jul 11, 2014 Air Antunes Artigos 2
A Igreja Católica chegou dividida ao golpe de 1964. De um lado, os movimentos da Ação Católica. Do outro, as Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade.
LUIZ ALBERTO GOMÉZ DE SOUSA
A Igreja Católica chegou dividida ao golpe de 1964, há meio século. De um lado, os movimentos da Ação Católica especializada, comprometidos com o testemunho evangélico na transformação da sociedade. Cristãos estiveram presentes na cultura popular, como no Movimento de Educação de Base (MEB), no Movimento Popular de Cultura (MPC) do Recife, na Campanha de Educação Popular (CEPLAR) da Paraíba, entre outros. A experiência alfabetizadora de Paulo Freire, também com forte presença de cristãos, espalhou-se pelo país. Em 30 de abril de 1963, a Comissão Central da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pedira reformas urgentes na sociedade: “nossa ordem é, ainda, viciada pela pesada carga de uma tradição capitalista … na qual o poder econômico, o dinheiro, ainda detêm a última instância das decisões econômicas, políticas e sociais”. E retomava as sugestões de “reformas de base”, lançadas pelo governo.
Do outro lado, vieram as Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade. Em São Paulo, dia 19 de março de 1964, quinhentas mil pessoas desfilaram preparando o golpe, entre as quais um bom número de cristãos e cristãs (as marchadeiras). Ali falou o senador Padre Calazans: ”Hoje é o dia de São José, padroeiro da família … Fidel Castro é o padroeiro de Brizola”. E o deputado Padre Pedro Vidigal anunciara meses antes, que era preciso substituir o “amai-vos uns aos outros”, por “armai-vos uns aos outros” (Élio Gaspari, A ditadura escancarada, p. 236-238). Logo depois, em 2 de abril, no Rio, vitorioso o golpe, realizou-se a Marcha da Vitória, com o apoio do Cardeal Jayme de Barros Câmara.
Um primeiro momento, de 64 a 68, foi o que o dominicano francês Charles Antoine chamou: “a Igreja na corda bamba”. Dia 13 de abril, na posse de D. Hélder Câmara como arcebispo de Olinda e Recife, este declarou que, não se podia confundir a ordem, “com contrafações suas, responsáveis pela manutenção de estruturas que todos reconhecem não poder ser mantidas”. E bispos ali presentes denunciaram as primeiras arbitrariedades. Entretanto, em direção oposta, um surpreendente comunicado da CNBB, de 27 de maio, agradecia “aos militares, que, com grave risco de suas vidas (sic) se levantaram e… concorreram para libertarem (a nação) do abismo iminente”. No mesmo momento, pela operação “arrastão”, cerca de 300 leigos e clérigos, estavam na prisão (Thomas Bruneau). Chegaram os tempos valentes do leigo Alceu Amoroso Lima, em artigos memoráveis, como Terrorismo cultural, de 7 de maio, criticando demissões de brasileiros ilustres e prisões entre as quais a minha. Mereceu um telefonema do próprio presidente Castello Branco, que o declarou mal informado! Mas vieram logo outros valentes textos, como aquele que denunciava um “Primarismo cultural”.
Pior ainda, lideranças populares foram mortas logo depois do golpe, como Pedro Fazendeiro, saudoso paraibano que me introduziu, em 1963, na Liga Camponesa de Sapé, em Miriri, jogado vivo num forno aceso depois de bárbaras torturas. E os mandantes e executores do crime, certamente se declaravam defensores da civilização cristã, a defender-se de um perigoso comunista.
Um segundo momento, vai de 1968 – ano, ao mesmo tempo, do AI-5 no Brasil e da reunião dos bispos latino-americanos em Medellín -, até 1979 – ano da anistia conquistada entre nós e da reunião episcopal de Puebla, com a opção preferencial pelos pobres. Sociedade em cativeiro e forte dinamismo eclesial. Em meio a ditaduras, foram anos gloriosos em parte significativa da Igreja Católica na América Latina, que passou a ser a “voz dos sem voz”.
Surgiu, no Brasil, em 1972, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e, em 1975, a Comissão da Pastoral da Terra (CPT), importantes espaços de compromisso. Cresceram pelo país as Comunidades Eclesiais de Base (as CEBs). Era o tempo fecundo das pastorais sociais operária, da juventude…). Já em 1968, o bispo D. Cândido Padin denunciara a doutrina da segurança nacional dos militares como antievangélica.
