maio 28, 2018 Air Antunes Artigos 0
A comoção popular em torno da chamada “paralisação dos caminhoneiros” iniciada na semana passada e ainda vigente é algo realmente humano, solidário. No entanto, a grande maioria das pessoas que prestam solidariedade à categoria imagina nesta situação o motorista autônomo, aquele que dirige seu próprio caminhão, ou a pequena empresa que tem um ou dois veículos, estes que realmente sofrem uma barbaridade para conseguir fretes compensadores, para enfrentar os inúmeros pedágios e a manutenção de seus veículos enquanto que o retorno financeiro está longe de compensar. A paralisação, na verdade, está sobrecarregada de outros questionamentos, em primeiro lugar ela foi provocada pelas grandes empresas de transporte, destas que tem no mínimo uma centena de caminhões, e que incentivaram o golpe que derrubou Dilma Roussef e implantou no governo toda uma corja de corruptos que provoca a derrocada na economia, afetando a própria categoria caminhoneira, considerando esta desde o motorista que é dono de seu próprio caminhão , a pequena empresa de frota reduzida, até as multinacionais dos transportes.
Outras estranhas situações também envolvem a paralisação. Quando Dilma era a presidente, motoristas, mobilizados pelos seus patrões, fecharam rodovias, queimaram pneus e estamparam faixas “Fora Dilma”, esganiçaram raivosamente contra o PT, e tinham toda a cobertura da Rede Globo justamente porque esta emissora tinha interesse em derrubar o governo, e agora não se viu faixas “Fora Temer” ou outras palavras de ordem contra os políticos que geraram toda esta confusão, como Aécio Neves, como Geraldo Alckimin que, no estado de São Paulo, colabora para a cobrança dos pedágios mais caros do país, contra o PSDB o partido campeão em casos de corrupção. Também não se viu nas manifestações palavras de ordem contra o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, que no início da semana passada participou da entrega de um prêmio forjado pelo prefeito João Dória e financiado por um advogado do PSDB e Petrobrás ao juiz Sérgio Moro, em Nova York. Aliás, a Petrobrás que está “ferrando” a categoria caminhoneira foi quem pagou a caríssima estadia do parcial juiz tucano, de primeira instância, na sofisticada metrópole norte-americana.
Quando a Globo dá cobertura especial à esta paralisação, logo nos salta aos olhos um eventual interesse da emissora que extrapola os próprios interesses jornalísticos. A Globo não esconde mais que quer continuar interferindo e influenciando (algo que ela faz desde o golpe militar de 1964) na política do país, principalmente nas escolhas do presidente, de governadores e de deputados. Quando das manifestações dos manifestoches que se vestiram de camisa da seleção brasileira de futebol, acompanhados dos patos da Fiesp, a emissora até transferia os jogos da tarde do campeonato brasileiro para as 11, fechava o domingo da sua programação com o intuito de cobrir a passeata das elites que pedia “Fora Dilma”, “Fora PT”, enquanto isso omitia as imensas manifestações da esquerda que eram muito maiores. Há quem diga que atrás das paralisações dos caminhoneiros estão os objetivos da Globo, em sintonia com o governo golpista e seus corruptos personagens, de que não haja eleições em outubro, mesmo porque se tiver a vitória da esquerda, com Lula, como apontam as pesquisas inclusive de órgãos da direita, será de goleada, lembrando aqui uma intensidade futebolística. Quanto aos manifestoches, os paneleiros que nas suas ações também tinham todo o respaldo da Globo, ninguém mais os viu, ficando claro que o objetivo deles era só derrubar o governo do PT. Corrupção era só um jargão para justificar toda aquela palhaçada, já que eles, os manifestoches, não mais se manifestaram, e deveriam porque de lá para cá a corrupção quadruplicou, e o pior, praticada por corruptos que os incentivaram a se manifestar.
A paralisação dos caminhoneiros aparenta também ter o dedo politiqueiro de empresários donos das megas empresas de transportes. É deles a influência sobre os motoristas em sugerir a infame “intervenção militar já”, algo também que se configura como uma enorme burrice, já que a primeira providência dos militares no poder seria a de coibir manifestações como a paralisação dos caminhoneiros. Sabe -se que alguns destes grandes empresários apoiam o desequilibrado Jair Bolsonaro para a presidência da República. Aproveitam o fato de que muitos motoristas, seus empregados ou autônomos, são incultos politicamente, que são alheios ideologicamente sobre o que isso ou aquilo representa. O pior é que estes motoristas são cegos diante do que pode virar o país caso haja uma intervenção militar, de que eles e os demais pobres vão comer o pão que o diabo amassou. O desconhecimento ideológico destes motoristas é de dar dó, eles deveriam se restringir apenas às suas reivindicações, o que fazem muito bem, ou criticar sem adjetivações para não caírem no ridículo, como caiu um que ao expulsar a reportagem da Globo chama a emissora de “comunista”. Imagine a Globo comunista!. Outro, rebatendo a reacionária ultra-direitista Rachel Sherazade, jornalista do SBT, a chama de “repórter esquerdista”. Rachel Sherazade de esquerda se equivale a João Dória presidente do Sindicato das Empregadas Domésticas.
Em tempo: bom lembrar que foi nos governos da ditadura militar que começou a desestimulação e sucateamento das ferrovias, uma estratégia das piores considerando o Brasil um país de dimensão continental. Enquanto em outros países igualmente de grande dimensão geográfica a ferrovia é altamente explorada, até por representar um custo muito mais baixo do que no transporte rodoviário, no Brasil o transporte ferroviário foi gradativamente se sucumbindo até ao ponto de praticamente acabar. O que faziam os governos da ditadura militar ? Eles , numa espécie de premiação, ajudavam empresários que colaboravam com o regime, prejudicando aos poucos aquilo que poderia competir dentro de um respectivo setor, neste caso o do transporte. Foi desta forma que se erradicou as ferrovias, ao erradicá-las, elas que eram patrimônio público, os truculentos governos militares atendiam aos apelos do capitalismo selvagem imposto pelos Estados Unidos.
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