mar 26, 2014 Air Antunes Artigos 3
CAIO TOLEDO
Aos que partiram sem poder dizer adeus.
Na data em que o imaginário popular consagra como o “dia da mentira”, 49 anos atrás era rompida a legalidade democrática instituída no Brasil com a Constituição de 1946. Hoje, a quase totalidade das entidades da sociedade civil (de empresários industriais e rurais, de banqueiros, de grupos religiosos e culturais, da grande imprensa etc.) que conspirou, endossou e promoveu a derrubada do governo democrático de João Goulart (1961-1964) não festejará o golpe civil-militar de 1964. Nestes dias, na grande imprensa brasileira que apoiou o golpe de 1964 (e, por alguns anos, atuou como aparelho ideológico da ditadura militar) – entre eles, os jornais O Globo, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil –, nenhum editorial será publicado para render homenagem à ação dos militares golpistas. (Nem mesmo, a Folha de S. Paulo se atreverá a afirmar, como fez em seu editorial de 17/02/2009, que o regime de 1964 – comparado com as ditaduras da Argentina e do Chile – teria sido uma “ditabranda”…)
Provavelmente, apenas alguns reduzidos setores das Forças Armadas – em especial, os oficiais da reserva –, promoverão, em recintos fechados, encontros para lembrar a “Revolução redentora” de 31 de março de 1964. O fato é que nem mesmo blogueiros porta-vozes da direita civil brasileira – entre eles, alguns jornalistas de Veja, O Globo, Estadão etc. –, evocarão essa data como o dia em que a democracia brasileira teria sido salva da “corrupção”, da “subversão política” e da “ameaça comunista”.
Pode ser afirmado que na “guerra de narrativas” sobre o significado e a natureza deste crucial evento da história política brasileira, os “vitoriosos de abril”, gradativamente, tornaram-se os “perdedores” da luta ideológica. Hoje, as representações políticas e simbólicas dominantes nos meios editoriais, políticos e culturais consagram que 1964 não foi uma Revolução, mas um movimento golpista; ou seja, 1964 foi (a) um golpe que impediu a ampliação da democracia política brasileira nos anos 1960; (b) um golpe contra as reformas sociais e políticas e (c) um golpe contra a politização dos trabalhadores e o promissor debate de ideias que, de norte a sul, intensamente ocorria do país no pré-1964.
Em síntese, hoje, prevalece a compreensão de que nos “tempos de Goulart as classes dominantes (nacionais e internacionais) e seus aparelhos ideológicos e repressivos” – diante das iniciativas e reivindicações dos trabalhadores (das zonas rurais e urbanas) e de setores das camadas médias –, alardeavam a “subversão da lei e da ordem”, a “quebra da disciplina e hierarquia” dentro das Forças Armadas, a “crise de autoridade” do governo Goulart e, de forma ainda mais dramática, a “comunização do país”. Convenhamos que, por vezes expressas através duma retórica “radical” (“reformas na lei ou na marra”, “forca aos gorilas!” etc.), as reivindicações por mudanças socioeconômicas e as demandas políticas da época visavam, fundamentalmente, o alargamento da democracia política e a realização de reformas no capitalismo brasileiro.
Contra algumas formulações “revisionistas” que, hoje, insinuam “tendências golpistas” por parte do governo João Goulart ou das “esquerdas radicais”, devemos enfatizar que quem planejou, articulou e desencadeou o golpe contra a democracia política foi a alta hierarquia das Forças Armadas – incentivada e respaldada pelo empresariado (industrial, rural, financeiro, grande imprensa e empresas multinacionais) – bem como alguns setores das classes médias brasileiras (entidades e associações femininas católicas, de pequenos comerciantes etc.) Está amplamente documentado que, desde 1961 – antes, pois, da chamada “agitação” ou “subversão” das esquerdas –, alguns desses setores começaram a se organizar política e ideologicamente para inviabilizar o governo João Goulart. A ampla mobilização democrática pelas reformas sociais e políticas, apoiada pelo executivo, teve como efeito a ampliação da conspiração civil-militar e o amadurecimento da decisão dos golpistas de decretar o fim do regime político de 1946.
Destruindo as organizações políticas e reprimindo os movimentos sociais de esquerda e progressistas, o golpe foi saudado pelas associações representativas do conjunto das classes dominantes, pela alta cúpula da Igreja católica, pelos grandes meios de comunicação etc. como uma autêntica “Revolução redentora”. Por sua vez, a administração norte-americana de Lyndon Johnson (1963-1969) – que ficou poupada de fornecer o apoio bélico e logístico aos golpistas –, congratulou-se com os militares e civis brasileiros pela rapidez e eficácia da “ação revolucionária”. Para satisfação do Pentágono, da CIA, da Embaixada norte-americana, das empresas multinacionais e do Vaticano, uma “grandiosa Cuba” ao sul do Equador tinha sido evitada!
