set 01, 2022 Air Antunes Artigos 0
Vereador da Câmara Municipal de Tatuí, Eduardo Sallum, bem ao estilo “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, como diz a antiga canção de Geraldo Vandré, está enfrentando mais uma empreitada democrática sinalizando uma luta que demanda maior participação popular nas decisões mais importantes em prol da justiça social, de melhores condições de vida para a grande maioria do povo brasileiro. Ainda muito jovem, Sallum é candidato a deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT) levantando também a bandeira da cultura, ele que é sociólogo formado pela Unesp e músico formado pelo Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí. Na sua entrevista ao blog Onda 21 Sallum discorre sobre sua carreira política, fala da sua candidatura e do Brasil sob a condução de Luiz Inácio Lula da Silva, esperando também a eleição de Fernando Haddad para o governo do Estado de São Paulo.
A ENTREVISTA:
P- O jovem ingressando na política é algo saudável, principalmente quando ele tem compromisso ideológico e entende perfeitamente sobre o que deve ser feito em termos de combater a desigualdade social, pois muitos são novos de idade mas nada diferem da política coronelista ainda vigente neste país. Pois , então, Eduardo, o que você diz desta sua empreitada política, como tudo começou, você que já é vereador em Tatuí. E então?
Sallum– Minha participação na política começou em torno de 2010, quando eu era ainda um estudante secundarista. Eu me interessava muito por assuntos como história, sociologia, etc. e, em Tatuí, tive a oportunidade de conhecer o professor Clodaldo Rodrigues, ou “seu Rodrigues”, como nós o chamamos. O Seu Rodrigues era um professor de economia aposentado que havia estudado também física nuclear na USP, na década de 60 e tinha se formado em direito pela FADI de Sorocaba. Então era um homem com muito conhecimento. Mas mais importante, ele era um militante histórico que havia lutado contra a ditadura, no movimento estudantil da USP, e, na época, chegou inclusive a ser injustamente preso e torturado. Depois, ele ainda participou da fundação e dos primeiros anos do PT e ainda se dedicou a formação e estruturação de diversos sindicatos na região de Tatuí e Sorocaba. Foi o Seu Rodrigues que me trouxe para a ação política. Junto com ele e alguns colegas estudantes secundaristas nós formamos em Tatuí o Movimento Popular Práxis. A partir daí nós nos dedicamos a diversas atividades sociais, desde a organização de cineclubes, eventos culturais, fomentação do movimento estudantil em Tatuí, até protestos nas ruas e na Câmara Municipal contra os governos tucanos do estado e do município. A Práxis, como nosso Movimento é conhecido, foi ganhando corpo ao longo dos anos. Em 2015, já pensávamos em lançar um candidato para vereador de Tatuí e o Movimento decidiu, em assembleia com todos os seus membros, que eu fosse esse candidato para representar os setores progressistas da cidade na Câmara dos vereadores. Tatuí é uma cidade muito conservadora, assim, era grande o desafio que nós tínhamos pela frente. Na época, eu já estava cursando Ciências Sociais na UNESP em Araraquara, mas decidi trancar o meu curso e vir para Tatuí para fazer a campanha, porém defendendo uma ideia nova: a democracia participativa. Assim surgiu o Mandato Compartilhado, que foi nossa principal proposta de campanha. Trata-se de um Mandato no qual a população tem participação efetiva, pois uma vez eleito, passei a me reunir semanalmente em assembléias abertas com a população, nas quais tomamos coletivamente as decisões acerca de quais seriam meus posicionamentos e as minhas ações na Câmara. Nós chamamos essas Assembleias de Laboratórios Populares e elas são organizadas tematicamente, assim temos os Laboratório de Educação, o de Saúde, o de Cultura, o de Direitos Humanos e o de Urbanismo e Sustentabilidade. Esse projeto me garantiu a eleição em 2016 e desde que assumi como vereador ele tem sido colocado em prática. Fui reeleito vereador em 2020, como o candidato mais votado de Tatuí e agora estou candidato a deputado federal, com a proposta de expandir esse projeto em Brasília e de levá-lo para outros municípios do interior do estado de São Paulo.
