ago 22, 2018 Air Antunes Artigos 0
O médico cubano Juan Delgado é vaiado por manifestantes na chegada a Fortaleza (CE), em 2013, para atender o Programa Mais Médico . Sua cor inflamou o ânimo dos médicos brancos que o vaiavam. Foto: Reprodução
Tem sido useiro e vezeiro o tratamento estereotipado na sociedade brasileira, aliás neste país sempre foi assim, uma grande legião de pessoas generaliza comportamentos ou características de outras até irresponsavelmente. Estereótipo é a impressão sólida que vige sobre a aparência, roupas, comportamento, cultural, só para lembrar. Aqueles que transitam ingenuamente ou até “maledicentemente” pelos estereótipos, por conta disto se infiltram nas entranhas das discriminações e preconceitos, como fez uma médica brasileira, branca e elitista, quando da chegada dos médicos cubanos. Ela, fazendo parte daqueles profissionais que ficaram “p..” da vida com a vinda dos “colegas” de Cuba para o programa Mais Médicos do Governo Federal , vomitou ferozmente, “olha aquela, parece mais uma empregada doméstica”, apontando a confrade que chegava ao aeroporto (vários médicos que vieram de Cuba eram negros). A profissional racista brasileira ao não aceitar que uma negra fosse médica, e naquele caso também cubana, acabou também identificando a mulher “de cor” como restrita ao emprego de empregada doméstica, não importando a dignidade inserida igualmente neste trabalho. Neste estereótipo outra mensagem está contida, a de que ser negro destoa.
O estereótipo incide na natureza do imaginário popular, alqo lotado de crendices e ilusões, nas imagens formadas pela criação tida em casa, pelas pessoas com as quais o indivíduo convive, por filmes, telenovelas e outras formas de cultura. Estereótipo e rótulos que não necessariamente possam ser verdadeiros, mas que são quase indissociáveis , são algo como “vida de modelo é apenas glamour”, “funqueiros são todos bandidos”, “artistas ganham a vida de forma fácil”, “negros têm o samba no sangue”; “cabelereiros são (meio) gays”, etc, etc. Lógico que não existem regras que apontem para isso, sabemos que não é verdade, mas quem se habilita a mudar a cabeça de uma massa? Há no imaginário popular aquela situação em que determinados profissionais devem ser necessariamente de feições caucasianas, ter “estilo” apropriado para o convívio entre os “bacanas” e até para assumir certos cargos, pois caso contrário a tudo isto muitos podem achar estranho.
Num país em que a luta de classe é uma constante, em que muitos julgam outros se achando superior economicamente ou socialmente e até intelectualmente, sobrecarregando-se da empáfia herdada da época colonial quando a sociedade se dividia entre a casa grande e a senzala, e fazendo o possível para que seus prenomes sejam enfileirados por sobrenomes `monarquicamente` extensos, observamos que os estereótipos , a fluência do imaginário popular, identificam claramente a ignorância dos ditos “bacanas” em especial.
Enfim, sobrepostos a esta “mania nacional” , inclusive de muitos que comem sardinha e arrotam caviar”, estão o ódio, o preconceito contra nordestino, o racismo exalado no debate político no país nestes últimos anos. Sob pretexto de ser contra a corrupção, contra corruptos, alguns não deixam de detonar negros, o povo do nordeste, o pobre que ascende a ponto de viajar de avião, de fazer curso superior em boas escolas, o pobre de maneira geral, etc.
Fossem famosos e tivessem espaço na mídia como Boris Casoy, muitos não fariam diferente daquele apresentador que acreditou ter o rei na barriga quando disse no Jornal da Band no dia 31 de dezembro de 2009: “Que merda, dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho”. Felizmente, uma falha técnica no áudio foi a responsável pelo vazamento da frase do âncora que se referia aos garis José Domingos de Melo e Francisco Gabriel de Lima que apareceram em uma vinheta desejando feliz Natal. No dia seguinte ao ocorrido, Casoy se desculpou durante o jornal que apresentava: “Ontem, durante o intervalo do Jornal da Band, num vazamento de áudio, eu disse uma frase infeliz que ofendeu os garis. Por isso, quero pedir profundas desculpas aos garis e aos telespectadores do Jornal da Band”. Bem, desculpas não há quem não peça mas o sentimento já está e fica demonstrado tanto quanto a uma mancha de vinho tinto na seda branca. No caso de Boris a desculpa não eliminou o pagamento de indenização moral ao gari no valor de R$ 60 mil.
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