alguma ao contratá-lo. E o mais interessante disso: percebo que essa é uma tendência em parte do mercado há pelo menos três anos, pois converso muito com amigos de outras empresas e esse tipo de critério está bastante disseminado. Quem gosta de rock é ao menos diferenciado”, finalizou o gestor.
Já em uma escola particular da zona oeste de São Paulo, do tipo mais alternativo e liberal, o trabalho de conclusão do ensino médio era uma espécie de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) das faculdades. A diferença é que, para não ter essa carga de responsabilidade, foi criado uma espécie de concurso para premiar algumas categorias de trabalhos – profundidade do tema, ousadia, importância social e mais alguns critérios.
O vencedor geral foi o de uma menina esperta de 17 anos, filha de um jornalista pouco chegado ao rock, mas com bom gosto para ouvir jazz e blues. O trabalho tentava traduzir para a garotada a importância dos Beatles para a música popular do século XX.
Para isso realizou uma ampla pesquisa sobre as origens do blues, do jazz, da country music norte-americana e traçou um panorama completo da evolução do rock desde os primórdios até os megashows de Rush, AC/DC, U2 e Metallica. Seu trabalho contou ainda com a defesa de uma tese em frente a uma banca de professores.
O resultado é que, além do prêmio principal – placa de prata e uma quantia em dinheiro em forma de vale para ser gasto em uma livraria –, acabou sendo agraciada com a proposta de transformar seu trabalho em um pequeno livro, bancado pela escola. Detalhe: a reivindicação partiu dos colegas da menina, que ficaram fascinados com a história do rock – poucos deles eram íntimos do gênero, pelo que o pai da menina me contou.
Os Beatles foram o ponto de partida para uma aluna de um colégio paulistano para traçar um panorama extenso e completo sobre a história do rock; o trabalho ganhou prêmio e vai se transformar em livro
Seria um flagrante exagero afirmar que gostar de rock facilita a obtenção de emprego ou estágio – ou que quem gosta de rock é muito melhor aluno do que os outros nas escolas. Mas o simples fato de haver reconhecimento de que apreciar rock frequentemente leva a uma situação diferenciada já é um alento diante dos seguidos casos de intolerância e preconceito.
Gostar de rock não torna ninguém melhor ou pior, mais ou menos competente, mais ou menos inteligente. Mas os casos acima mostram que o roqueiro pode se beneficiar de situações em que é possível se mostrar diferenciado, mostrando uma cultura geral acima da média e mais versatilidade no campo profissional. E o que é melhor, isso começa a ser reconhecido por um parte do mercado.
Bom gosto não se discute: adquire-se.
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