A física contemporânea faz amplo uso do conceito de simetria para o estudo e a compreensão de muitos sistemas da natureza. Esse conceito nos ensina uma grande lição- a simetria revela uma grande democracia intrínseca ao mundo natural. Os objetos partem de uma situação de total identidade e, através da evolução da natureza, as diferenças entre os mesmos aparecem. Essas diferenças, no entanto, se manifestam e podem ser estabelecidas a partir da própria situação de identidade inicial. Com a observação desse fenômeno, o que podemos ver é que a simetria articula, na verdade, uma harmonização e democracia das diferenças. O importante não é ser igual, é manter as diferenças; pois estas diferenças não se traduzem em desigualdades. Ao contrário, elas aparecem como a evolução inevitável das identidades.
Conceitos como complexidade e diversidade podem se enquadrar perfeitamente na discussão promovida pela simetria, que faz com que possamos buscar numa harmonia inicial a origem da complexidade, da diversidade e do caos. A idéia é sempre procurar identificar simetrias em sistemas onde estas não são visíveis. O que se entende é que, na natureza, existe sempre uma grande harmonia por trás da diversidade e do caos.
O conceito de simetria pode ser também estendido e trabalhado em associação com idéias e discussões no campo das humanidades, como a questão dos direitos humanos, o problema da inclusão, a mediação e outras situações. Nesse campo é preciso se ater às diferenças, valorizando-as, promovendo-se a interação a partir das mesmas, entendendo-as através de um princípio unificador por alguma simetria.
José Abdalla Helayël-Neto, professor-doutor em Física.