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‘Reconstruindo Lenin’ é biografia intelectual do líder soviético

out 18, 2017 Air Antunes Ilustrada 0


lenin

Inflamado. Lenin discursa aos operários de uma fábrica em Petrogrado (hoje São Petersburgo), em 1917, numa pintura de Isaak Brodsky.

MARCELO GODOY

Historiador húngaro Tamás Krausz testa limites da ortodoxia em livro que chega ao Brasil

Uma piada popular dos anos 1920 e 1930 na União Soviética contava que um grupo de coelhos apareceu na fronteira russo-polonesa. Queriam entrar na Polônia. Quando o guarda polonês lhes perguntou por que deixavam a URSS, disseram: “A GPU (futura KGB) deu ordens para prender todos os camelos na União Soviética.” “Mas vocês não são camelos!”. “Bom, tente dizer isso para a GPU.” Historiadores na antiga União Soviética se viam às vezes na pele do coelho, tentando explicar suas pesquisas ao partido e testando limites da ortodoxia e da polícia. O húngaro Tamás Krausz foi um deles.

E ele não perdeu esse hábito de nadar contra a corrente. Historiador próximo dos críticos que dissentiam da ortodoxia durante o regime comunista, esteve em apuros uma vez porque carregava um livro de Trotski na Moscou dos anos 1970. Com a queda do regime, manteve-se contra a corrente – e marxista – para se opor ao regime de Viktor Órban (líder do partido de centro-direita), na Hungria. E, de fato, é preciso querer nadar contra a corrente para escrever hoje em dia uma biografia intelectual de Lenin, a exemplo do que fez Krausz.

A publicação de Reconstruindo Lenin no Brasil busca reequilibrar a bibliografia existente sobre o bolchevique no País. Até agora, predominam trabalhos dedicados a desconstruir a imagem do líder da Revolução Russa, escritos por conservadores como Richard Pipes e Robert Service ou pelo russo Dmitri Volkogonov. Lenin é nesses relatos um ditador cruel, sedento de poder, que pouco se importava com o destino do povo e cujo reinado de sangue foi apenas continuado por Stalin – sua obsessão pela revolução não via limites. Essa visão tem como pressuposto que o socialismo e a democracia são impossíveis de conviver, sendo uma utopia desastrosa pensar o contrário. No outro extremo, as visões hagiográficas ligadas à ortodoxia soviética pouco acrescentavam à pesquisa histórica para a construção do personagem.

O leitor de Krausz não encontrará o relato fascinante de um grande escritor. Acontecimentos da vida do líder soviético ocupam as primeiras cem páginas da obra. Ali estão sua relação com a amante Inessa Armand, a amizade com o liberal Piotr Struve, sua origem judaica e outros fatos escondidos pela historiografia soviética. Krausz se insere na tradição do russo Vladlén Lóginov, que nos anos 1980 buscava desestalinizar Lenin, durante a glasnost, para retirá-lo do beco sem saída da história.

O autor relata as ordens de execuções assinadas por Lenin e é crítico da adoção do terror como política revolucionária, mesmo no contexto da guerra civil russa. A execução de sacerdotes e de reféns de famílias burguesas, além da expulsão de intelectuais e de socialistas moderados do país são explicadas pela concepção finalista da ação política para Lenin. Este admitia que a revolução era “a coisa mais autoritária que há”, um ato no qual “parte da população impõe sua vontade à outra com o auxílio de fuzis (O Estado e a Revolução)”. Essa violência se tornou desenfreada e tragou tudo, inclusive seu partido, que acreditara dominar essa força.

O capítulo sobre Lenin e o antissemitismo é um ponto interessante da obra. Krausz mostra como e por que o socialismo atraiu os intelectuais judeus na Rússia ao se opor ao antissemitismo de monarquistas e nacionalistas (“Derrote o judeu e salve a Rússia”, diziam) – 200 mil judeus foram massacrados na guerra civil. É óbvio que a presença de protofascistas, como Simon Petliura e Nicolai Ustraylov, entre os exércitos brancos não apaga os crimes vermelhos. Pode-se dizer que, enquanto Pipes e outros historiadores conservadores subestimam ou escondem o contexto em que Lenin agiu, Krausz parece usá-lo para justificá-lo. Falta compreender os mecanismos do uso da violência para estabelecer uma verdadeira crítica do terror.

Seu objetivo no livro era expor o método de Lenin como pensador e as conexões de sua obra teórica com sua prática. Krausz busca revelar uma constante na vida do revolucionário que permita estabelecer um fio condutor nas diferenças entre “o Lenin autocrático de O Que Fazer e o Lenin libertário de O Estado e a Revolução”. Esse fio, para ele, é que a “ciência e a teoria eram ferramentas da realização de metas políticas e sociais”. A incompreensão dessa questão levaria a interpretações de caráter anistórico sobre o soviético. Tanto para Lenin quanto para Marx a teoria seria “apenas um guia da ação”. Seus escritos não teriam função normativa, pois dependeriam das condições históricas.

Por fim, ao desafio imposto aos historiadores pela “neutralidade valorativa”, o conceito pensado por Max Weber contra o uso da ciência para justificar opções políticas, Krausz responde com um ataque: “Esses cientistas sociais em geral se apresentam como se estivessem acima das perspectivas de classes e do sistema estabelecido e veem a si mesmo no papel de juízes”. Tudo porque, para Krausz, a figura de Lenin ainda é objeto de luta, embora considere sua teoria “única e irrepetível” na história. De fato, o autor não pretende que seus valores sejam neutros. Sua proposta de reconstruir Lenin tampouco é. Resta saber se sua tarefa ainda é exequível um século depois da revolução bolchevique.

Artigo publicado no Estadão

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Air Antunes

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