fev 24, 2014 Air Antunes EDUCAÇÃO 1
O professor, educador e biólogo Samuel Ramos Lago, natural de Lins, SP, conheceu Rubem Alves há muitos anos, em uma viagem de navio na Patagônia Chilena, e tornaram-se grande amigos. Até então Samuel já tinha lido muitos livros de Rubem Alves e, naturalmente, leu muitos outros depois. Além de ser alguém que tem um grande histórico de vida, tanto nos aspecto pessoal como na sua lida com e Educação, Samuel é também sócio – fundador da Sociedade Educacional Positivo, de Curitiba; fundador da Editora Lago, em 1996; e sócio-fundador da Editora Nossa Cultura, em fevereiro de 2002. Samuel , reiterando, tem também como mérito o fato de ter lido 80 livros de Rubem Alves, o que não deixa de ser um privilégio. Desta leitura toda ele pinçou “as pérolas deste amigo escritor”, como afirmou. “O Melhor de Rubem Alves”, livro organizado por Samuel, fruto desta pincelada,gerou igualmente o compromisso de ambos de que toda a renda líquida proveniente da venda seria revertida pelo autor para “entidades compromissadas com a caridade e construção de um mundo melhor”.
De minha parte, como editor deste site, pincelei , das pinceladas do professor Samuel, as pérolas de Rubem Alves as quais ele se refere à Educação, aprendizagem, enfim aquilo que desagua no ensinamento. Filósofo (doutorado na Universidade de Princeton, USA); piscanalista, professor emérito da Unicamp, acadêmico (Academia Campinense de Letras), o mineiro Rubem Alves, também cronista do cotidiano, contador de estórias, e um dos mais respeitados intelectuais do Brasil, afirma que “Um educador é um fundador de mundos, mediador de esperança, pastor de projetos”. Esta afirmativa e inúmeras outras , sobre a educação, estão transcritas em seguida:
“Ao nascermos, somos pinho de riga puro. Mas logo começam as demãos de tinta. Cada um pinta sobre nós a cor de sua preferência. Todos são pintores: pais, avós, professores, padres, pastores. Até que o nosso corpo desaparece. Claro , não é com tinta e pincel, é com a fala. A tinta são as palavras. Faladas, as palavras grudam no corpo, entram na carne. Ao final , o nosso corpo está coberto de tatuagens da cabeça aos pés. Educados. Quem somos?”
“Veio-me a imagem daquela flor de campo: uma bola de sementes brancas, a gente dá um sopro, as sementes saem voando como se fossem pára-quedas, para irem nascer lá longe, onde o vento as levou…Assim é o educador: uma bola de sementes-palavra onde se encontra o sonho que ele deseja plantar”.
“Reacendeu-se em mim, uma antiga convicção de que as escolas não gostam das crianças. (….) Parece que as escolas são máquinas de moer carne: numa extremidade entram as crianças com suas fantasias e seus brinquedos. No outro saem rolos de carne moída, prontos para o consumo, ´formandos´ em adultos produtivos”.
“Não gosto de laboratórios nas escolas. Sua função não é ensinar ciência. Sua função é reduzir os pais. Os pais querem sempre o melhor para os filhos e o que é moderno deve ser melhor. Uma escola que tem laboratórios com aparelhinhos deve ser uma boa escola. Mas os laboratórios, antes que os estudantes entrem neles, já ensinaram uma coisa fatal para a inteligência científica: que ciência é algo que acontece dentro daquele espaço. A CIÊNCIA NÃO COMEÇA COM APARELHOS. Ela começa com os olhos, curiosidade e inteligência”.
“ESCOLA É BURRA E INCOMPETENTE porque ela não fala sobre aquilo que é vitalmente importante para as crianças. Isso foi dito por Piaget no seu Biologia e Conhecimento. Mas nem teria sido necessário que ele dissesse: o senso comum, sem precisar pesquisas, sabe disso muito bem.
“É comum dizer –se que a função das escolas é preparar as crianças e os adolescentes para a vida. Como se a vida fosse algo que irá acontecer em algum ponto do futuro, depois da formatura, depois de entrar no mercado do trabalho. (….) MAS A VIDA NÃO ACONTECE NO FUTURO. Ela só acontece no aqui e no agora. O objetivo da aprendizagem é viver, não é preparar para um futuro a ser vivido”.
“Estudei muito e sofri muito a análise sintática. Sofri tanto que, naquele tempo, escrevi num relatório para o colégio onde estudei, o Andrews, no Rio de Janeiro, que eu queria era ser engenheiro. Eu era bom de matemática, mas não gostava das coisas da língua. A análise sintática me ensinou a ter raiva da literatura. Somente muito mais tarde, depois de haver esquecido tudo o que aprendera na análise sintática, aprendi as delícias da língua”.
“Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, seu dono pode levá-lo para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Por que A ESSÊNCIA dos pássaros é o voo.
“Em honrosas exceções, os professores que tive não mereciam que eu aprendesse e que eles diziam estar ensinando”.
“As ideias do eu pensante são aves engaioladas, pertencem ao eu que faz com elas o que desejo. As idéias que moram no corpo são aves selvagens, só vêm quando desejam. Elas têm vontade e idéias próprias”.
“Eu penso na educação ao contrário. Não começo com os saberes. Começo com a criança. Não julgo a criança em função dos saberes. Julgo os saberes em função das crianças. É isso que distingue um educador. Os educadores olham primeiro para o aluno e depois para as disciplinas a serem ensinadas. Educadores não estão a serviço dos saberes. Estão a serviço dos seres humanos- crianças, adultos, velhos”.
“Compreendi que a escola não tinha lugar para as curiosidades que estavam na minha cabeça”.
“O ato de educar se revela no ato de fazer amor. Quem aprende dos amantes fica um melhor educador . Os alunos conhecerão, conceberão, parirão”.
“A educação da nossa sensibilidade musical deveria ser um dos objetivos da educação. Os conhecimentos da ciência são importantes. Eles nos dão poder. Mas eles não mudam o jeito de ser das pessoas”.
“Eu sempre me preocupei com aquilo que as escolas fazem com as crianças. Agora me preocupo com aquilo que as escolas fazem com os professores”.
“A educação (….) é um fundador de mundos, mediados de esperança, pastor de projetos”.
“Um bom professor tem que ser um mestre de analogias. Uma boa analogia é um flash de luz”.
“As estatísticas oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não me dizem nada. Não me dizem que são gaiolas ou asas. Mas eu sei que há professores que amam o voo dos seus alunos. Há esperança”.
“Quer dizer que o que eu aprendi fora da escola não vale nada para a escola? Se eu fizer uma pergunta a um professor e ele não souber a resposta, eu posso lhe dar uma nota? Há boletins onde os alunos dão nota para os professores?
“Fui mau aluno. O que me era ensinado não era o que eu queria aprender. O que aprendi, aprendi andando pelos meus próprios caminhos. Mas, o que eu aprendia nos meus caminhos não caia nas provas”.
“Para compreender bem a situação da educação no Brasil é preciso não esquecer que muitas das nossas faculdades são privadas”.
“Se a gente pedir para os moradores da universidade fazerem um trabalho sobre coisa complicada, sobre a qual existe uma bibliografia, tudo bem, eles fazem. Mas se a gente pedir para que façam um trabalho sobre aquilo que estão vendo, eles ficam paralisados. Para ver eles precisam de uma citação.
“Pensar é a arte de brincar com coisas que não existem. Pensamentos são brinquedos inexistentes. Esse é o objetivo principal da escola: ensinar a pensar, ou seja, a brincar com símbolos, coisas que não existem. Infelizmente, na maioria dos casos a escola não ensina a pensar”.
“PROFESSOR, trate de prestar atenção no seu olhar. Ele é mais importante que seus planos de aula. O olhar tem o poder de despertar e para intimidar a inteligência. É o poder do bruxo. O olhar de um professor tem o poder de fazer a inteligência de uma criança florescer ou murchar.
“Quando falamos com uma criança, as nossas palavras vão gravando saberes e sentimentos nos vazios de seu corpo. Educadores são feiticeiros, usam palavras para completar aquilo que a gravidez e o parto deixaram sem conclusão”.
“A questão não é gerenciar o educador. É necessário acordá-lo. E , para acordá-lo, uma experiência de amor é necessária (….). O acordar mágico do educador tem, então, que passar por um ato de regeneração do nosso discurso, o que sem dúvida exige fé e coragem para dizer em aberto os sonhos que nos fazem tremer”.
“Os filósofos, cientistas e educadores acreditam que as coisas vão ficando cada vez mais claras à medida que o conhecimento cresce. O conhecimento é a luz que nos faz ver. Os sábios sabem o oposto, existe uma progressiva cegueira das coisas à medida que o seu conhecimento cresce”.
“Não acredito que o ato de educar possa ser dito na precisa linguagem das ´ciências da educação´. Conheça melhor o amor e a educação através das analogias poéticas”.
“Professores há aos milhares. Mas o professor é a profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão, é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança”.
“(…….) Ler é fazer amor com as palavras”.
“Eu me daria por feliz se as nossas escolas ensinassem uma coisa: o prazer de ler!”
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happy wheelsjul 08, 2016 0
jul 06, 2016 0
out 18, 2014 0
ago 22, 2014 0
Adorei! essa matéria sobre Rubem Alves está ótima!!