Fernando Pessoa teve a missão de escrever o primeiro slogan de propaganda para a Coca-Cola em Portugal, imagino que lá pelos anos trinta. Ele bebeu uma vez, não gostou. Bebeu outra vez, não gostou. Bebeu uma terceira vez e gostou. Veio-lhe então a idéia: “A princípio, estranha-se, depois, entranha-se”. Absolutamente genial! A primeira vez que bebi Coca-Cola, eu disse: “Tem gosto de verniz”. Como todos os meus colegas bebiam Coca-Cola e gostavam, pra não ser diferente, bebi de novo. E bebi de novo. Até que gostei. Agora é automático, quando chego ao restaurante Bem-Bom, vou logo pedindo: “Uma Coca com gelo e limão”. Como é gostoso…Aí mandei um e-mail para o Artur da Távola, que apresenta aquele maravilhoso programa “Quem tem medo de música clássica?”, dizendo que o gosto pela música clássica?”, dizendo que o gosto pela música era igual ao gosto pela Coca-Cola: “ A princípio, estranha-se; depois, entranha-se”. Quem vence o período da estranheza chega inevitavelmente à fase da estranheza. Aí, então, é prazer para o resto da vida. Se você ainda está na fase da “estranheza”, vai esta sugestão: prove , com paciência. Para começar, ouça o poema sinfônico de Grieg, Peer Gynt: linda música, linda estória…
Só para que você fique com água na boca adianto que essa é uma peça teatral publicada em novembro de 1867, em Copenhague, capital da Dinamarca, escrita pelo dramaturgo norueguês Henrik Ibsen. Ela conta as aventuras e desgraças do jovem Peer Gynt. O compositor Grieg a musicou na forma de um poema sinfônico com melodias muito bonitas.
Crônica transcrita do livro de Rubem Alves, “Pensamentos que penso quando não estou pensando”