Embora fosse visto positivamente pelos trabalhadores, pelas baixas classes médias e suas entidades políticas, o governo João Goulart ruiu como um “castelo de areia”. Dois de seus principais pilares de apoio, como apregoavam os setores nacionalistas, mostraram ser autênticas “peças de ficção”. De um lado, o propalado “dispositivo militar” que seria comandado pelos chamados “generais do povo”; de outro, o chamado “quarto poder” que estaria representado pelo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). A rigor, ambos assistiram, passivamente, a queda inglória de um governo a quem juravam, até 24 horas antes, fidelidade até a morte!
Desorganizadas e fragmentadas, as entidades progressistas e de esquerda – muitas delas subordinadas ou tuteladas pelo governo Goulart – não ofereceram qualquer resistência à quartelada militar. Sabe-se que, às vésperas de abril, algumas lideranças de esquerda afirmavam que os golpistas, caso atrevessem quebrar a ordem constitucional, teriam as “cabeças cortadas”. Mas, como mostraram os “duros fatos da vida”, tudo não passava de uma trágica e cortante metáfora. Com a ação dos “vitoriosos de abril”, a retórica, no entanto, tornou-se, após 1º. de abril, uma cruel realidade para muitos homens e mulheres durante os longos e sombrios 21 anos da ditadura militar.
49 anos depois, nada há, pois, a comemorar. O golpe de 1964 foi um infausto acontecimento, pois implicou efeitos perversos e nefastos ao processo de desenvolvimento econômico, político e cultural do Brasil (que, sabemos, ainda se refletem nos tempos presentes). Decorridos 49 anos do golpe, o conjunto da sociedade brasileira repudia a data; no entanto, os democratas progressistas não podem se contentar com a derrota que os golpistas sofreram no plano ideológico e cultural.
Neste sentido, os progressistas não podem se calar diante da realidade de que o regime democrático vigente no Brasil ainda não fez plena justiça às vítimas da ditadura militar; devem, pois, se empenhar com todas suas forças e inteligência para que a verdade sobre os fatos ocorridos entre 1964 e 1985 seja plenamente conhecida. Tendo em vista que o “direito à justiça” e o “direito à verdade” são condições e pressupostos de um regime democrático, não se pode senão concluir que a democracia política no Brasil contemporâneo não é ainda uma realidade sólida e consistente.
Caio Toledo é professor aposentado da Unicamp. Graduado em filosofia pela USP em 1968 e doutor pela UNESP em 1974, atualmente integra o comitê editorial do blog marxismo21. Organizou, entre outros, 1964: visões críticas do golpe – democracia e reformas no populismo.
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nov 12, 2023 0
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“Lula alerta: ‘aumenta o conservadorismo no País” Lula tem razão. Não se faz mais conservadores como e quanto antigamente. Antes, de conservadores, tínhamos apenas a turma da famigerada ditadura, agregados, financiadores e dependentes. Agora temos tb PT, PMDB, PSB e o PSDB, entre todos os outros, jogando no time dos conservadores, tendo FHC e Lula como grandes capitães dos mesmos. Aliás, até o “jovem” PSOL tb já se alistou no regimento de cavalaria do conservadorismo com o seu pré-candidato à presidência dizendo que, se eleito, não fará outra coisa senão cumprir à risca a Constituição que aí está desde de 1988, já remendada à beça, e até desmoralizada com a tal reeleição que tornou pior o que já era muito ruim, parecendo até uma nova colcha de retalhos.
