nov 13, 2016 Air Antunes Ilustrada 0
PAULA BONATTO
Nós biólogos somos seres que nos encantamos com a vida, com uma curiosidade sem fim. Assim, pensamos: como é a vida em meu corpo? Vejo meu corpo e descubro muitas de suas mudanças e transformações a olho nu.
E como é a vida no mundo dos pequenos? Pequeno…como uma formiga. Divido um metro em mil pedaços para entrar nas medidas do corpo de uma formiga: os milímetros. Com uma lupa, lente que aumenta muitas vezes as possibilidades da visão, eu reviro a realidade do mundo das formigas e de suas companheiras de tamanho: vermes, aranhas, joaninhas, caramujos.
E há vida ainda menor? Divido o tamanho milimétrico da formiga em mil partes- que surpresa: existe vida ainda menor! Estou no mundo dos micrômetros. Exploro esse mundo em um microscópio (duas lentes combinadas!) e descubro seres unicelulares se relacionando, passeando, nadando, comendo-se um aos outros em todos os sentidos”.
Depois de ter me enxerido muito nesse mundinho micro, de ter encontrado ali seres como as bactérias, que também são células e se reproduzem, ao lado das células do meu próprio corpo, que formam tecidos que crescem formando órgãos, me envolvo em mais curiosidades: e se eu pegasse esse mícron, que é um milímetro dividido por mil e dividisse de novo por mil? Ainda tem vida ali?
Daí começam os debates que mostram as dúvidas e certezas dos especialistas. Os biólogos dizem: “nesse mundo tão pequeno podemos encontrar apenas componentes da vida, pois a unidade da vida é a célula! Para ter vida organizada tem que ter célula!”
Então esse mundo, mil vezes menor que o microscópio, mostra de que é feita a vida, de que são feitas as células, e mesmo todos os materiais não vivos!
Mas temos surpresas quando encontramos nossos colegas físicos e químicos investigando ao nosso lado os fenômenos do infinitamente pequeno- o mundo nanoscópico. Os físicos medem as atrações eletromagnéticas entre as partes e tentam deduzir as formas que as lentes não conseguem ampliar, pois corpos tão pequenos não refletem a luz. Aparelhos especiais emitem raios sobre os ”nano-corpos”, batizados de átomos e moléculas. Os efeitos de raios eletromagnéticos mostram pistas sobre as características das moléculas possibilitando que sejam imaginados modelos sobre suas formas. Por meio de estudos complexos descobrimos que são tridimensionais, que moléculas têm relevos, combinações e, principalmente: movimentos, muitos movimentos e vibrações!
Essas vibrações geram choques, quebras, atrações, que geram…transformações!
Outra surpresa importante para os biólogos: encontramos no mundo nanoscópico as maiores moléculas que existem, as biomoléculas, ou moléculas da VIDA! As biomoléculas são formadas por longas cadeias de carbono, com algumas poucas variações de elementos anexados, como metais e gases que vão se acoplando às cadeias.Começamos então a dar nomes às moléculas, dependendo de como se combinam, ou que elementos carregam. Assim, chamamos um grupo de moléculas enormes de proteínas- carregam sempre átomos de nitrogênio ligados à cadeia carbônica e têm a propriedade de montar estruturas, como os músculos, como a carapaça dos caranguejos, mas também algumas sementes de plantas saborosas e energéticas como as castanhas.
Outras grandes moléculas se chamam enzimas- podem ser encontradas nas frutas e desencadeiam reações como na digestão de alimentos. Encontramos também a hemoglobina que faz o vermelho de nosso sangue, contendo um átomo de ferro em seu centro. Essa molécula exerce uma atração irresistível sobre o gás oxigênio capturando-o, passando então a distribuí-lo por todo o nosso corpo, permitindo a respiração e as transformações de energia para tudo que fazemos. Nesse mundo encontramos também o vírus, que são definidos como “um DNA envelopado” por camadas de proteínas. Não são células, logo não são vivos.
Cada célula vai ativando uma parte de seu DNA, segundo sua função específica, mas mantendo o mesmo código, que funciona como marca registrada de cada ser vivo e de cada espécie. Daí vem a importância desse código, que funciona como marca registrada de cada ser vivo e de cada espécie. Daí vem a importância desse código, lido a cada geração que se renova. É uma leitura interessante pois se faz por meio da gestação de novos seres e também com a renovação de cada uma de nossas células. A continuidade de nossos corpos e cada espécie, bem como suas modificações, está relacionada a essa receita molecular. Esse é um assunto para muitas páginas de muita ciência. Espero que você tenha encontrado aqui uma porta de entrada para o mundo nanoscópico, maravilhoso e cheio de possibilidade.
Do Almanaque Aluá (edição 2, 2006)
A foto acima é do fotógrafo japonês Miki Asai. Usando lentes de extrema potência ele foi desvendar a beleza de um mundo microscópico em seu jardim.
Maria Paula Bonatto, Doutoranda da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/ Fiocruz
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