abr 01, 2021 Air Antunes Artigos 0
Alguém acredita que aquelas madames empoadas que participaram de manifestações contra Dilma Roussef, que aplaudiram a prisão de Lula, o faziam para acabar mesmo com a dita corrupção? E aqueles milionários que saíram às ruas gritando palavras de ordem contra a esquerda, e aqueles “mauricinhos” e “patricinhas” grifados da cabeça aos pés, e aqueles que passavam de limousines durante as carreatas , alguém acredita que todas estas espécimes se importavam mesmo com a corrupção? Muitos ali, na verdade, pouco ligavam, ou pouco ligam, se tem corrupção ou não, o que faziam é protagonizar a hipocrisia na sua maior amplitude no exato momento em que sonegam impostos, transferem dinheiro ilícito para os paraísos fiscais, convivem com os maiores corruptos nas suas pompas e circunstâncias, etc.
E por que eles odeiam tanto a esquerda, os partidos de esquerdas, as figuras ícones da esquerda ? Ora, o brasileiro quatrocentão, este que é resultado de uma riqueza conquistada à custa de mais de trezentos anos de trabalho escravo, ele tem, ou quer ter, modos europeizados, ama a realeza, gosta de ser reverenciado, ele quer súditos e , se fosse possível ainda nos dias de hoje, gostaria de ser carregado em liteiras ( aqueles “meios de transporte” movidos a braços de escravos). Estes brasileiros “pó de arroz” são descendentes dos privilegiados que eram convidados para os bailes da corte imperial, que ficavam “rasgando seda” para o imperador o tempo todo, e que se interagiam tanto com o monarca que até se confundiam com a nobreza, e tanto isso ocorreu que faziam de tudo para obter títulos nobiliárquicos (conde, marquês, barão, etc, etc.); na Europa estes pseudos eram os burgueses, os que moravam em burgos, espaços que não eram os palácios reais mas que estavam muito distantes das possibilidades dos pobres camponeses e dos comerciantes das fétidas feiras (vale até lembrar do Cazuza em seu contraponto :“a burguesia fede”) .
No Brasil, posteriormente, o termo burguês foi adotado igualmente para identificar o brasileiro que ainda usufrui da sua herança “quase real”, de algo que tornou tradicional o próprio nome da sua família, algo que em vários casos foi só o que lhe restou. É bom ressaltar que o “burguês” não se restringe a unicamente em ter dinheiro, grande posse, mas sim ao seu sentimento de cidadão diferenciado, que não quer viajar de avião ao lado de um pobre, que odeia ver pobre ascender socialmente através da universidade, que não gosta de nordestinos, de negros, de índios, porque estes estão longe de terem feições europeizadas e até por conta disso os burgueses não os querem como representantes. No ódio à esquerda, portanto, está uma contraposição aos direitos de quem está na escala mais baixa da hierarquia social, está o desejo de não haver igualdade entre as classes e, principalmente, está o desejo de que o proletariado continue nas sarjetas aplaudindo a passagem da “realeza” apenas porque ela se acha “sangue azul”, porque ela sempre quis que jamais se confunda o status de nobre com a condição de servil.
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