Atento ao passado de sua família, em especial de seu avô paterno, criterioso na reunião de amplo material para ampliar a documentação histórica de seu clã no estado da Bahia, o professor César Lemos Ribeiro reeditou “Israel Ribeiro-As minhas prisões” , livro que relata episódios políticos do período de estado de sítio ocorrido na década de 1920 durante o governo de Artur Bernardes, presidente da República de 1922 a 1926. O principal objetivo do professor em destacar a política opressiva daquela época reside justamente em seu avô, Israel Pinheiro (1883-1948), que passou 34 dias confinado em um exílio por ter escrito artigo com críticas a Góis Calmon, governador da Bahia na gestão 1924\1928. Israel era vinculado ao ex-governador José Joaquim Seabra. Preso em 1924, quando a Bahia vivia estado de sítio, Israel não pode se comunicar com a família, foi levado apenas com a roupa do corpo para o Rio de Janeiro, a antiga capital federal, na condição de exilado político.
O livro “As Minhas Prisões” de autoria de Israel Ribeiro, conforme explica César, “estava desaparecido pela covardia da ditadura”. Depois de longa busca foi encontrado um volume, agora reeditado com síntese biográfica e notas explicativas, além de referências aos descendentes. Para conseguir reunir material que desse maior substância à esta reedição comentada , o professor Cesar contou com a colaboração da professora doutora Mônica Celestino graduada pela Universidade Federal da Bahia.
Fazendo um adendo para explicar a situação política do Brasil no período chamado Primeira República (1889-1930), em especial no governo de Artur Bernardes, o país passava por permanente instabilidade no meio político, algo provocado pela crise econômica e, consequentemente, por conflitos e revoltas armadas que foram se intensificando gradativamente. O chamado republicanismo oligárquico foi constantemente ameaçado por conspirações civis e militares, a situação jamais se amenizava e o presidente só pode governar valendo-se da condição de estado de sitio, ou seja, uma situação oposta ao estado democrático de direito justificada por um evidente descontrole institucional que amplia os poderes do chefe do Executivo até para restringir as liberdades individuais. Concentrado nas decisões do executivo federal, o governador da Bahia não deixou de aplicar também o estado de sítio.
Professor César Lemos Ribeiro
Quanto a Israel, além de militante político ele era poeta, escritor, teatrólogo, amante do teatro, até criava cenários para suas encenações. Fora das lidas políticas e artísticas, Israel era agente fiscal do imposto sobre consumo; intelectual, falava com fluência o francês e como jornalista, assim como cidadão, “prestou inegáveis serviços à democracia baiana, ao relatar e denunciar agressões à Constituição Federal de 1891”, conforme Cesar constou no livro. Um dos grandes legados de Israel, sua família, dentre eles o seu filho, o primogênito Renato de Carvalho Ribeiro, que “abraçou a medicina como profissão e acumulou 49 anos de serviços, grande parte em Angatuba, onde se tornou nome do Centro de Saúde, graças ao reconhecimento de seus préstimos profissionais. Renato era tido como ´médico dos pobres´”.
Professor de Ciências e Biologia, diretor de escola aposentado, Cesar Lemos Ribeiro também é formado em História Natural. Iniciou a pós-graduação no Departamento de Biociências da Universidade de São Paulo. Atuou na formação de professores e é um grande incentivador de feiras de ciências, da educação ambiental e do trabalho laboratorial na Educação Básica. Fundador da ONG AVA- Associação Verde de Angatuba. Seguindo a veia artística da família, Cesar também é chargista, pintor de aquarelas e óleo sobre tela, escritor de fatos, “causos”, contos e poesias e autor de histórias infantis.