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O sexto hino homérico: a Afrodite

jan 10, 2016 Air Antunes Ilustrada 0


 

"O Nascimento de Vênus" (1483) , do pintor italiano Sandro Boticelli (1445-1510).

“O Nascimento de Vênus” (1483) , do pintor italiano Sandro Boticelli (1445-1510).

LUIZ ALBERTO MACHADO CABRAL

 O hino homérico descreve o que se passa com Afrodite assim que o mar lhe dá nascimento

 O tema dessa composição, que muitos consideram um hino completo, e outros, um exórdio, é a descrição do nascimento de Afrodite a partir da espuma do mar (versos 3-4) e dos enfeites com os quais as Horas ataviam a deusa, no instante em que a recebem (versos 5-13).

Hesíodo já havia cantado como Uranos, o deus do Céu, vinha com as trevas da Noite divina deitar-se cheio de amor sobre a Terra, mas no momento do ato amoroso fora brutalmente mutilado por Cronos. Seu membro viril flutuou por longo tempo no mar agitado; branca espuma brotou do sêmen divino, e aí surgiu uma moça. Ela aportou primeiro em Citera, depois em Chipre; ao pisar no solo, toda terra floresceu a seus pés. Ladeavam-na Eros e Hímeros, os gênios do desejo amoroso, que a conduziram à assembléia dos deuses. Sua parcela entre homens e deuses veio a ser “conversas de moças, engano e doce prazer, abraço e carícias”.

O sexto hino homérico descreve com riqueza de pormenores o que se passa com a deusa assim que o mar lhe dá nascimento: o úmido Zéfiro a impele, com a suave espuma das ondas, rumo a Chipre, onde as Horas a recebem com alegria e a revestem de trajes divinos; depõem na sua cabeça uma coroa de ouro e nas suas orelhas brincos preciosos; enfeitam-lhe o colo e o peito com áureos colares com os quais elas próprias se adornam quando vão à morada dos deuses, na casa do pai (Zeus). Levam aos deuses a soberana assim ataviada, e todos eles, ao vê-la, ardem de amor.

“Que quadro! A beleza emerge do imenso elemento e o torna espelho de seu celestial sorriso. É de notar que a ‘nascida da espuma’ do mito foi venerada desde tempos remotos como deusa do mar e da navegação. No entanto, ela não é uma divindade marinha no sentido em que o são Posídon e outros senhores do mar. A mesma majestade com que ela enche toda a natureza fez do mar o local de sua aparição. Seu advento aplaina as ondas e faz a superfície das águas fulgir como uma jóia. Ela é o divino encanto do mar calmo e da feliz travessia, assim como é o encanto da natureza florescente.”  Ela é denominada “deusa do mar sereno”, e faz com que os navios cheguem em boa hora ao porto; por isso ela foi chamada de “deusa da boa viagem”, Eúploia, “que assegura a navegação propícia”, Akraía, “deusa dos promontórios” (porque lhe dedicavam templos em locais que são bem visíveis do mar), Pontía, “equórea”, isto é, “marítima”, e Nauarkhís, “senhora das naus”.

Todas as épocas falam com entusiasmo das dádivas de Afrodite. Antes de tudo, naturalmente, destacam-lhe a beleza e o encanto sedutor (kháris). Ela própria é a mais bela das mulheres – não de modo virginal, como Ártemis, tampouco toda decoro, como as deusas das núpcias e da maternidade, antes plena de uma pura beleza e graça feminina, rodeada pelo úmido brilho do prazer, eternamente moça, livre e feliz, tal como nasceu do mar imenso. As artes plásticas rivalizaram no representar tal imagem, a encarnação do amor. Desde Homero, os poetas a chamam de “dourada” e lhe descrevem como a deusa “amiga dos sorrisos” (philommeidés), ou “de doce sorriso” (glykymeílikhos), como no nosso hino. Helena a reconhece pela encantadora beleza do colo e dos seios e pelo brilho dos olhos e o nosso hino destaca-lhe “o peito que esplende qual prata” (verso 10). As Cárites, assim como as Horas, que representam amáveis e benfazejos espíritos do crescimento, são suas servidoras e companheiras. Dançam com ela, banham-na, ungem-na e tecem-lhe as vestes. O nome das Cárites significa “graça e sedução”, que são justamente os dons com que Afrodite brinda Pandora, a primeira mulher.

Por outro lado, ela distingue-se muito claramente de Eros, que o mito atribui-lhe como filho. Eros representa o espírito divino do desejo de procriar e do ato amoroso. Mas o mundo de Afrodite, como magistralmente captou Walter Otto, “é de outra ordem, muito mais amplo e rico. Neste mundo, a idéia da essência e do poder divino não emana, como no caso de Eros do sujeito desejante, e sim do amado. Afrodite não é a amante, ela é a beleza e a graça risonha, que fascina. Nesse caso, o que vem primeiro não é o impulso de possuir, mas sim o encanto da aparência que leva de forma irresistível à união. O segredo da completude e unidade do mundo de Afrodite reside em que na atração não atua um poder demoníaco em virtude do qual um ser insensível agarra sua presa. O atraente quer entregar-se, o amável se inclina para aquele que sensibilizou com lânguida franqueza, que o torna ainda mais irresistível”.

Sem dúvida alguma, o hino VI foi recitado por ocasião de algum concurso de poesia, para o qual o aedo (isto é, o “poeta-cantor”) pede a ajuda da deusa para “compor o seu canto”, ou seja, que Afrodite o “inspire” (versos 19-20), embora não revele o motivo e tampouco o local em que esse concurso teria ocorrido. Quanto à data de sua composição, não há nenhuma evidência que permita inferi-la com precisão. Não há traços de empréstimo de outros hinos a Afrodite, embora haja algumas coincidências com o canto XIV da Ilíada (verso 180 ss.) e com Hesíodo (sobretudo nos versos 1, 3, 5 e 19 do hino). Allen-Halliday-Sikes, baseando-se na correspondência de alguns versos do hino com os fragmentos 4 e 5 dos Cantos Cíprios, atribuídos ao poeta cipriota Hegésias ou Estásino, presume que este hino seja igualmente da autoria de um desses, o que remontaria sua datação ao século 7 a.C.

 Luiz Alberto Machado Cabral,  professor de Língua e Literatura grega antiga e moderna, autor de” O hino homérico a Apolo” (São Paulo, Ateliê-UNICAMP, 2004), e “Os hinos homéricos”, pela Odysseus editora, que traz um CD com a declamação deste  e de outros hinos em grego antigo e em português

 

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