ago 25, 2023 Air Antunes Angatuba 0
Angatuba já foi exaltada em matéria publicada em 1978 no New York Times, jornal dos Estados Unidos, por protagonizar manifestação contrária à instalação de indústria de papel no município, uma reação popular em favor do meio ambiente. Já foi destaque no “Estadão” e em outros órgãos de comunicação por ser uma das pioneiras da região a se preocupar com a questão ambiental ao criar projeto para desenvolvimento da reciclagem do lixo. Foi, ainda, um dos primeiros municípios do estado a criar um eficiente aterro sanitário para o lixo orgânico. Em 2008 Angatuba conquistou o segundo lugar, no Estado, no ranking do Programa Município Verde Azul (PMVA) idealizado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente. E não apenas de parte do poder público houve luta, Angatuba também contou com várias ações mobilizadas por aqueles que buscam melhor qualidade de vida, defensores dos mananciais naturais do município, podendo citar neste quesito a Associação Verde de Angatuba (AVA) e, de existência mais recente, o Grupo Eco Road. Além desse histórico todo em favor do meio ambiente, Angatuba ainda conta com a Estação Ecológica (EEcA), uma unidade de pesquisa científica ambiental que, por sinal, mediante a interesses econômicos, poderá deixar de existir.
A EEcA, uma unidade de conservação de proteção integral administrada pela Fundação Florestal desde 2020, era gerida anteriormente pelo então Instituto Florestal, órgão que se tornou o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA). Abrangendo também o município de Guareí, a EEcA preserva remanescentes do cerrado e de vegetação de zona de transição deste bioma com a Mata Atlântica. Infelizmente, apesar de todo esse aparato e histórico de Angatuba aludindo a defesa da natureza, tudo isso não é o suficiente para deter interesses econômicos. Matéria do Jornal da Ciência de quinta-feira, 24 de agosto, denuncia que o tal desmonte “está em avançado processo” e a justificativa está elencada de itens como, “falta de pessoal técnico qualificado, desarranjo e sucateamento institucional, falta de planejamento, de recursos e de controle social nos últimos 20 anos que levaram a retrocessos tanto da pesquisa, quanto da conservação de áreas protegidas no Estado”.
Segundo o Jornal da Ciência, a área florestal de Angatuba e as de Itirapina, Itapeva, Piraju e Águas de Santa Bárbara, assim como suas unidades de pesquisas, já estavam praticamente concedidas para exploração econômica da iniciativa privada, via licitação datada de outubro de 2022, mas o edital não se concretizou porque encontra-se suspenso por ordem judicial . Contra todo esse desmonte, em Angatuba, e em outras partes do Estado, está a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), que já apresentou denúncia à Assembleia Legislativa do Estado. Para o desmonte “o edital mencionava como objetivo do certame o ´manejo florestal em áreas de florestas exóticas plantadas e atividades associadas para gestão técnica e comercial, com foco em produtos e subprodutos florestais, para madeira ou resina de pinus e novos plantios comerciais de pinus ou eucaliptos´. Para Helena Lutgens, vice-presidente da APqC, o edital reforça a visão de que a permissão de uso tem um destino certo: grandes empresas que produzem matéria-prima para papel e celulose. ´Tanto que o tempo de cessão, 15 anos, coincide com o período de dois ciclos de cultivo de eucalipto´, observou Lutgens. Para ela, ´as concessões não prejudicam só as pesquisas, prejudicam a conservação´. As áreas previstas no edital também abrigam espécies ameaçadas de extinção, como o mico-leão preto que habita a floresta de Angatuba; a onça-parda Puma (extinta em várias partes do mundo), o pica-pau-chorão e o escorpião-do-sol (Mummucia coaraciandu), presentes em Itirapina”.
