fev 26, 2015 Air Antunes Angatuba 0
Prefeito de Angatuba no período 1973/1976, Alfio Verardi, atualmente um bem sucedido empresário no município, voltou a se candidatar para o cargo majoritário nas eleições de 1982. Não venceu, mas não foi por falta de programa de governo, propostas surgiram de forma consistentes principalmente para o setor agrícola, inclusive com a promessa da criação de uma companhia de alimentos, que seria a COMA (Companhia Municipal de Alimento).
A respeito das eleições de 1982, o eleitorado brasileiro foi chamado também para eleger governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Enquanto que prefeito e vereadores eleitos naquele ano teriam mandato de seis anos, governadores, senadores e deputados teriam quatro. Em 1982 o povo ainda não tinha conquistado o direito de votar para presidente da República. O último presidente eleito pelo povo até então havia sido Jânio Quadros.
Para prefeito de Angatuba foi eleito naquele ano José Emílio Carlos Lisboa (PMDB) que assumiu a primeira de suas quatro gestões.
Na sequência, na íntegra, o programa de governo do candidato Alfio Verardi
AUTO APRESENTAÇÃO DE UM CANDIDATO
SEU PROJETO DE INDUSTRIALIZAÇÃO E INCENTIVO AGRÍCOLA EM SUA PLATAFORMA DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL
Caro eleitor
O candidato que se vos apresenta é natural de Jundiaí, deste Estado , onde nasceu aos 09 de junho de 1929 e aqui vive desde o ano de 1957, portanto, quase a metade de sua vida nesta cidade.
Perdi meu pai aos 21 meses de idade, juntamente com mais cinco irmãos, tendo o mais velho a idade de 14 anos.
Fui lançado ao trabalho muito cedo, já aos 7 anos era pintor de chassis de automóveis, aos 12 anos ingressei como contínuo no Consulado da Dinamarca e aos 14 anos era vendedor pracista na capital de São Paulo, tudo isso para complementar os parcos recursos da roupa lavada por minha mãe, para o sustento da família.
Paralelamente ao trabalho cotidiano, fiz meus primeiros estudos no Grupo Escolar Marechal Deodoro e o secundário incompleto no Liceu Marechal Deodoro, na capital de São Paulo.
Nos idos de 1957 exercia a função de motorista da Secretaria da Saúde, na capital de São Paulo, de onde fui transferido para esta cidade, no Centro de Saúde local.
O resto de minha história fiz aqui em Angatuba, sendo do conhecimento de todos.
Aqui me casei e aqui nasceram os meus cinco filhos. Também aqui, e somente aqui fiz o meu patrimônio.
Por tudo isso, aprendi amar esta terra, que por afinidade é minha terra.
Fui prefeito de Angatuba no quadriênio de 1973 a 1976, quando ainda tudo haveria de ser planejado e, nem tudo o que foi planejado deu tempo de ser executado.
Era nossa prioridade a industrialização do Município. No entanto, os recursos existentes só permitiram a vinda da Papelok e Braskraft, esta última no fim de meu mandato, e que por descuido e menosprezo da administração que me sucedeu, Angatuba acabou por perdê-la, lamentavelmente.
Na ocasião, Angatuba não tinha estrutura para qualquer tipo de indústria, faltava energia elétrica, telefone, água, estradas, enfim, toda a infraestrutura necessária.
Gastamos precioso tempo junto às secretarias de Estado, na busca de recursos que dotassem nosso município de condições para acolher um parque industrial.
Conseguimos da CESP uma linha de alta-tensão com torres metálicas e uma sub-estação com capacidade de energia elétrica para servir, com eletrificação rural, todo o Município, a cidade e quantas indústrias desejassem aqui se instalar.
Penso que ninguém mais se lembra da precária linha que vinha de Buri, para abastecer nossa cidade e que nos deixava no escuro a cada chuva que ameaçava cair.
Não é mesmo uma boa lembrança e sinto-me feliz por ter apagado isso da nossa memória. A água era também uma tragédia. E o telefone nem se fala, realmente ele não falava, ainda que se insistisse na manivela. As linhas, a formar um emaranhado de fios sobre as ruas, exigiam sempre que um funcionário as desmembrassem com uma taquara!
Assim era Angatuba.
Por isso, estas e outras frentes de trabalho absorveram o curto espaço de tempo que estive frente à administração municipal e acabei por ficar com uma grande dívida para com a zona rural. Apesar disso, ao encerrar meu mandado, deixei a Prefeitura dotada de equipamentos rodoviários em condições de dar completo atendimento, pelo menos, às estradas municipais.
Como isso não foi feito, volto a oferecer meus serviços ao Município de Angatuba, candidatando-me ao cargo de Prefeito.
Caso venha a ser eleito, a agricultura será prioritária em minha administração, ao lado da luta para conseguir mais indústria, que gerem ICM e empregos.
Com a saída da Braskraft acuada, tornou-se Angatuba um ponto negro para aqui se localizarem novas indústrias. Ninguém teve a coragem de se aventurar com um grande empreendimento no local, onde nenhum apoio se ofereceu a uma grande indústria. Passados já quatro anos da tragédia da Braskraft, nenhum outra se apresentou para substituí-la.
Iremos buscar novas indústrias e movimentar os recursos de que dispomos. Temos terras férteis e vocação para a agricultura.
A agricultura será a nossa maior indústria.
Para isso nos inspiramos em planos e projetos já experimentados, com sucesso, em outros lugares. Pretendemos sua aplicação em Angatuba.
Nestas condições, apresentoo aqui, resumidamente, meu projeto, parte integrante de minha plataforma administrativa.
