nov 26, 2017 Air Antunes Ilustrada 0
O primeiro censo realizado no país revelou detalhes de uma população que representava apenas 5% da atual
Além da grande extensão territorial do país, a contagem da população brasileira encontrava outros obstáculos. Por exemplo, a lei de 1850- que autorizava o governo a investir recursos no censo geral do Império- determinava que se fizessem registros civis de nascimentos e óbitos. Mas a população reagiu diante do que considerava uma tentativa de “escravizar a gente de cor” e houve revoltas em várias regiões do país, particularmente em Pernambuco que a batizou de “lei do cativeiro”. Só vinte anos depois, graças ao empenho do próprio imperador, a Lei n° 1.829, de 9 de setembro de 1870, ordenava a contagem da população do Império a cada dez anos e a organização dos registros civis de nascimento, casamento e óbito (que só seriam feitos a partir de 1890).
O censo foi marcado para 1º de agosto de 1872, quando informações seriam colhidas através de boletins de famílias dos habitantes, nacionais ou estrangeiros, livres ou escravos, especificando-se os seguintes dados: nome, sexo, idade, cor, estado civil, naturalidade, nacionalidade, residência, grau de instrução, religião, doenças e grau de parentesco de cada pessoa com o chefe da família. Seria feita também a contagem dos que viviam em habitações especiais, como militares, marinheiros, presidiários, estudantes em internatos, pacientes de hospitais, hóspedes de hotéis, trabalhadores de fábricas, oficinas industriais e obras públicas, o clero regular, e outros. Nem todas as províncias fizeram o censo na data prevista. Houve atrasos em Mato Grosso (dois meses depois), Minas Gerais e Goiás (só em 1873) e São Paulo (só em 1874). A apuração foi lenta e apenas em 1877 foram publicados os resultados. A lei previa censos de dez em dez anos, mas o segundo só ocorreu em 1890, já na República.
O Censo de 1872 foi o primeiro feito no país e o único no período imperial. Especialistas em demografia o consideram “uma fonte histórica de razoável confiabilidade”, apesar de algumas distorções. A população brasileira chegava a 9.930.478 habitantes, distribuídos em vinte províncias e um município neutro, a Corte, com 641 municípios e 1.473 paróquias. Os homens perfaziam 52% do total. A faixa etária mais numerosa era a dos adultos de 21 a 40 anos (32,9%), distribuindo-se assim as demais: 0-10 anos (24,6%); 11-20 anos (21,1%); 41-50 anos (12,8%). Os com mais de 51 anos eram 12,8% e os idosos com mais de 71 anos só chegavam a 3,4%.
O dado mais interessante do Censo revelou que Minas Gerais era a província com a maior população do Império, com um total de 20,5%. Ou seja, podia-se dizer, na época, que um em cada cinco brasileiros era mineiro. Desmentindo a visão de que Minas teria se esvaziado após o declínio da mineração, seu aumento demográfico coincidia com uma economia voltada para a produção de alimentos para o mercado interno, apoiada na mão-de-obra escrava: era a província com o maior número absoluto de escravos no Brasil (Minas contava com 25% da população cativa do país; o Rio com 19% e a Bahia com 11%). Ou seja, podia-se dizer também que um em cada quatro escravos brasileiros estava em Minas…A esta altura, entre os negros recenseados, 84,8% eram livres e 15,2% cativos.
A população “branca” do Império representava 38% do total. Assim, arredondando as contas, em cada dez brasileiros, quatro eram “brancos”. A presença majoritária da população branca ficava nas províncias do Sul (Rio Grande do Sul), Santa Catarina e Paraná) e em São Paulo, mas havia uma quantidade significativa de indígenas no Rio Grande do Sul e no Paraná. Os índios predominavam no Amazonas, onde chegavam a 2/3 da população, e no Pará, mais de 15%.
Um dado significativo no que diz respeito à instrução e ao papel social da mulher: dos brasileiros livres, 23,4% dos homens e 13,4% das mulheres sabiam ler e escrever.
O Brasil evoluiu de uma população de quase 2,5 milhões de habitantes em 1808 para quase 15 milhões em 1890. Ou seja, da chegada da Corte até o final do Império, a população cresceu seis vezes. Com uma população quase vinte vezes superior àquela da época do primeiro Censo, o Brasil de hoje pode ver naquele pequeno mundo em 1872 uma sociedade ainda escravocrata, embora, segundo os dados, os escravos não sejam mais a principal força de trabalho. De “A Construção do Brasil”.
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