“São Paulo tem 34 estações de experimentação ambiental, a maioria criada nas décadas de 50 e 60 sob o guarda-chuva do antigo Serviço Florestal. Em 1970, o Serviço Florestal foi reformulado e mudou de nome para Instituto Florestal (IF). As estações tinham como objetivo dar apoio científico e técnico às políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento socioeconômico do estado por meio de indústrias que se utilizavam de produtos florestais como a de papel celulose, madeira, resina e a produção de dormentes para as linhas férreas”, acentua a matéria, “A desestruturação do sistema que mantém o meio ambiente no estado começou há muito tempo, mas foi acelerada a partir de 2020 quando o então governador João Dória, em plena pandemia, obteve aprovação da Assembleia Legislativa para o Projeto de Lei 529, que se tornou a Lei 17.293 de 15 de outubro de 2020. Com a justificativa de reduzir o déficit fiscal do tesouro estadual, esta Lei determinou cortes de despesas em diversas áreas – da reforma da previdência dos funcionários públicos à alienação de imóveis, passando pela extinção de 11 autarquias e fundações. Também alterou a Lei 16.260, de 29/6/2016, que autoriza a Fazenda do Estado a conceder a exploração de serviços ou o uso, total ou parcial das Unidades de Conservação (Parques e Florestas Estaduais). A revisão da 16.260/16 incluiu 25 áreas protegidas que ficaram disponíveis para concessão à iniciativa privada. Além disso, revogou o parágrafo IV do Artigo 2º que assegurava que os recursos obtidos com as concessões fossem integralmente aplicados na gestão e conservação das unidades. Na lista de 11 instituições que deveriam ser extintas estava a Fundação Florestal (FF), um órgão criado em 1986 para apoiar o IF. Porém, diante de protestos da comunidade ambientalista, foi feita uma nova manobra: o IF foi extinto e uma reorganização transferiu para a FF toda a parte de pesquisa que estava alocada nos institutos de Estudos Geológicos e de Botânica, incluindo os pesquisadores (funcionários estatutários), criando-se um novo órgão, o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA)”.
Reação angatubense já!- Para angatubenses idealistas que conhecem todo o histórico de luta empreendida na cidade em favor do meio ambiente, das suas conquistas, essa é uma questão que exige reação urgente do poder público tanto quanto das pessoas e associações que sempre estiveram atentas em relação à natureza. A perda dessa estrutura de pesquisa ambiental é péssima sob todos os ângulos já que trata-se uma uma área crucial no cenário contemporâneo, panorâmica para compreender, analisar e mitigar os impactos das atividades humanas no meio ambiente. Por meio de estudos e investigações científicas, busca-se obter um conhecimento profundo dos ecossistemas, dos recursos naturais e das interações entre os elementos naturais e as ações antrópicas. Um dos principais objetivos da pesquisa ambiental é avaliar os efeitos das atividades humanas, como a industrialização, urbanização, desmatamento, poluição e mudanças climáticas, sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos. Isso envolve coleta de dados sobre a qualidade do ar, da água e do solo, bem como monitorar a biodiversidade e os padrões climáticos. Além disso, a pesquisa ambiental desempenha um papel fundamental na identificação de soluções sustentáveis para os desafios ambientais que devem ser enfrentados. Ela contribui para o desenvolvimento de políticas públicas baseadas em evidências científicas, avanços para a conservação da natureza, para a promoção da biodiversidade e para a gestão adequada dos recursos naturais.
Além disso, a pesquisa ambiental também desempenha um papel educativo, conscientizando a sociedade sobre as questões ambientais e incentivando a adoção de práticas mais sustentáveis. Ela promove a colaboração entre cientistas, governos, empresas e organizações não governamentais, em busca de abordagens multidisciplinares para os desafios ambientais globais. Em um mundo cada vez mais consciente da importância da preservação ambiental, a pesquisa nessa área é uma ferramenta indispensável para promover a harmonia entre as atividades humanas e os ecossistemas naturais. Ela não apenas nos permite entender os melhores impactos causados pelo homem, mas também orienta na busca por soluções que permitam um futuro mais equilibrado e sustentável para as gerações presentes e futuras.
Leia também as matérias: “O dia em que Angatuba foi notícia no New York Times”: http://onda21.com.br/o-dia-em-que-angatuba-foi-noticia-no-new-york-times/
“Vegetação natural de Angatuba está inferior a 10% da área do município”: :http://onda21.com.br/vegetacao-natural-de-angatuba-esta-inferior-a-10-da-area-do-municipio/
“Devastação Florestal” – Imagem produzida com base em estudo de Victor, M.A.M et al (1979) e reproduzida na publicação “Inventário da cobertura vegetal nativa do Estado de São Paulo”. Arte postada no Jornal da Ciência
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