Como administrador público que fui, sei que o dinheiro do povo não pode ser dispersado indiscriminadamente. É preciso um plano de aplicação, sua aplicação e sua aprovação.
Par fazer da agricultura uma grande indústria é necessário que a Prefeitura crie um órgão com esse objetivo. Este órgão fará a manipulação de todos os recursos, destinados pela Prefeitura, com parte de sua arrecadação e de outros recursos oriundos de convênios com a União e o Estado, através de seus órgãos de ação pertinentes.
Desta forma, pretendemos criar uma Companhia Municipal de Alimentos-COMA, com o objetivo de produção e distribuição de alimentos e, consequentemente, a criação de inúmeros empregos para a população.
A Companhia será estruturada: Através de seu órgão de produção, a COMA prestará assistência concreta ao pequeno agricultor, que constituirá de:
1-Ajuda direta na preparação do solo ao pequeno agricultor, entendido este o proprietário de terras com área não superior ao Módulo do Município, instituído pelo INCRA e, aos arrendatários de igual área com contrato agrícola de prazo não inferior a três anos.
Para a ajuda na aração e gradeação do terreno a ser plantado, a COMA participará com máquinas e funcionários e o proprietário ou arrendatário, com as despesas de manutenção, ou seja, combustíveis e lubrificantes.
O Município será dividido em regiões agrícolas e ali será destinado o maquinário necessário ao atendimento dos pedidos que houverem sido feitos com antecedência. A insuficiência de máquinas da COMA será complementada em decorrência de convênios com a CAIC;
2-A COMA fará, também, o fornecimento de fertilizantes e defensivos por preço de fábrica (eliminando na transação os intermediários).
Essa assistência comercial será prestada a todos os agricultores do Município e, aos pequenos produtores a COMA ainda lhes dará o seu aval para funcionamentos.
3-A COMA se encarregará da compra de toda a produção agrícola por preço de mercado e não de intermediários, e preço nunca inferior ao mínimo legal, sem despesas de depósito, porque ela agilizará a sua comercialização.
Todos os produtores e consumidores sabem do disparate existente entre o preço de produção e de venda ao consumidor. O produtor vende barato e o consumidor adquire a mesma mercadoria por preço altíssimo. Eliminado, desta forma, o atravessador, ambos se beneficiarão;
4-A COMA será também um departamento de pessoal para prestação de serviços, centralizando toda a mão de obra do bóia fria. Com isso evitará a proliferação de turmeiros, que nenhuma segurança podem oferecer aos sacrificado bóia-fria. Desta forma, esse laborioso operário será registrado com salário fixo, com todos os benefícios da Previdência Social e com trabalho garantido para o ano todo.
Aqueles que necessitarem de mão de obra, se dirigirão a COMA e em qualquer ocasião terão prestadores de serviços para quaisquer atividades.
Atualmente, o produtor arca com pesados ônus, pagando não só o trabalho do bóia-fria, mas também com o carreto e comissão de turmeiro.
Nas épocas intermitentes entre a plantação, capina e colheita, a COMA oferecerá essa mão de obra a própria Prefeitura na limpeza de ruas, córregos, lotes sujos e na conservação de estradas municipais, em forma de mutirão, substituindo o conserveiro, que pouco pode produzir sozinho;
5-Para um atendimento mais eficaz de bóia-fria e de membros de sua família, a COMA manterá um ambulatório médico e dentário, além de farmácia em convênio com a Fundação de Remédio Popular, para a venda do produto por preços mais baratos.
A COMA , além de seu órgão de produção, terá ainda um órgão de distribuição de alimentos.
Em sua política de eliminação do atravessador, como foi dito, a COMA faráa aquisição da produção agrícola.
Como, felizmente, a produção não será totalmente consumida no Município, ela se encarregará de sua venda a outros centros consumidores.
Haverá, neste órgão, um setor de sondagem de mercado, inclusive internacional. Desta forma, estudado previamente qual produto que está em falta no mercado mundial, haverá incentivo da COMA para a produção desse produto, com pretensão de exportação.
Por outro lado, a COMA colocará o produto agrícola no mercado local, a todos os comerciantes, por preço de produção, ensejando sua venda ao consumidor, por preço mais barato.
Além disso, a COMA manterá convênio com a COBAL para venda de todos os produtos de primeira necessidade aos consumidores.
É da finalidade da empresa a distribuição de alimentos por atacado e varejo, a fim de que todos se beneficiem do empreendimento.
Este é, em resumo, o projeto que pretendo executar, caso venha a ser eleito.
Estou certo que os pessimistas dirão que este é umn projeto inviável, porque o Município não tem recursos para atender tal pretensão.
Isto também diziam quando fui prefeito, de que se eu trouxesse uma indústria para o Município, só isso bastaria para marcar de êxito minha administração. E isto diziam porque o Município não tinha realmente condições para aqui abrigar uma indústria. Mas, nós criamos condições e a indústria veio, e com ela lugar para outras tantas.
Também estou certo que criaremos as condições necessárias para a nova indústria agrícola, que pretendemos.
Este projeto só não será executado, se eu não merecer a confiança do povo angatubense nas eleições de novembro próximo.
Digo, da confiança do povo, porque não procurei caminho fácil para me eleger. Permaneci no mesmo partido porque meu relacionamento é com os homens do Governo e é desse relacionamento que advirão os recursos necessários a nossa pretensão.
Não desejo apenas me eleger o Prefeito e sim ter condições de realizações como Prefeito.
Este é o projeto, e parte de sua realização depende de você, prezado eleitor. Boa sorte !
Angatuba, agosto de 1982
ALFIO VERARDI
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