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Mãe

maio 10, 2015 Air Antunes Ilustrada 0


Uma crônica de Rubem Braga em homenagem as mães

                              (no final tem uma carinhosa “ofensa”

 

                       Mãe

 

                              Mae

 RUBEM BRAGA 

  O menino e seu amiguinho brincavam nas primeiras espumas; o 
 pai fumava um cigarro na praia, batendo papo com um amigo. E o mundo 
                    era inocente, na manhã de sol. 
                                    
          Foi então que chegou a Mãe (esta crônica é modesta contribuição ao Dia das Mães), muito elegante em seu short, 
         e mais ainda em seu maiô. Trouxe óculos escuros, uma 
esteirinha para se esticar, óleo para a pele, revista para ler, pente 
    para se pentear — e trouxe seu coração de Mãe que 
 imediatamente se pôs aflito achando que o menino estava 
               muito longe e o mar estava muito forte. 
                                    
     Depois de fingir três vezes não ouvir seu nome gritado pelo pai, o garoto saiu do mar resmungando, mas logo voltou a se 
interessar pela alegria da vida, batendo bola com o amigo. 
    Então a Mãe começou a folhear a revista mundana — “que vestido 
 horroroso o da Marieta neste coquetel” — “que presente de casamento 
 vamos dar à Lúcia? tem de ser uma coisa boa” — e outros 
 pequenos assuntos sociais foram aflorados numa conversa 
                     preguiçosa. Mas de repente: 
                                    
                          — Cadê Joãozinho? 
                                    
      O outro menino, interpelado, informou que Joãozinho tinha 
           ido em casa apanhar uma bola maior. 
                                    
     — Meu Deus, esse menino atravessando a rua sozinho! Vai lá, 
   João, para atravessar com ele, pelo menos na volta! 
                                    
     O pai (fica em minúscula; o Dia é da Mãe) achou que não era 
                               preciso: 
                                    
                   — O menino tem OITO anos, Maria! 
                                    
     — OITO anos, não, oito anos, uma criança. Se todo dia morre 
gente grande atropelada, que dirá um menino distraído como 
                                esse! 
                                    
      E erguendo-se olhava os carros que passavam, todos guiados 
      por assassinos (em potencial) de seu filhinho. 
                                    
          — Bem, eu vou lá só para você não ficar assustada. 
                                    
      Talvez a sombra do medo tivesse ganho também o coração do 
pai; mas quando ele se levantou e calçou a alpercata para atravessar os vinte metros de areia fofa e escaldante que o 
 separavam da calçada, o garoto apareceu correndo alegremente com uma 
bola vermelha na mão, e a paz voltou a reinar sobre a face 
                              da praia. 
                                    
      Agora o amigo do casal estava contando pequenos escândalos 
de uma festa a que fora na véspera, e o casal ouvia, muito 
    interessado — “mas a Niquinha com o coronel? não é 
           possível!” — quando a Mãe se ergueu de repente: 
                                    
                           — E o Joãozinho? 
                                    
        Os três olharam em todas as direções, sem resultado. O 
     marido, muito calmo — “deve estar por aí”, a Mãe 
  gradativamente nervosa — “mas por aí, onde?” — o amigo 
   otimista, mas levemente apreensivo. Havia cinco ou seis meninos dentro da água, nenhum era o Joãozinho. Na areia havia outros. Um deles, 
     de costas, cavava um buraco com as mãos, longe. 
                                    
                             — Joãozinho! 
                                    
     O pai levantou-se, foi lá, não era. Mas conseguiu encontrar 
          o amigo do filho e perguntou por ele. 
                                    
       — Não sei, eu estava catando conchas, ele estava catando 
                      comigo, depois ele sumiu. 
                                    
      A Mãe, que viera correndo, interpelou novamente o amigo do filho. “Mas sumiu como? para onde? entrou na água? não sabe? 
  mas que menino pateta!” O garoto, com cara de bobo, e 
 assustado com o interrogatório, se afastava, mas a Mãe foi segurá-lo pelo braço: “Mas diga, menino, ele entrou no mar? como é que 
você não viu, você não estava com ele? hein? ele entrou no 
                                mar?”. 
                                    
             — Acho que entrou… ou então foi-se embora. 
                                    
      De pé, lábios trêmulos, a Mãe olhava para um lado e outro, 
   apertando bem os olhos míopes para examinar todas as crianças em volta. Todos os meninos de oito anos se parecem 
na praia, com seus corpinhos queimados e suas cabecinhas castanhas. E 
 como ela queria que cada um fosse seu filho, durante um segundo cada um daqueles meninos era o seu filho, exatamente ele, enfim — mas um gesto, um pequeno movimento de cabeça, e deixava 
de ser. Correu para um lado e outro. De súbito ficou parada olhando o mar, olhando com tanto ódio e medo (lembrava-se muito bem da história acontecida dois a três anos antes, um menino estava 
       na praia com os pais, eles se distraíram um instante, o 
   menino estava brincando no rasinho, o mar o levou, o corpinho só apareceu cinco dias depois, aqui nesta pr aia mesmo!) — deu 
           um grito para as ondas e espumas — “Joãozinho!”. 
                                    
       Banhistas distraídos foram interrogados — se viram algum 
menino entrando no mar — o pai e o amigo partiram para um 
lado e outro da praia, a Mãe ficou ali, trêmula, nada mais 
 existia para ela, sua casa e família, o marido, os bailes, os Nunes, 
 tudo era ridículo e odioso, toda essa gente estúpida na 
 praia que não sabia de seu filho, todos eram culpados — 
  “Joãozinho !” — ela mesma não tinha mais nome nem era 
  mulher, era um bicho ferido, trêmulo, mas terrível, traído no mais 
 essencial de seu ser, cheia de pânico e de ódio, capaz de tudo — 
“Joãozinho !” — ele apareceu bem perto, trazendo na mão um sorvete que fora comprar. Quase jogou longe o sorvete do menino com 
   um tapa, mandou que ele ficasse sentado ali, se saísse um passo 
            iria ver, ia apanhar muito, menino desgraçado! 
                                    
     O pai e o amigo voltaram a sentar, o menino riscava a areia 
com o dedo grande do pé, e quando sentiu que a tempestade 
       estava passando fez o comentário em voz baixa, a cabeça 
          curva, mas os olhos erguidos na direção dos pais: 
                                    
                   — Mãe é chaaata… 
                                    
                       Maio, 1953 
                                    
                                    
      Rubem Braga é considerado o melhor cronista brasileiro de 
                           todos os tempos. 

  

   Texto extraído do livro “A Cidade e a Roça”

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