P-Você tem uma formação apta para debater com profundidade a sociedade brasileira, temos ainda no Brasil sequelas da casa grande e da senzala. Na região que você atua, por exemplo, neste sudoeste paulista todo, onde muitos municípios possuem desenvolvimento aquém do desejado, o que há de mais precário que necessita urgente uma providência?
Sallum- Realmente, o passado colonial brasileiro deixou sequelas que não conseguimos superar até hoje. Vivemos ainda em um país extremamente desigual e pouco inclusivo, no qual milhões de brasileiros ainda carecem de plena cidadania. Nossos municípios do interior paulista certamente enfrentam muitos problemas criados por uma tradição política coronelista que nunca se focou de fato no desenvolvimento das cidades, de forma que temos uma grande defasagem em áreas como educação, saúde, infraestrutura, saneamento básico, etc. No entanto, com o Mandato Compartilhado, eu bato muito na tecla da participação política. É a democracia participativa que poderá nos ajudar a superar os resquícios coronelistas da nossa região e dar voz à população. É difícil generalizar e dizer qual seria o grande problema mais urgente de todas as cidades do sudoeste paulista pois cada uma tem a sua realidade específica. Por isso nosso mandato é compartilhado, pois queremos ouvir as pessoas e conhecer a fundo cada uma dessas realidades. É claro que estamos preocupados com as grandes questões nacionais, que também atingem os municípios, como a falta de investimentos em educação e saúde, o alto desemprego e o aumento da desigualdade. Como deputado, tendo Lula como presidente, sei que conseguiremos tomar medidas importantes para avançarmos na solução desses problemas. Mas é importante termos clareza que, sem a participação popular, dificilmente conseguiremos superar a herança colonial, coronelista e autoritária de nosso país.
P- Sobre a questão da desinformação, algo tão explorado pela extrema-direita que está aí, que tem como principal forma de fazer política a difusão de notícias falsas, você acredita que como deputado há algo que possa politizar mais o povo no sentido de que ele não seja mais instrumento dos oportunistas que exploram a fé religiosa do cidadão, a falta de conhecimento sobre como funciona a máquina pública?
Sallum– Acredito que a própria proposta do Mandato Compartilhado é o caminho para essa politização. Sou formado em Ciências Sociais, e tenho dedicado alguns anos da minha vida ao estudo das ciências políticas, mas confesso que grande parte dos meus conhecimentos nessa área eu adquiri a partir da minha própria participação na militância. A participação política é também uma escola para atingir essa conscientização. Por isso, quanto mais pessoas nós conseguirmos envolver em nosso projeto, mais nós estaremos contribuindo para combater a desinformação e o oportunismo. Como disse, uma vez eleito deputado, irei expandir essa experiência. Os Laboratórios Populares que nós realizamos em Tatuí, através do meu mandato de vereador, nós iremos realizar de forma online e contamos com a participação de centenas de pessoas de todo o estado. Da mesma forma, outras cidades, como Porto Feliz, por exemplo, já estão criando experiências parecidas com a nossa. Nós fomentaremos e apoiaremos essas experiências em outras cidades, por esse caminho acredito que conseguiremos mudar a cara do estado de São Paulo. Em relação ao oportunismo que explora a fé religiosa do cidadão, espalhando fake news e tentando conseguir votos, sobretudo no meio evangélico, em Tatuí nós criamos, em 2019, o coletivo evangélico progressista A Verdade Liberta. A intenção desse coletivo é desfazer as fake news dentro do meio religioso, combatendo a desinformação e a utilização da fé religiosa para fins “politiqueiros”. Sou cristão, fui criado dentro de uma igreja evangélica, e defendo que precisamos respeitar a escolha religiosa de cada um, exatamente por isso sou contrário à tentativa de apropriação da religião por políticos que visam apenas objetivos eleitorais, isso desvirtua a verdadeira função da igreja e não é saudável para o estado laico.