É impressionante como FHC fala, fala e fala, ocupa todos os espaços, mas não consegue dizer nada de novo de verdade. O quê será que as Forças Armadas atuais têm a ver com as loucuras de alguns psicopatas das Forças Armadas do passado que se deixaram levar pelas loucuras de outros psicopatas civis, velhacos, bandidos e até assassinos, que acabaram contaminando, envenenando e até mudando a cor dos rebanhos de ambos os lados ? Ademais, sob o teto do Estado Democrático de Direito, Forças Armadas que não vivem para servir à vontade da maioria da população enquanto expressão máxima do Estado Democrático de Direito não servem para viver e devem ser extintas. Aliás,neste aspecto,o silêncio das Forças Armadas atuais em si mesmo já é uma confissão e já fala tudo por si só:” nada temos a ver com as loucuras do passado,parem com isso, somos fiéis guardiões do Estado Democrático de Direito, queremos vida nova.Urge virarmos essa página infeliz da nossa história, pelo amor de Deus”. AMéM. “É como diz o HoMeM do Mapa da Mina: ‘ Exceto Deus, ninguém segura o Brasil. Nascemos para ser o número 1 (um) do mundo, e vamos chegar lá, principalmente em termos de IDH, porque, com a RPL-PNBC-ME, o Brasil pode mais, muito mais’. Que venha então o HoMeM e a Mega-Solução, da paz, do amor, do perdão, da conciliação, da união, da mobilização e do quanto melhor, melhor. E xô partidarismo-elleitoral e gollpismo-ditatorial velhacos, superados, caducos, trapalhões, briguentos, cheios de ódio, maldade e vingança em seus corações, peçonhentos, que só sabem praticar o quanto pior, melhor, e, com isso, só atrapalham a vida do Brasil e do povo brasileiro que quer e precisa evoluir. Chega dos mesmos. Que venha o HoMeM e a Mega-Solução, porque evoluir é preciso. É disso que o veio gosta, é isso que o veio quer”. Obrigado ao André Luiz pela deferência feita lá no 247 à minha pessoa. Bater em mulher e crianças, ainda que seja apenas nas urnas, é uma coisa que não está em mim, não é e nunca foi da minha índole pacífica. Até por isso, se o Randolfe, do PSOL, resolver me ceder a vaga de candidato à Presidência, atendendo ao apelo e à vontade das ruas do Brasil, em prol do Novo Brasil de Verdade, eu prefiro como adversários, se for o caso, o FHC e o LULA, que são “os cachorros grandes” da sucessão, que, na verdade, estão com medo do Leão, por isso escondidos atrás de Aécio, Dilma, Campos e CIA.
Democracia de verdade tem que ser a expressão da vontade da maioria do povo, e não da imposição de interesses e conveniências de reles minoria de caciques partidários. Muitos companheiros, militantes do PSOL, foram à plenária do mandato do Dep. Federal, Ivan Valente, em SP, no dia 22/03/2014, esperançosos de que alguma coisa Nova e diferente do andar da carruagem imposto pelo partido pudesse acontecer por lá. Até que aconteceu, porém, quase como uma transgressão face à ditadura partidária-elleitoral que impôs ao Fato Novo de Verdade apenas 2 (dois) minutos, que lá se dignou comparecer e dizer a que foi . Fala sério PSOL. “O Brasil, extra-partidariamente, livre, consciente e decididamente, em Junho de 2013, saiu à ruas, rugiu igual Leão, evitou o gollpe, falou e disse o que quer doravante. E , portanto, não evitará a Revolução em outubro de 2014, se necessária, e se assim continuarem as coisas, com o partidarismo-elleitoral e o gollpismo-ditatorial, velhacos, e seus tentáculos, operando na contramão da vontade popular, ao mais velho estilo do mais velho oportunismo vazio,artificial, covarde e leviano, produzindo apenas factóides de ocasião elleitoral, blá-blá-blá, trololó, mata-mata, queima-queima e o pior do pior que é o irresponsável “quanto pior, melhor”, que nos conserva arraigados ao velho lugar comum, à mercê de 171s, típicos do velho continuísmo da mesmice, do velho tudo como dantes no velho quartel de Abrantes. Sob o teto do modello que aí está, vencido há muito tempo, nome por nome,partido por partido,não existe nada melhor e nem mais novo do que Dilma e PT no cenário partidário-elleitoral.E basta de ilusões vãs.” De duas uma: ou ouvimos o rugido das ruas, abrimos o partido e coloquemos o partido a disposição Dele, ou perdemos o Novo TreMM da História. E de nada adianta o Chico Alencar, Dep. Federal, PSOL, RJ, dizer que “ o povo ruge nas ruas igual Leão e vota igual jumento nas urnas”, se o próprio partido não coloca o Leão como candidato para o Povo Votar. E por falar nisso.“ Dois candidatos nanicos foram os presidenciáveis com maior crescimento na última pesquisa Ibope: o Pastor Everaldo, do PSC (legenda do deputado Marcos Feliciano), chegou a 4% das preferências e o jovem senador Randolfe Rodrigues, do radical PSOL, começou a aparecer na corrida com 1,0% das intenções de voto.” O que e é isso companheiros, o PSOL perdendo até para o Marcos Feliciano. Tá feia a coisa, hein ? O PSOL está esperando mais o que para mudar o candidato, o discurso e o percurso ?