abr 21, 2014 Air Antunes EDUCAÇÃO 0
Tiradentes foi um personagem banido pela monarquia e , mais recentemente, pela ditadura militar deflagrada pelo golpe de 1964, afinal de contas, ele, Joaquiim José da Silva Xavier, é ícone do que a direita chama de subversão, da rebeldia aos regimes intolerantes, exploradores do povo. É ainda um personagem da história que nos reserva detalhes de sua vida no mínimo curiosos. Em algumas ocasiões já houve quem quisesse provar minúcias que descaracterizam sua luta, no entanto Tiradentes, foi redimido pelo pós-ditadura militar, tanto que 21 de abril voltou a ser feriado. Infelizmente, no Brasil, o feriado é tido pela grande maioria apenas como uma oportunidade para descansar, quando na realidade, a data seria algo oportuno para reverenciar a causa com ciclos de debates em escolas, em órgãos públicos e outras atividades cívicas alusivas. Não há dúvida de que muitos, nesta data, mal sabem ou sabem nada sobre o motivo que determinou o feriado de 21 de abril.
Quanto a Tiradentes, ele nasceu na Fazenda do Pombal (atual Ritápolis), interior de Minas Gerais, em 1746. Era o quarto de sete irmãos. Filho do português Domingos da Silva dos Santos, proprietário de terras e conselheiro municipal, e da brasileira Antônia da Encarnação Xavier.
O garoto Joaquim José ficou órfão de mãe, aos nove anos, e órfão de pai, aos onze. Os irmãos se separaram e ele foi morar com seu padrinho, o cirurgião Sebastião Ferreira Leitão, que tirava dentes na vila de São José (atual Tiradentes). Tiradentes aprendeu o ofício do padrinho, mas não se sabe até que ponto ele trabalhou nessa atividade. Ainda jovem, trabalhou com mineração e montou uma tropa para o transporte de mercadorias.
Em 1775, entrou para o Batalhão dos Dragões, como alferes, um posto de oficial equivalente a 2º tenente. Participava de expedições de reconhecimento no sertão de Minas. Em 1781, foi nomeado pela rainha, D. Maria I, comandante da patrulha do Caminho Novo, na Estrada Real, que ligava Vila Rica ao porto do Rio de Janeiro. Sua função era garantir o transporte do ouro e diamantes extraídos nas Minas Gerais.
Não se sabe, ao certo, porque o alferes Xavier não foi promovido. Permaneceu como alferes por mais de 13 anos, enquanto outros oficiais mais novos já eram capitães. Ele certamente não estava feliz com o fato. Por esse e outros motivos, Tiradentes passou a criticar abertamente o governo.
Em março de 1787, ele pediu licença de suas funções militares e seguiu para o Rio de Janeiro, onde tentou projetos comerciais e de engenharia, com petições para as obras na Câmara Municipal. Com o fim de sua licença, retornou para Minas. Tudo indica que a falta de respostas sobre a aprovação de seus empreendimentos aumentou seu desejo por independência. Nessa época ele teria ido a Europa.
Com a delação do movimento, Tiradentes foi preso no Rio de Janeiro, em 10 de maio de 1789, estava refugiado na casa de um amigo. Foi enforcado em 21 de abril de 1792, então esquartejado e partes de seu corpo foram expostas no caminho do Rio de Janeiro a Minas Gerais.
Sua imagem somente foi reabilitada com a República. Em 1889, o município de São José del Rei, onde cresceu, recebeu o seu nome
Não é pessoa que tivesse figura, nem valimento, nem riqueza, do escrivão que tomou o primeiro depoimento de Tiradentes, após sua prisão. O alferes mudaria sua versão no terceiro depoimento, assumindo a culpa e inocentando seus colegas.Tiradentes não deixou textos escritos por ele mesmo. Existem muitas dúvidas sobre sua história e a condição de seus bens, mas sabe-se que houve altos e baixos. Ele morava de aluguel e tinha dívidas, mas isso pode ser atribuído ao seu estilo de vida: solteiro e viajante. Teve duas filhas, com mulheres diferentes.
Por outro lado, os Autos da Devassa indicam que ele possuía escravos, sesmarias e a concessão para exploração de jazidas em grandes lotes de terra. Esses bens foram penhorados, mas fica claro que ele teve seus bons tempos (teria ele penhorado seus bens para financiar os projetos revolucionários?).
Seus projetos no Rio de Janeiro eram grandiosos. Envolvia, por exemplo, a construção de um desembarcadouro de gados, um armazém para recolher trigo e aquedutos para fornecer água à cidade do Rio de Janeiro. Nessa época, Tiradentes solicitou permissão para ir a Lisboa.
Por fim, há que se considerar, que no século 18, os homens da elite costumavam buscar seus iguais para discutir projetos em comum e Tiradentes era claramente um dos líderes, segundo as declarações dos denunciantes nos Autos da Devassa.
O Auto da Devassa
O auto da devassa era a ordem criada no século 18 pela rainha D. Maria I de procurar por documentos escritos ou obras de arte de um indivíduo que pudessem provar que o mesmo era um inconfidente (falta de fidelidade para com o rei ou, neste caso, a rainha).
Foi feito, por exemplo, na Inconfidência Mineira, da qual todos os integrantes possuíam documentos ou pinturas que expressavam idéias separatistas, logo, traindo o reino de Portugal.
Assim, todo o estado de tal pessoa era destruido, e ninguem poderia associar-se com o nome de familiares e uma pedra era colocada no lugar onde houve propriedade. O lugar era considerado banido e a familia ou familiares eram esquecidos. Ninguem ousava tocar a pedra que vedava que houvese nova propriedade no lugar.
Na sequência, cópia do original do Auto da Devassa, datada de 1789, que tratou da Conjuração (ou Inconfidência ) Mineira.
A obra que ilustra esse artigo é de Leopoldino de Faria (1836-1911) retratando a “Resposta de Tiradentes à comutação da pena de morte dos Inconfidentes”.
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