mar 17, 2016 Air Antunes Politica 0
WALTER TAKEMOTO
“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente…”.
O poema acima circula pelas redes sociais atribuído a Drummond ou a Roberto Pompeu, e o utilizo aqui para tratar da posse do Lula como ministro do governo Dilma.
Já não é de hoje que setores da sociedade estão tentando alterar o tempo estabelecido no calendário, penso que desde a AP 470, que publicitariamente chamaram de “mensalão”, passaram a mobilizar todos os recursos e armas disponíveis para antecipar o que deveria ter um tempo determinado no calendário institucionalizado.
Passado-Ao Zé Dirceu arrancaram o tempo planejado de construção política de uma candidatura à Presidência. E a substituíram pelo tempo de condenação à prisão, trazendo de volta o passado de prisioneiro político, no qual os ponteiros, o dia e a noite se arrastam como se presos ao cubículo de uma cela.
E vieram as campanhas da Dilma, e o despertar das forças mais sombrias da nossa sociedade, parte delas presentes na base do apoio do governo, escancaram de uma vez por todas o reacionarismo que domina amplos setores da população.
Jovens negros amarrados em postes. Linchamentos em praças públicas. Assassinatos de líderes rurais, indígenas, ambientalistas. Chacinas de inocentes para vingar policiais mortos. E das bocas de parlamentares eleitos avalanches de detritos a favor da pena de morte, da redução da maioridade penal, de ódio contra homossexuais, mulheres, de pregação fundamentalista contra os direitos civis. O parlamento se transformou no palco privilegiado para o resgate dos tempos sombrios que iludíamo-nos que já estavam enterrados nas catacumbas.
Encurralada-
E nesse cenário vimos a presidente ser a cada dia mais e mais encurralada.
E quanto mais recuava, mais perdia sua base social e maior era o espaço de liberdade que cedia aos inimigos, à imprensa, o Judiciário, os setores da elite sedentos por reduzir a pó os investimentos nos setores e programas sociais para transformá-los em mais lucros, e aos velhos golpistas de sempre.
Ao contrário de petistas e governistas, coloco entre os que hoje estão contra o governo uma parcela importante da população que diante da crise vê desmoronar a ilusão de ascensão social, de um futuro melhor, ao se deparar com o desemprego, a impossibilidade de continuar consumindo, de continuar fazendo do aeroporto uma rodoviária, de sair da periferia.
Cotidianamente os meios de comunicação transformaram seus noticiários em um feitiço do tempo. Incansavelmente bombardearam de manhã, de tarde e de noite escândalos e mais escândalos sobre a corrupção dos petralhas, agora em uma nova campanha de marketing batizada de “Lava Jato”. E nunca se viu o Judiciário trabalhar com tanto afinco para produzir ações espetaculares para alimentar matérias especiais para a TV e capas espetaculares para as revistas semanais.
E o que queriam era parar no mês de janeiro de 2015 o governo Dilma e suprimir para o PT o tempo político até 2018. Se conseguiram para o Zé Dirceu, esperavam fazer o mesmo com o Lula agora.
Tanto fizeram que o próprio Lula atendeu aos desejos deles: virou o ministro da Casa Civil e transformou o dia 16 de março de 2016 no dia 1º de janeiro de 2018.
E um Drummond verdadeiro nos diz:
“O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão…
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão”.
Apoio
Lula não estará aos olhos do povo, que não são os olhos dos golpistas, ali como um ministro do tipo Zé Eduardo, Mercadante ou qualquer um do PMDB, que na verdade são ilustres desconhecidos. Lula, apesar da chuva de bombas desferidas contra ele e sua família pelo consórcio meios de comunicação-Judiciário-partidos oposicionistas, ainda consegue o apoio de parcela importante da população e o direito à dúvida de muitos e muitas. Por isso, a partir de amanhã, Lula terá sob fogo cerrado desse consórcio os tradicionais 100 dias de governo para mostrar se é capaz de trazer para o tempo presente o tempo desprezado pela Dilma, representado pelo curto período do segundo turno mas de grande força política.
Lula terá que demonstrar se é capaz ainda de realizar o que diz Walter Benjamin “Em cada época é preciso tentar arrancar a tradição ao conformismo que quer apoderar-se dela.[…] O dom de despertar no passado as centelhas de esperança…”.
Se do imobilismo, conservadorismo, que se abateu sobre o governo Dilma e outros governos do PT. Se da perplexidade e quase apatia que se abateu sobre parte importante dos dirigentes e militantes do PT, Lula for capaz de reacender as centelhas da esperança pela qual se luta, sem medo de ser feliz, então poderemos declamar em voz alta nas ruas novamente Drummond:
“Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gesto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia”.
Finalizando, para isso será preciso que o Lula desse tempo não se reduza ao a repetição do tempo que passou, mas que teimou em habitar o Palácio do Planalto por mais de cinco anos. Caros Amigos
Walter Takemoto é educador
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