out 13, 2016 Air Antunes Ilustrada 0
PAULO BAIANO
“Os deuses continuam os mesmos, vindo, diretamente, de lá.”
Distante dois dias de barco a vela de São Luis, capital do Maranhão, a Ilha dos Lençóis tem esse nome porque é formada por duas intermináveis, coloridas, “parecem lençóis estendidos a secar”. Uma bela paisagem do deserto.
Parecia com outro deserto perdido no tempo, onde nossa história começa.
Marrocos, 1578- sobre as dunas quentes de Alcácer Kibir, o exército de cruzados enfrenta os mouros numa batalha feroz. A luta só termina quando os soldados cristãos descobrem que seu comandante, o jovem Rei Sebastião de Portugal, desapareceu sem deixar qualquer rastro, uma pegada sequer.
Os que sobreviveram à guerra chegaram a Lisboa contando histórias fantásticas. Disseram que o valente guerreiro foi encantado pelos mouros. Que ele iria permanecer assim, como “O Encoberto”, até retornar um dia ao nosso mundo, para finalmente estabelecer um reino de paz e harmonia entre os homens.
Logo essa lenda se espalhou como rastilho de pólvora por todos os países, povos e rincões onde os colonizadores portugueses atracaram suas naus.
Resistiu ao tempo e às mudanças pelas quais o mundo passou, séculos afora, e chegou até mesmo ao lugar mais distante e escondido do planeta.
A Ilha dos Lençóis…
Muitos já viram o monarca correndo pelas areias, mas ninguém teve coragem de enfrentá-lo cara a cara. Nas longas noites da Ilha de Lençóis, bafejadas pelo vento, contam-se histórias sobre os encontros com ele. Para cada um, ele aparece de um jeito. Seu Alfredo, por exemplo, viu um Rei jovem, majestoso, montado sobre um touro.
“A lua vinha saindo às 11 horas da noite, quando ela estava em meia praia, é quando o garoto avistou um touro. E o garoto ficou com muito medo porque, assim, este touro vinha matar ele. Aí, veio chegando, o touro, e aí, quando ele olha, vê aquele homem amontoado em riba do touro.
Ele era vermelho e uma parte branca, o touro.
E o homem, ele era bem alvo e vinha com a vestimenta alva. A vestimenta dele, quando ele olhou, aquilo vinha com um brilho tão bonito na lua que ele ficou admirado pela vestimenta do homem. Ele calculou que era o Rei Sebastião, porque, pela vestimenta dele, não podia ser outro. Era ele mesmo”.
É assim, na sempre necessária luta por um mundo melhor, que a Lenda do Rei Sebastião é incessantemente reconstruída pelo povo do Maranhão, a partir dos mistérios da vida e do tempo, das vozes que vêm dos universos paralelos, do brilho da magia da fantasia.
Eu vi!
Transcrito do Almanaque do AluẠ2 de 2006.
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