Numa analogia literária, discutimos política na rede social depois de lido um livro de 500 páginas inúmeras vezes, e então surge alguém que conhece somente a capa, ou às vezes nem isso, e chega geralmente com arrogância, como se fosse dono da verdade, um expert sobre todos os problemas do mundo e do Brasil desde a sua descoberta, descontruindo toda nossa argumentação literária, nos impingindo suas aberrações da natureza.
Deste ponto em diante surgem “analistas políticos” como um, entre tantos outros, que escreveu bobagens sobre a conquista do Prêmio Camões de Literatura por Chico Buarque de Holanda. Para a ele a Lei não é a Rouanet, que foi criada no governo Collor, e sim a Renault, marca de veículos francesa. Chico nunca foi beneficiado pela Lei Rouanet, mas se tivesse não seria crime algum. Quem é Camões, ele pergunta. Não sabe quem é Luiz Vaz de Camões, poeta nacional português, uma das maiores expressões da literatura mundial nascido no século 16. Não, Camões não é parente de Paulo Freire, um educador e filósofo nascido em Pernambuco e falecido em 1997; um grande brasileiro, o patrono da Educação Nacional, um dos mais notáveis pensadores da pedagogia mundial e um dos três educadores mais citados nas mais profícuas universidades do mundo.
Não, o Prêmio Camões não é outorgado por Cuba (quanto ignorância também sobre o país de Fidel!), é de Portugal, país onde nasceu Luiz Vaz de Camões, daí o nome do prêmio, que foi instituído em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, para homenagear os autores que contribuem para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa. Além de Chico, outros brasileiros que receberam o Prêmio Camões são João Cabral de Melo Neto (1990), Rachel de Queiroz (1993), Jorge Amado (1994), Antônio Cândido (1998), Autran Dourado (2000), Rubem Fonseca (2003), Lygia Fagundes Telles (2005), João Ubaldo Ribeiro (2008), Ferreira Gullar (2010), Dalto Trevisan (2012), Alberto Costa e Silva (2014) e Raduan Nassar (2016).
O ignorante exemplificado aqui é apenas um entre muitos, não sabemos se está aumentando o número deles ou se é o evento das redes sociais que dá oportunidade de sabermos da existência deles. O terrível também é quando constatamos que o ignorante também é burro, pois como disse o nosso grande dramaturgo Nelson Rodrigues, “A burrice é diferente da ignorância. A ignorância é o desconhecimento dos fatos e das possibilidades. A burrice é uma força da natureza”.