O grulhento recado autoritário que desrespeita a ordem jurídica teve início pela costumeira mediocridade e a sabujice dos ministros escolhidos para a Educação, com a sobranceira indicação do pastor-negociante. Para desfecho dos absurdos, a “universidade deveria, na verdade, ser para poucos”.
Notícias a granel iam sendo divulgadas sem qualquer ponto de interrogação. Deu no que deu o crime da soberba arrogância ao modo do pastoreio. A mesma falácia do situacionismo, exclusivista e seletivo, de calamidades do modelo educacional, foi a fundo. Não contar os disparates, as tremendas heresias sobre a caça às bruxas.
De outra, o arrebatamento criminoso, do ministro da Educação: “alunos com deficiência atrapalham demais estudantes sem a mesma condição quando colocadas na mesma sala de aula.” (Correio Braziliense, 16/8)
Critério nenhum foi tão enganoso para nomeações desses ministros torcionários da Política Educacional do país, voltadas ao sistemático desmonte dos próprios interesses nacionais. Assim como foi na democracia alemã, substituída pelo raivoso modelo autoritário, enquanto o insignificante cabo militar de origem austríaca, nada além de mensageiro da retaguarda, na 1ª guerra mundial, assumiria as pompas e circunstâncias de um poder pleni potenciário.
Houve quem abraçasse a surpresa do espírito delirante pela mão peluda do Führer. Por baixo desse autoconvencimento coletivo, de mérito sobre a suposta grandeza dos áulicos do poder na Alemanha, construiriam o milênio messiânico.
Haveriam criatórios de seres humanos, distinguidos pelo jugo, rebanhos sumamente adestrados, a cumprirem a “bula ordinatória” do anacronismo histórico. Daí, até chegar aos condutos crematórios e ao pisoteio de mais de vinte milhões de vítimas indesejáveis.
Filósofos sob a era nazista
Apesar das reservas do NSDAP diante das ciências humanas alguns filósofos se promoveram. Na época do NacionalSocialismo outros, afetados sob a nova forma de pensamento oficial, sentiram seus estragos irreversíveis, muitos deixaram a Alemanha.
O serviço de segurança do Reichsführer SS registrou, metodicamente, nos “dossiês SD sobre professores de filosofia”, essas avaliações (ideológicas) dos professores, sobretudo, os universitários. O pós-guerra na maioria os filósofos continuaram o trabalho nas universidades alemãs.
Com efeito, os rasgos da violenta perseguição contam sobre muitas heresias de caça às bruxas, contagiam a história com seus estigmas, na eliminação da vida cultural e sistemas de ensino, embora, firmados por modelos mais avançados do constitucionalismo democrático, ao renderem sinceras homenagens ao patriarcalismo, o filhotismo, o cartorialismo, e sequelas, agachados, como sempre, nas tetas do poder.
Dois terços dos países de baixa renda cortaram seus gastos com educação no ano de 2021.
Daí, o providencial aviso de que o financiamento da educação no mundo precisa se distanciar do neocolonialismo, urgentemente, conforme advertem Archer e Sánchez. O informe é do jornal Le Monde Diplomatique, de 12/8/2021.
A pretensão dessas linhas não vai além das chinelas, mas, humilde convite a que nossos registros, de pequena monta, atestassem a missão histórica do ensino no mundo atual, gravidade esta que as grandes instituições de ensino têm correspondido.
Sérgio Muylaert – advogado e escritor, foi Procurador geral da Universidade de Brasília.