“No dia em que for possível à mulher amar em sua força, não em sua fraqueza, não para fugir de si mesma mas para se encontrar, não para se demitir mas para se afirmar, nesse dia o amor se tornará para ela, como para o homem, fonte de vida e não perigo mortal.” Simone de Beauvoir
Estamos vivendo uma época no Brasil em que o pensamento crítico vem sendo solapado por uma ignorância institucionalizada, lutas históricas em favor da igualdade entre as pessoas estão sendo ridicularizadas por um fanatismo que tenta reverter o conceito de evolução humana ao ridículo, a burrice oficializada está atormentando cientistas, está depreciando a cultura e impondo o grotesco como estilo de vida. Escrevo isso levado pela indignação acerca do que li em algum lugar, alguma coisa que pretendeu impor uma certa moralidade sobre a condição feminina. “Feminina sim, feminista não”, este triste jargão ganha uma conotação mais séria porque foi discorrido por uma mulher e, o pior, apoiado por tantas outras mulheres. É lógico que ninguém tira a condição de feminina de uma mulher porque a natureza assim a fez, contudo a condição de feminista é aquilo que representa a sua luta por igualdade num mundo machista desde o início da civilização.
A feminista é aquela mulher que um dia negou ser uma espécie de moeda de troca oferecida pela tradição machista para manter o poder da família; a feminista é aquela mulher que nas primeiras indústrias de fabricação em série achou injusto trabalhar 14 horas diárias, num regime semiescravo, simplesmente por ser do gênero feminino, e ainda chegar em casa e desempenhar seus deveres de dona de casa além de ser obrigada a atender seus “deveres conjugais” .
A feminista é aquela que um dia observou que também tinha o direito de votar, de escolher aqueles que poderiam decidir o destino do país, e até de se ingressar na política por sua própria convicção e não por sequenciamento de clã familiar. A feminista é aquela que em certo momento reivindicou ganhar igual ao homem na sua função similar. A feminista é aquela mulher que repudia o assédio machista sobre sua condição feminina de ordem afetiva, profissional ou mesmo social.
A feminista é aquela mulher que luta tão somente por igualdade porque sabe que tem condição para isso. Enfim, é triste quando uma certa tendência política, estúpida moral, intelectual e socialmente, tenta imputar à feminista a condição de promíscua, lesiva e um perigo contra a sociedade.