jul 02, 2016 Air Antunes Politica 0
Pais que se orgulham do sucesso dos filhos é algo natural. Muitos estudam bastante, se diplomam e vão à luta transmitir ao mundo o conceito de seus aprendizados, ganham dinheiro, notoriedade e admiração. Outros não estudam mas embarcam em atividades que também vão ganhar muito dinheiro, vão tornar-se modelos, jogador de futebol ou atleta de qualquer outro esporte rentável, ou vão desempenhar uma arte, nobre ou fútil. Dependendo do estágio que alcançam tornam-se celebridades. Há também os filhos que não se engajaram em nada disso, mas enfim, arrumam modestos empregos, defendem suas vidas de uma forma que também orgulham seus pais, pois são honestos, pessoas decentes, não se vinculam à drogas, etc. e etc.
Por falar em honestidade, algo que é menos uma virtude do que uma obrigação, a falta dela é visível também em quase todas situações acima. A honestidade é um princípio de berço, antes de mais nada. E é justamente tal princípio que se requer, por exemplo, do político.
Também deve orgulhar os pais o jovem filho que se embrenha na política, que a encabeça com afinco e disposição. Mas é interessante salientar que existem políticos e políticos. Há o jovem que é imbuído de ideologia, ele pratica a política como exercício, como uma ciência. Este jovem tem conhecimento profundo da historicidade, da influência do país e do mundo sobre sua comunidade, a política para ele é uma forma, a principal talvez, de evoluir o mundo, de evoluir as pessoas, e de garantir um futuro muito melhor do que o presente.
Digamos, também, que existem os pais que se orgulham do seu filho, daquele que não estudou, que não se instruiu em patavina alguma, que não lê, que entende do real conceito de política tanto quanto entende da pilotagem de um disco voador, mas insiste em praticá-la, a seu modo, apenas como forma de se dar bem na vida, de ganhar dinheiro seja lá da forma que for, não se importando de maneira alguma com os lapsos de caráter inseridos. Ele quer mesmo é “pilotar” um carrão de luxo, comprar bois, ranchos, fazendas, casas na praia, e assim por diante. Resumindo: quer ficar rico, muito rico, milionário. Tudo isso com o dinheiro público, afinal de contas para isso, pensa ele: “vamos entrar na política!” E entram!
Os pais desses “meninos”, desses “guris”, sabe-se lá se por ingenuidade ou também por fortes lapsos de caráter”, por crise de honestidade, também não deixam de se orgulhar de seus filhos de seus “guris”. Mas digamos que eles, esses pais, sejam ingênuos, que imaginam seus filhos na condição de políticos notórios, ilibados, estadistas, verdadeiros homens públicos em seus exercícios, em seus cargos, eletivos ou não! Neste caso, somos levados a compará-los à ingenuidade da mãe retratada em “O Meu Guri”, música composta e interpretada por Chico Buarque de Holanda, que vê no seu filho um bom menino, que não faz nada de errado, e dizendo “Eu não entendo essa gente, seu moço/ Fazendo alvoroço demais..”. A analogia não vale para os pais (ou parentes) que se fingem de bestas!
Para elucidar a analogia vale a pena ouvir “O Meu Guri” no vídeo e ler sua letra na sequência.
O MEU GURI
Chico Buarque
Quando seu moço nasceu meu rebento não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome, eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando não sei lhe explicar, fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse que chegava lá
Olha aí
Olha aí
Olha aí ai o meu guri olha aí
Olha aí
É o meu guri, e ele chega
Chega suado veloz do batente e traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro seu moço que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro: chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço uma penca de documentos pra finalmente eu me identificar, olha aí
Olha aí ai o meu guri olha aí
Olha aí
É o meu guri, e ele chega
Chega no morro como carregamento, pulseira cimento relógio pneu gravador
Rezo até ele chegar lá do alto, essa onda de assalto está um horror
Eu consolo ele ele me consola, boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo olho pro lado e o danado já foi trabalhar, olha aí
Olha aí ai o meu guri olha aí
Olha aí
É o meu guri, e ele chega
Chega estampado, manchete, retrato,com vendas nos olhos legendas e as iniciais
Eu não entendo essa gente seu moço fazendo alvoroço demais
Um guri no mato acho que tá rindo acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço ele disse que chegava lá
Olha aí
Olha aí
Olha aí ai o meu guri olha aí
Olha aí
É o meu guri!
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