Chegaram terríveis anos de perseguições, assassinatos como do Pe. Henrique Pereira Neto no Recife, Pe. Josimo Tavares em Emperatriz, Pe. João Bosco Bournier em Ribeirão Bonito, os leigos Santos Dias em São Paulo, Margarida Alves na Paraíba. Vários frades dominicanos foram presos e alguns terrivelmente torturados. Um deles, Frei Tito de Alencar, introjetou de tal maneira a terrível figura do delegado Fleury, que se matou, em 1974, na França.
Além de D. Hélder e de vários bispos valentes, como D. Tomás Balduíno, que acaba de partir, foi marcante a presença de D. Paulo Evaristo Arns que, desassombrado, denunciou prisões e torturas. Em contrapartida, D. Sigaud, bispo de Diamantina, declarou, durante o Concílio, com terrível tranquilidade: “se há violência é só durante os interrogatórios”. Ele, aliás, dissera, sem pestanejar: “confissões não se conseguem com bombons” (Della Cava, A Igreja em flagrante, 1964-1980, p. 149). O Cardeal Agnelo Rossi, em Roma, negava que houvesse torturas. Mas era o tempo das Comissões Justiça e Paz da Igreja desocultarem o arbítrio absurdo.
Um terceiro momento vai de 1979, com a lei da anistia e de uma lenta abertura no país. Mas aqui se dá uma inversão. Distensão na sociedade, rigidez na cúpula do mundo eclesiástico internacional, no que o saudoso Padre João Batista Libânio chamou: “inverno na Igreja: os anos oitenta”. Foram publicadas duas Instruções do cardeal Ratzinger, críticas à Teologia da Libertação (1984 e 1986) e foi imposto o silêncio obsequioso a Leonardo Boff (1985) e a Ivone Gebara (1990). O teólogo jesuíta uruguaio, Juan Luís Segundo, assinalava, num livro-resposta ao cardeal Ratzinger, futuro Bento XVI, que a primeira Instrução fora “conduzida por uma grande dose de ressentimento … por uma teologia dependente de uma política sem esperança”. Porém, nas igrejas locais, seguia o compromisso evangélico. E a CNBB, com os primos Aloísio Lorcheider (1971-1978) e Ivo Lorscheiter (1975-1986) e, depois, Luciano Mendes de Almeida (1979-1995), na linha de Medellín e de Puebla, publicou documentos marcantes como “Exigências cristãs de uma ordem política” (1977) e outro, em 1979, em que denunciava que “os ricos ficam cada vez mais ricos, à custa dos pobres que ficam cada vez mais pobres”. A Igreja brasileira, nas suas bases, vivia tempos de testemunho e de ousadia.
Uma nota contrastante nos tempos atuais. Essa Igreja que, na esfera eclesiástica, fora valente na tribulação, nos últimos anos, no Brasil, ao contrário de alguns episcopados, não parece muito visível para refletir com coragem sobre transformações internas (fim do celibato obrigatório, ordenação de homens casados e mulheres) e abrir caminhos de libertação em áreas como da ética sexual e das novas dimensões da família e do matrimônio, estes últimos temas, aliás, do próximo sínodo da Igreja Católica em outubro. Há um preocupante silêncio e boa dose de vôos rasteiros. Onde está aquela Igreja dos grandes padres latino-americanos, que assinalara o teólogo belga Joseph Comblin? É verdade que o bispo Erwin Krautler levantou algum desses temas diante de Francisco. E temos ainda entre nós Pedro Casaldáliga ou José Maria Pires. Alguns teólogos, ligados ao poder clerical, se encerram em medrosa autocensura. Mas outros, pelo mundo, como o indu Michael Amaladoss, o alemão Hans Küng ou o italiano Vito Mancuso, arrostam as fúrias da Congregação da Doutrina da Fé, ex-Santo Ofício, que ainda teima em sobreviver. A omissão é tanto mais grave quando, nos tempos de Francisco, bispo de Roma, uma nova primavera parece, aos poucos, permitir e exigir posições fortes e proféticas.
Luiz Alberto Gómez de Sousa é diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião, Universidade Candido Mendes.
