No Brasil , negros, índios, mulheres, jovens, crianças e pobres em geral dão testemunho de uma violência que não é apenas a violência que vemos amplamente divulgada pelos meios de comunicação, aquela que faz erigir muros e grades em condomínios ou nos faz defender medidas punitivas extremadas contra os criminosos. Trata-se também de uma violência silenciosa, porém perversa, que é cometida historicamente contra os mais pobres deste país: a negação dos direitos mais elementares, como saúde, educação, trabalho, segurança.
As soluções para o problema da violência são as mais extremadas e não levam em conta a carga de violência simbólica em que se baseiam suas ações. Se não é o extermínio de jovens , é o encarceramento em massa daqueles que representam um risco para a sociedade. Daí a atualidade da polêmica em torno de temas como diminuição da idade de imputabilidade penal e pena capital. Com isso, o Brasil já caminha na direção de países como os Estados Unidos, onde a população carcerária é a maior do mundo. Segundo o relatório da organização de direitos humanos Human Right Watch, a população carcerária no Brasil aumentou de 114 mil em 1992 para 300 mil em 2004. Neste contingente, os jovens de 18 a 24 anos representam 30%.
A simples identificação de culpados, emprestando territorialidades diferenciadas às vítimas e aos agressores, revela-se como forma escapatória de confirmar a violência. É preciso reconhecer que estamos diante de um problema estrutural e que isso não resolve com medidas que visam a qualquer custo garantir a segurança de uma minoria privilegiada em detrimento dos direitos da maioria pobre violentada de diferentes formas. Isso apenas faz crescer a violência.
Marco Alexandre de Aguiar é Doutor em História pela UNESP