dez 05, 2015 Air Antunes Ilustrada 0
ROSEMIRO A. SEFSTROM
Há algum tempo ouvia algumas pessoas falarem da solidão nos tempos atuais, mas se referiam a esta questão como conseqüência da vida nos dias atuais. Diziam que a solidão é algo comum para um tempo onde as pessoas se relacionam com máquinas e não tem mais aquela conversa de final de tarde. Aquela velha e boa conversa, em que sentavam-se nas poucas cadeiras que tinham e compartilhavam um bom papo com um mate amargo, com um cafezinho ou qualquer outro tempero.
Mas, não me parece que a solidão seja apenas resultado da modernização, da convivência entre homem e máquina. Afinal, nunca se teve tantos aparelhos celulares, nunca tivemos tantos computadores ligado à internet, tantos perfis no Facebook e tantos outros sites de relacionamento. Poderíamos, inclusive, buscar dados na internet, das horas de conversa dos telefones que temos nos dias atuais. Por essa lógica, posso dizer, com tranqüilidade que não é por falta de companhia que muitas pessoas sofrem de solidão.
Um dos fatores que tenho acompanhado é a crescente quantidade de pessoas que fala e não diz nada, assim como aqueles que escutam , mas nada ouvem. É um fenômeno fácil de se observar, a quantidade de livros, sites, revistas, palestras e tantas outras fontes de informação que falam muito, mas nada dizem. Algumas pessoas precisam falar, não estou dizendo do ato da fala, mas de colocar para fora o que tem dentro de si e não encontram mais lugar. Tem muito mais pessoas com quem conversar do que tinham seus pais, seus avós e assim por diante, mas não conseguem se sentir ouvidas. Por isso, muitas vezes os partilhantes saem do consultório tão bem após uma consulta de cinqüenta minutos, pois foram ouvidos, o interlocutor fez parte do seu jogo de linguagem.
Não é a quantidade de palavras que essas pessoas dizem que faz com que elas coloquem para fora seus conteúdos, mas a maneira como fazem isto. Essas pessoas geralmente sentem-se sozinhas, visto que parecem estar conversando com pedras, não tem retorno além do eco. Pior do que isso, são cada vez mais jovens as pessoas que vem reclamando de solidão. Você sente que está conseguindo dizer o que está dentro de você, e você ouve as pessoas com quem está. Para alguns a solidão é uma generosa companhia, aquela que não incomoda, mas que conduz o silêncio do pensamento. Mas, para outras pessoas, a solidão é como um carrasco, que tortura, machuca, pelo simples fato de ficar ali, parado, quieto, avisando algo que não temos como saber.
Pense nisso!
Rosemiro A. Sefstrom, filósofo clínico de Santa Catarina
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