maio 22, 2014 Air Antunes Artigos 2
Até por volta do ano 2000 o turismo brasileiro era classificado como o 13º ítem da economia do país, mas já em 2006 era o quarto. Brasileiros de classe média baixa e mesmo os considerados pobres já viajam de avião, embora uma elite arrogante e exibicionista que não quer se misturar com o povo reclame contra isto. Cruzeiros cortando os mares, algo considerado muito distante dos sonhos de 90% de brasileiros, tem sido possível para classes menores, com um pouco de controle nas contas até um cidadão classe média baixa embarca num destes luxuosos transatlânticos. Viajar para o exterior também está mais ao alcance de uma grande parcela que só via países exóticos e outros distantes de seus sonhos pela televisão, assim como conhecer o seu próprio país tornou-se mais fácil, pacotes de viagens oferecem as mais excitantes promoções. O carro zero, até por conta de prestações plausíveis igualmente, tem sido possível.
Podemos comparar esta elite ou aqueles que adotam os argumentos elitistas e discriminatórios para criticar o Brasil atual, à personagem citada no samba de autoria de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, de 1956, que consagrou-se na voz de João Gilberto. Afirma esta pérola da MPB: “Madame diz que a raça não melhora/ Que a vida piora/ Por causa do samba/ Madame diz que o samba tem pecado/ Que o samba é coitado / Devia acabar/ Madame diz que o samba tem cachaça/ Mistura de raça, mistura de cor/Madame diz que o samba é democrata/ É música barata/ Sem nenhum valor/ Vamos acabar com o samba/ Madame não gosta que ninguém sambe/Vive dizendo que o samba é vexame/ Pra que discutir com madame…(…)”
Pois então, madame (leia-se a elite raivosa) não quer essa “mistura de raça” (não quer misturar-se ao povo, ou que o povo tenha acesso a uma vida melhor), “não gosta que ninguém sambe” (não quer o povo, o filho do pobre ingressando na universidade, não quer vê-lo viajando de avião, vê-lo melhor alimentado). Madame diz “Vamos acabar com o samba” , ou seja (“vamos tirar de lá governo que apregoa justiça social”). Madame queria manter seu cãozinho mais valorizado do que a empregada!
Muitos brasileiros, ácidos com este novo Brasil, são a “madame”, não querem que a cara do brasileiro, do povo, seja vista nos espaços de uma meia dúzia que se considera fina, “chique”. “Madame” não gosta do perfil miscigenado de uma raça. “Madame” se molda aos padrões europeizados. Enfim, atrás de uma revolta contra o Brasil de hoje está o desejo de não se misturar àquele cidadão moldado não pelos aromas franceses mas pelo suor derramado nas linhas de produção industrial, no solo que faz crescer o alimento produzido pelo país, nas carteiras escolares da escola pública, etc. É certo que a força produtiva deste país está muito além das páginas da revista Caras, do colunismo social, das daslus da vida, elementos que nada acresceram e nada acrescem ao Brasil que queremos.
Pelo bem do Brasil, vamos acabar com a madame!
happy wheelsnov 12, 2023 0
out 12, 2023 0
jul 06, 2023 0
maio 31, 2023 0
Ótimo artigo. Parabéns ao jornalista que a escreveu!
Deixe a madame viver.
Ela que aprenda a conviver com os novos tempos!