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MEGA-SOLUÇÃO SIM, OPOSICÃO NÃO. VC NÃO É A MAMÃE. MEGA-SOLUÇÃO, EVOLUÇÃO, É O NOME DA MUDANÇA DE VERDADE PELA QUAL O POVO BRASILEIRO,QUE VIROU LEÃO, CONTINUA RUGINDO NAS RUAS E NAS PESQUISAS. Mega-Solução sim, oposição não, é o recado claro, objetivo e direto das ruas e das pesquisas. Portanto, na moral, a oposição não leva, e, por conseguinte, o PSDEMB, agregados e CIA não voltam ao comando do poder central da república, mas nem pintados de ouro, e nem transformando a situação no Monstro do Lago Ness, ou da Lagoa Rodrigo de Freitas que o Cony vê todos os dias da janela do seu AP (e que continue vendo por muitos anos), em que pese o poder de fogo e a forçação de barra, até temerária, de alguns setores da mídia que, infelizmente, já chegaram às raiais da loucura contra a situação e o próprio país em prol dos seus pupilos, aprontando toda sorte de malabarismos e contorcionismos em favor dos mesmos que, em tudo e por tudo, são comprovadamente piores do que aqueles cujos lugares estão querendo tomar, na cara dura, à moda penetras temporais, querendo ser “os reis do camarote”, sem justa causa, sem bom senso, sem projeto novo e alternativo à população apreciar e julgar nas urnas, quase que à força, sendo nesse contexto até patético o editorial de hoje do jornal FSP, sob o título “ A força da rejeição”, tentando na mão grande puxar as brasas para as sardinhas dos seus, porém com o desfecho contraditório que desmente todo o seu conteúdo e prova o acerto da nossa missiva acima sobre os fatos, a saber: “ Em suma, mesmo que os oposicionistas ainda não tenham conseguido entusiasmar o eleitorado, parece cada vez mais sólida a fatia dos que, acima de tudo, pretendem negar um segundo mandato a Dilma Rousseff. “ E, a bem da verdade, na moral, jamais os oposicionistas conseguirão entusiasmar o eleitorado isento, porque, a partir do meio político que sabe das coisas, passando pelo meio do povo que enxerga e sente as coisas, representam apenas favas contadas, bilhetes já corridos, bananeiras que já deram os seus cachos, farinhas do mesmo saco, na qual, todos sabemos, face ao adiantado da hora, não vale a pena apostar as nossas últimas fichas, porque, na melhor das hipóteses, seriam apenas mais dos mesmos, piorados. Mudanças de verdade: sérias, estruturais e profundas, é isso que o povo brasileiro está querendo, e é disso que o veio gosta, e que, à evidência, passam ao largo da oposicão do “quanto pior, melhor”, que assim agindo tornou-se inviável e até nefasta para um país cujo povo que, em Junho de 2013, conseguiu ouvir o canto da Cotovia, quer e necessita, isto sim, encontrar-se com a Mega-Solução. HMM-RPL-PNBC-ME, Saudação. “Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova.” Mahatma Gandhi
MERITOCRACIA ELEITORAL É DEMOCRACIA DIRETA, É ACESSO E PARTICPAÇÃO DIRETA DA POPOPULAÇÃO AOS CARGOS DIRIGENTES DA UNIÃO, ESTADOS E MUNICÍPIOS. A nosso ver, para libertarmos a vaca salomé ( os erários), de modo a sobrar dinheiro para aplicarmos em educação, saúde, segurança, desenvolvimento, qualidade de vida, e bem-estar social, p. ex., temos que acabar com a cupinzeira, os carrapatos e cia, gerados pelo gollpismo-ditatorial e o partidarismo-elleitoral, velhacos, e o único jeito que temos é instituir a Democracia Direta, com a Meritocacria Eleitoral, participação direta da sociedade, colocando todos os que sonham com boquinhas em todos os erários, federal, estadual e municipal, no banquinho do concurso público padrão, em absoluta condições de igualdade, sem distinção, abolindo o dinheiro da competição como o dito cujo é hoje senhor das eleições e patrão dos eleitos, selecionando-os, doravante, pela capacidade e méritos, merecimento, apostando as nossas últimas fichas naqueles que, desde crianças, se deram ao trabalho de trilhar o caminho mais difícil da escola, da educação, da instrução, do conhecimento, da sabedoria, da conscientização e da evolução, de modo que não seja necessário e não tenham motivo algum para venderem a alma ao diabo, ou fazerem os diabos, por causa de uma eleição, exterminando assim os dois demônios que, no Brasil, estão nos levando à loucura, que são o gollpismo-ditatorial e o partidarismo-elleitoral, velhacos, face aos quais neste pais tudo começa ou termina em politicalha-partidária-elleitoral, ou gollpe, que há pelo menos 125 anos divide, fragmenta, rivaliza, acirra e inimiza o conjunto da sociedade, infiltrados, usando e manipulando tudo, tornando as nossas vidas um inferno, face à guerra tribal primitiva dos mesmo pelo poder, sintetizada no velho “quanto pior, melhor”, o tempo todo, a vida toda, obrigando-nos a tomar partido, ficar marcado, ser perseguido e alvejado por todos os lados, impondo-nos todos os ônus enquanto elles, “os bonitos”, ficam com todos os bônus e no bem bom, e os otários com contas a pagar a sumir de vista, acossados por toda sorte de inimigos e predadores, sob o efeito da ilusão de que isso é Democracia. BASTA.