nov 18, 2017 Air Antunes Ilustrada 0
Engenheiros americanos e europeus disseram que era impossível construir uma ferrovia no paredão da Serra do mar, entre Curitiba e Parananguá. Um engenheiro baiano, André Pinto Rebouças (nascido em Cachoeira em 1838), não só encarou como venceu o desafio, criando em 1885 uma obra-prima da engenharia. Ele e o irmão Antônio, apaixonado pelas “maravilhas mecânicas de seu tempo”, foram recusados pelas escolas da Marinha e Militar do Rio de Janeiro e concluíram seus estudos de engenharia militar na Praia Vermelha, sendo André e Antônio os primeiros negros a se formar em engenharia no Brasil. Preteridos numa bolsa de estudos, viajaram mesmo assim para a Europa, custeados pelo pai, Antônio Pereira Rebouças, também negro, autodidata, um dos mais importantes advogados brasileiros durante o Império, grande defensor da Independência da Bahia, em 1822. Ao voltar, trabalharam na vistoria de portos e fortificações litorâneas. André serviu na Guerra do Paraguai, foi liberado por questões de saúde e aprovado como professor na Escola Central (depois Politécnica). Ali fundou, com Joaquim Nabuco, a Sociedade Brasileira contra a Escravidão (1880). Sonhava com um Brasil avançado e moderno. Depois da Lei Áurea, batalhou pela reforma do sistema fundiário. Monarquista, frequentador dos saraus da Corte, decidiu deixar o país acompanhando a família imperial, com a qual ficou em Paris até a morte de Pedro II. Adoentado e deprimido pelo exílio, mudou-se para Luanda, Angola, mas a partir de 1893 foi morar na Ilha da Madeira, onde teve morte misteriosa: seu corpo foi achado ao pé de um penhasco em 1898.
Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu na Bahia em 1830, filho de um fidalgo português e de uma ex-escrava, quituteira nas ruas de Salvador. Aos dez anos, mesmo sendo livre de nascimento, o pai o vendeu para saldar dívidas de jogo. Arrematado por um comerciante de escravos, acabou ficando no Rio, onde se alfabetizou e fez biscates como sapateiro e alfaiate. Ninguém sabe como conseguiu provar seu direito à liberdade, mas em 1848, novamente liberto, sentou praça na força pública de São Paulo. Foi copista, trabalhou em cartório, passou a amanuense, publicou poemas satíricos (Trovas Burlescas de Getulino, 1859) e colaborou em periódicos humorísticos e de crítica política, fundando O Radical Paulistano. Ajudou a criar uma loja maçônica em 1868 com uma escola primária de duzentos alunos e angariou fundos para libertar escravos. Mesmo sem ter formado, atuou como advogado e libertou mais de quinhentos escravos. Um dos fundadores do Partido Republicano Paulista em 1873, morreu de repente em São Paulo em 1882, no auge da militância abolicionista. No seu enterro, um grupo de negros tomou o caixão das mãos dos brancos que o carregavam.
Foi José do Patrocínio quem chamou a princesa Isabel de Redentora, o que fez os republicanos o definirem como “o último negro vendido”. Filho de um padre com a sua escrava, uma vendedora de frutas, nasceu em Campos, RJ, em 1854. Formou-se farmacêutico em 1877, mas não seguiu a profissão. Tutor dos filhos de um latifundiário, casou com a filha feste. Nos anos 1880, popularizado com o apelido de “Zé do Pato”, passou a escrever em jornais e devotar-se integralmente à Abolição. Fundou o jornal A Cidade do Rio, que durou de 1887 a 1903, quando faliu. “Um vulcão de paixões que despertava grandes entusiasmos e grandes aversões”, assim o definiu o historiador José Murilo de Carvalho. Aclamado nas comemorações da Lei Áurea, teve até os botões da casaca arrancados como lembrança. Chocou-se com os governos republicanos e empobreceu. Ainda alimentou o sonho de levar aos céus um dirigível, o Santa Cruz, que nunca deixou o solo, Tuberculoso, morreu em 1905, aos 53 anos numa casinha em Inhaúma, na periferia do Rio.
Da publicação “A Construção do Brasil”
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