P-Você, também um músico formado por um conservatório musical de renome internacional, o que espera poder fazer pelo setor cultural, em especial visando a geração mais jovem?
Sallum– O campo da cultura é um dos campos nos quais eu tenho sido mais atuante em meu mandato como vereador. O Conservatório de Tatuí, que já foi considerado a melhor escola de música da América Latina, vem passando, nos últimos quinze anos aproximadamente, por um processo de desmonte levado a cabo pelas sucessivas administrações tucanas que passaram pelo governo do Estado. Eu tenho me levantado diversas vezes em defesa dessa escola, inclusive articulando, neste ano, uma emenda parlamentar de R$ 4 milhões, enviada pela bancada do PT na Alesp, para tentar sanar a defasagem financeira da instituição, que iria resultar em cortes e demissões. Já pensando num possível mandato como deputado, realizei, recentemente, um Laboratório com membros da área da cultura de nossa região e tiramos algumas propostas para eu levar para a Câmara Federal. Assim, defenderei a recriação do Ministério da Cultura e o fortalecimento do Fundo Nacional de Cultura. Buscarei também, dar condições para que a classe artística possa se mobilizar e se organizar para lutar pelos seus direitos, assim proponho a criação de uma Frente Regional de Cultura que seja capaz de organizar a classe cultural de nossa região. Tenho também algumas sugestões para projetos de lei, por exemplo, acredito que seria muito importante termos uma lei que estabelecesse uma proporção entre o valor que um município pode gastar para trazer grandes artistas de fora em shows e eventos, com o valor que o município deve ser obrigado a investir em artistas locais, isso ajudaria a desenvolver a cultura local e geraria empregos e serviços no município para a classe artística. Pretendo cobrar também o efetivo cumprimento da lei 11.769/2008 que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas, mas que nunca foi de fato seguida. Por fim, acredito que é importante focarmos também na capacitação dos gestores de cultura dos municípios e exigir que as cidades garantam espaços participativos e deliberativos, como Conselhos de Cultura, através dos quais a população possa contribuir para a formação e aplicação de investimentos nas políticas públicas desse campo. Para os mais jovens, a garantia de maior diversidade e oferta de atividades culturais irá contribuir para sua formação intelectual, política e humana. Dessa forma, a expansão dos aparelhos de cultura, como os CEUs, por exemplo, e a retomada da política dos pontos de cultura em bairros periféricos pode trazer enormes ganhos para a juventude.
P- Para concluir, como você imagina o estado de São Paulo tendo Fernando Haddad o eleito, e em nível nacional, Lula?
Sallum- Acredito que, com a eleição de Lula, todo o país irá retomar o caminho do crescimento, o que trará mais oportunidades de emprego e crescimento do poder de compra das famílias. Com Haddad no estado de São Paulo, poderemos trazer ainda mais mudanças. Acredito que precisamos, por exemplo, reformular toda a proposta do novo ensino médio do estado e valorizar o salário dos nossos professores. Com Lula e Haddad poderemos retomar a expansão das Universidade Públicas e dos Institutos Federais, além de podermos enfrentar o problema da segurança pública, criando uma política mais efetiva e inteligente nessa área que, ao mesmo tempo, possa valorizar o profissional da segurança, inclusive de forma financeira, e possa diminuir o índice de casos de violência cometidos por agentes estatais. Entre 2003 e 2010, Lula pôde fazer o que foi certamente o melhor governo da história do Brasil. Agora, tendo Lula na presidência de novo e Haddad no governo do estado poderemos fazer mudanças ainda mais estruturais para efetivamente avançarmos na solução dos problemas históricos do nosso país.
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