Revi há pouco na Globonews a entrevista de Lula. Sob outro ângulo. Com um olhar mais reflexivo, agudo, escrutinador. Livre das miudezas da política. Um olhar holístico, existencial. E o que vi não foi um homem, um candidato a presidente, um político em meio a uma disputa eleitoral. O que vi foi um fenômeno. Um ser indescritível que se movia, gesticulava e falava como gente, mas que não era gente. Era um gigante, uma figura colossal. E aí não vai nenhum exagero, nenhum culto à personalidade. Críticas não lhe faltam. Mas elas não vêm ao caso agora.
O que interessa é a entrevista, seus símbolos, seus signos. A semiótica. O Lula que aparece na tela da TV é o espelho da superação. A fênix que renasce das cinzas. O menino pobre do esquecido sertão que, junto com a mãe e irmãos, cruza o país num pau-de-arara para escapar da vida severina e lembrar à sociedade que eles também existem. O operário que enfrenta os patrões, ao lado dos companheiros, em memoráveis jornadas de luta contra a exploração. O político que metia medo nas elites e se torna o presidente mais querido do povo. O passarinho encerrado numa gaiola que conquista a liberdade e volta a voar com leveza e graça pelos céus.
Aos 76 anos, e depois de tudo o que viveu, Lula exibe, na sabatina de Bonnie and Clyde, digo, Bonner e Renata, uma força mental fora do comum, uma disposição contagiante para travar o bom combate (desta vez contra o fascismo), uma coragem que só os grandes líderes têm de ousar contrariar o destino e traçar o seu caminho com as próprias mãos.