jul 24, 2020 Air Antunes Ilustrada 0
LUCAS RAVACCI
Amar, adorar e proclamar o Cristo Ressuscitado presente na Santíssima Eucaristia. Estes foram os princípios que despertaram a fervorosa entrega de Maria Lys Lisbôa e a nortearam na missão de anunciar a boa nova provinda do Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo. Após 60 anos de consagrada vida religiosa, conclamada e agraciada como a “Apóstola da Eucaristia”, Madre Lys fora avocada às núpcias do Divino Cordeiro. Neste interim, perpetuou, através de sua própria existência, um legado dedicado inteiramente ao amor fraternal, à contemplação e à perseverança, bem como edificou um belo testemunho de fé e de completa imersão em uma vida de oração e de serviço ao próximo.
Nascida em Itapetininga, em 05 de novembro de 1933, exatamente na data em que se comemora o aniversário deste importante município paulista, Maria Lys Lisbôa fora filha de Francisco Lisbôa e da senhora Sunanda Aguiar Lisbôa. Membro de renomada família desta cidade, a qual se apresentara como católica tradicional conceituada neste município, seus progenitoras logo lhe iniciaram no cristianismo ao lhe demonstrarem com exemplos práticos e cotidianos a vivência da fé e da devoção. Contextualizando-se, seu pai Francisco Lisbôa (O qual fora nomeado prefeito de Itapetininga durante o mandato de 1936) tornara-se diácono permanente da antiga Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres. Já sua progenitora Sunanda fora Ministra da Eucaristia e “Antoniana” (Membro dedicado da irmandade de Santo Antônio).
Tal como todos seus irmãos, Maria Lys estudou no Colégio Imaculada Conceição de Itapetininga administrado pelas Irmãs Beneditinas Missionárias de Tutizing, o que lhe possibilitou um contato contemplativo e intimista com a vida consagrada. Cativada por esta experiência religiosa, desde muito cedo Maria Lys compreendeu em seu coração apaixonado por Cristo que deveria seguir este caminho que Deus lhe havia preparado. Todavia, até conquistar seu objetivo, Madre Lys percorreu um longo percurso, demonstrando-se sempre perseverante no decorrer de toda a sua formação religiosa.
Maria Lys formou-se professora com êxito no início da década de 1950, havendo lecionado em Itapetininga e nas demais cidades circunvizinhas. Como docente aplicada e exemplar, alfabetizou inúmeras crianças durante sua pequena carreira educacional, pois no interior de seu coração sempre esteve presente um intenso e constante chamado que lhe direcionava a entregar-se completamente a Jesus Cristo.
Outrossim, sabe-se que a tarefa de convencer seu genitor Francisco a lhe permitir a partida para o convento fora extremamente árdua, sobretudo pelo fato de que seu confessor e diretor espiritual, durante várias conversas e orientações com a jovem Lys, indicara-lhe perfil religioso plenamente voltado para a clausura e para a vivência contemplativa. Seu pai, embora extremamente religioso e com outro de seus filhos estudando para se tornar padre Jesuíta, não apreciava a ideia. Porém, graças à intercessão de sua doce e amável mãe Sunanda, finalmente conseguiu a permissão para prosseguir em sua vida vocacional.
Deste modo, em 02 de fevereiro de 1960, dia de Nossa Senhora da Candelária, a jovem Maria Lys Lisbôa ingressou no Convento das Irmãs Sacramentinas localizado ao estado de Minas Gerais (Congregação fundada originalmente na França durante o Século XVIII) que apresenta como carisma primordial a adoração ao Santíssimo Sacramento. Na congregação, Maria Lys Lisbôa ocupou os cargos de madre superiora e mestra das noviças, sempre demonstrando sincero apreço e completa imersão com as celebrações da palavra e com as obras sociais. Após seu ingresso nesta Ordem, em nenhuma outra circunstância trabalhou afastada dela.
Madre Lys dirigia-se a Itapetininga ao menos uma vez por ano, onde desfrutava suas férias na casa de sua saudosa irmã Maria Helena Lisbôa. Nestas ocasiões, visitava a todos os familiares, transmitindo-lhes sempre uma mensagem de esperança e de sabedoria, bem como disseminando ao seu derredor um sentimento de paz que apenas quem convivera consigo poderia descrever. Em muitas destas ocasiões, sendo eu ainda um jovenzinho e iniciante no antigo coral, o qual sacralizava as santas missas, encontrei-me com Madre Lys durante as celebrações realizadas na Catedral de Itapetininga. Em um destes encontros propiciados pela obra de Nosso Senhor, ao cumprimenta-la pedindo-lhe sua benção intercessora, ela segurou-me as mãos firmemente e exclamou sabiamente: “Continue amando-O, pois o amor de Jesus Cristo dura para sempre”. Desta maneira, Madre Lys marcou-me com estas palavras, tornando-se a partir daquele momento, imortal em minhas memórias.
Em 08 de maio do ano corrente, na casa para irmãs idosas localizada em Belo Horizonte – Minas Gerais, após cinco anos de tratamento em decorrência da doença de Alzheimer, partiu ao encontro d’Aquele que tanto amou, aos 87 anos de idade. Madre Lys teve uma morte digna, pacífica e serena, sem maiores sofrimentos. Suas exéquias ocorreram no dia seguinte, com a presença de freiras e sacerdotes de sua comunidade, sendo sepultada no jazigo da Congregação das Irmãs Sacramentinas.
Dedico esta composição a reverendíssima Madre Lys, lhe rendendo as mais sinceras homenagens e gratidão.
Lucas Ravacci, assistente social. Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Norte do Paraná; especialista em Gestão Social e Territorial. Coordenador do CRAS Marina Raquel Caron de Campos e também professor da Anhanguera Itapetininga.
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