Introduzida na América Latina pelos espanhóis e portugueses a malhação de Judas é uma tradição das comunidades católicas e ortodoxas. A malhação (sempre no sábado de aleluia) consiste em malhar um boneco do tamanho natural de uma pessoa representando Judas Iscariotes, o discípulo que traiu Jesus Cristo ao entregá-lo pela recompensa de 30 moedas aos romanos, estes, insuflados por fariseus que não aceitavam (dor de cotovelo) a forma de como doutrinava aquele que dizia ser rei de um reino que não é da Terra.
Na verdade, Jesus torturado, crucificado, o foi menos para salvar a humanidade do que por confrontar o sistema, foi sim preso e morto por uma razão política. Pôncio Pilatos, o governador romano da longínqua Judéia estava bem queimado junto ao Senado e ao imperador Tibério em Roma, e a sua emblemática frase “Sou Pilatos, lavo minhas mãos” acabou soando de maneira evasiva já que ele, para não piorar sua situação, queria evitar uma rebelião entre os judeus na província que governava por algo que até não lhe dizia respeito mas que poderia configurar sua incompetência, e assim acabou determinando a tortura contra Jesus e a consequente morte por crucificação. Quanto a Judas, terá sido mesmo ele um traidor, já que o que ele fez estava previsto nas escrituras?
Divagações bíblicas à parte, a traição demanda um vasto leque, sempre referida principalmente como motivação contrária à harmonia conjugal, pode ser também estendida em outras nuances como trair a confiança do povo, daí a malhação contra determinado político (quem estará sendo o principal malhado neste momento?). Trair pode ser o julgamento acusatório que fazemos contra um amigo, antes de ouví-lo. Trair pode ser o ato de dissimuladamente tratar com inferioridade uma pessoa que nós sempre podemos contar com ela. Trair é fingir que somos todos iguais mas que no fundo nos achamos superiores. Trair é conquistar apoio por algo que prometemos e que temos a certeza de que não vamos cumprir, não apenas por incompetência mas também por má-fé. Trair é, em síntese, destruir a confiança conquistada. E então, quem devemos malhar neste momento de nossas vidas¿