A saga dos judeus que, no começo do século 19 e ao longo de 150 anos, deixaram o Marrocos, no norte da África, para viver no norte do Brasil, já despertou a curiosidade de muita gente em várias partes do mundo. Recentemente tem se tornado cada vez mais conhecida também aqui no Brasil, graças às inúmeras pesquisas realizadas e aos documentários que vêm sendo produzidos sobre o assunto, como é o caso do mais recente documentário que se chama Eretz Amazônia (Terra da Amazônia, em hebraico), produzido com apoio da TV Cultura do Pará.
O túmulo do rabino em Manaus.
Eles se autodenominam “Os hebraicos” e vieram para a Amazônia no tempo áureo da borracha, espalhando-se pela região que vai desde Belém até Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia. Os judeus “cablocos”, como são também chamados, chegam a 60 mil e mantém vivas as tradições e leis judaicas.
Entre as muitas histórias curiosas que se contam desse povo está a história de um rabino que virou santo popular católico. A história é do rabino Emannuel Muuyal, que por volta de 1900 deixou a Palestina para iniciar uma campanha de arrecadação de dinheiro para a escola de rabinos que ele mantinha na Terra Santa. Muuyal foi ao Marrocos e soube que muita gente tinha vindo para a Amazônia fazer fortuna com a extração da borracha. O rabino , então, viajou ao Brasil e se estabeleceu em Manaus.. Em 1908, Muuyal morreu, vítima de uma doença tropical. Seu corpo foi enterrado num cemitério cristão no centro de Manaus porque não havia um cemitério judaico na capital do Amazonas. Não demorou muito, começaram a surgir placas de agradecimentos de graças alcançadas.
Nos anos 40, a comunidade judaica fez um muro em torno do túmulo do rabino para separá-lo do cemitério cristão. O muro acabou virando um espaço a mais para as placas e bilhetes de agradecimentos por milagres. Por volta de 1978, um ministro do governo israelense, sobrinho de Muuyal, enviou uma carta solicitando o traslado dos restos mortais do rabino para Israel. A própria comunidade judaica se opôs e até hoje o túmulo do rabino continua em Manaus, cercado de relatos e milagres atribuídos a ele.