Se multiplicássemos a diversidade imanente pelos olhares de quem a vê, chegarmos perto da vertigem. Valha-nos, Deus! O que fazer?
É preciso reduzir a natureza, recortá-la em categorias, reinos, elementos.
Como se houvesse olhares coletivos.
Mas teremos mesmo que ir do sal aos excrementos?
Precisamos tecer um emaranhado de valores quando nem sabemos o que é real e o que é invento?
Na natureza, voltemos a ela, a baleia bufa sozinha, mas os grasnadores e os que rugem não são apenas araras e leões. São diversos. Multicolorida legião.
Grasnadores também são a águia e o abutre. E quantos mais? Quem ousa negar ao tigre e à pantera o direito de rugir? Além disso, há os que tanto grasnam quanto rugem quando não estão com a cabeça enfiada no chão: as avestruzes.
Não podemos definir os animais pelas vozes. O que parece igual é diferente. O que parece diferente é igual.
Então as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá , é isso?
Às vezes. Depende de quem as ouve. Ou de onde se as ouve, como cantou o poeta exilado.
Não precisamos nos exilar da razão.
Nem recorrer à indiferença para reconhecer as diferenças.
Na natureza, a beleza é comum, mas bem diversa.
E entre os animais o poeta faz a diferença.
Não crocita, não farfalha, não conhece muitas vezes sua voz.