fev 18, 2019 Air Antunes Angatuba 0
A Câmara Municipal de Angatuba concedeu título de cidadão angatubense ao médico José Ângelo Alvarez Ibarrola. O autor do projeto que conferiu o título foi do vereador Carlos Matias Júnior. A cerimônia da entrega do título aconteceu na noite da sexta-feira, dia 15 de fevereiro, na Câmara Municipal Conhecedor dos méritos do homenageado, o ex-prefeito professor José Emílio Carlos Lisboa fez um contundente discurso o qual transcrevemos na sequência:
HOMENAGEM AO DR. ANGELO
Excelentíssimo senhor Nicolas Basile Rochel, digníssimo presidente da Câmara Municipal de Angatuba, na pessoa de quem saúdo os demais vereadores com destaque para o vereador Carlos Matias, autor do projeto que confere o título de cidadão Angatubense ao homenageado do dia Dr. José Ângelo Alvarez Ibarrola.
Estimado José Ângelo por me considerar uma testemunha viva do quanto você foi útil na promoção da saúde pública de nosso município durante os dois períodos em que atuou como médico e diretor clínico de nossa Santa casa é que me dispus a participar desta solenidade em homenagem a sua pessoa que a egrégia Câmara de Angatuba realiza em reconhecimento ao seu trabalho.
Se desde os primeiros tempos de Angatuba você já se considerava um cidadão angatubense de coração; a partir de hoje, a Câmara Municipal lhe confere o título de cidadão angatubense de fato e de direito.
A concessão de um título de cidadania a uma pessoa, possui um simbolismo que transcende o mero reconhecimento de um trabalho prestado a comunidade, possuindo outros significados, dentre os quais, o de estimular iniciativas semelhantes entre as novas gerações que estão principiando suas atividades laborais, estratégicas para o desenvolvimento local.
Zé Ângelo, assim que você chegou a Angatuba pela primeira vez, em meados da década de mil novecentos e setenta, para exercer sua profissão de médico, foi no próprio local de trabalho, ou seja, na própria Santa Casa que você escolheu para fixar sua residência.
Com isso você passou a vivenciar os problemas do hospital, praticamente em toda sua extensão. Dessa interação manifestou uma afinidade e comprometimento com a instituição, tão forte, que ia muito além do exercício da medicina. Em pouco tempo passou a participar ativamente tanto das deliberações quanto do encaminhamento de todas as demandas da casa.
Nessa ocasião, a maternidade estava sendo construída. Lembro-me perfeitamente de suas viagens com alguns diretores a São Paulo para reivindicar junto ao Conselho Estadual de Auxílio e Subvenções, verbas destinadas para a conclusão da obra; assim como sua participação nas discussões até para definir o tipo de material mais adequado que deveria ser empregado em cada cômodo.
Do relacionamento sincero e honesto que mantinha com os funcionários e com os pacientes, emergia sua autoridade, ganhava respeito, e ficava patente a retidão de seu caráter.
Lembro-me do seu empenho para que o hospital conseguisse uma posição de excelência na prestação de seus serviços. Da sua preocupação com os mínimos detalhes com a qualidade do material que deveria ser usado no ambulatório, no centro cirúrgico e na sala de parto. Também, da obsessão com a assepsia para evitar infecção hospitalar.
Foi uma época em que havia muita harmonia e uma sinergia perfeita entre as interfaces que compunham as atividades da casa, com assento, óbvio, para o setor de enfermagem que, com o mesmo espírito servidor do doutor José, ombreava com amor e bravura todas as tarefas que não eram poucas, e durante as intercorrências não fazia a menor questão de postergar a hora de comer ou de dormir, para dar conta do recado.
Com um número reduzidíssimo de funcionários, o Dr. José era o clínico geral, o ortopedista, o obstetra, era também o anestesista e o cirurgião ao mesmo tempo. Como coadjuvante, para auxiliá-lo no centro cirúrgico, as enfermeiras, com uma responsabilidade que extrapolava suas próprias funções; para auxiliá-lo nos partos, também as enfermeiras entre as quais muitas se tornaram excelentes parteiras.
Período de energias positivas que contagiavam o ambiente e que tinha como principal combustível para mover as ações praticadas na casa, um produto muito em voga na época, mas nos dias de hoje completamente fora de circulação que era conhecido pelo nome de idealismo.
Foi assim que nossa Santa Casa ganhou prestígio regional e passou a atrair pacientes dos municípios vizinhos, corroborando assim aquilo que a população local já havia percebido: eficácia nos procedimentos e humanismo no atendimento.
Durante toda sua jornada até aposentar-se exerceu sua profissão tanto no Brasil quanto na Espanha somente em hospitais públicos, comportamento que o coloca em sintonia com os ensinamentos do pai da medicina ocidental, o grego Hipócrates que a considerava um bem universal a serviço de toda humanidade independentemente da posição social ou econômica de cada ser humano.
Concomitante ao exercício da medicina, praticou também uma das virtudes mais importantes do ser humano que é a construção de amizades; e amizades sólidas que perduram até os dias de hoje. Para cultivá-las, todas às vezes que vem de férias ao Brasil, acompanhado de sua esposa Consuelo, que já se considera uma Angatubense de coração, não deixa de passar pela cidade para matar a saudade e para rever os amigos.
Faz-se mister lembrar que durante os anos que aqui viveu, o Brasil vivia no auge de sua ditadura militar. Como bom espanhol de ascendência basca, nunca escondeu o apreço pelos valores da democracia, e a preocupação com a situação política do nosso país era uma constante em suas discussões. Falava de cadeira das atrocidades do período ditatorial que a Espanha vivera sob a ditadura do generalíssimo Francisco Franco e de suas semelhanças com o que estava acontecendo no Brasil.
Assim como contribuiu para a promoção da saúde curativa de nosso município, não deixou de participar do embrionário movimento político em prol da redemocratização do país, capitaneado pela liderança do então professor Fernando Henrique Cardoso. Esse movimento mais tarde se transformou numa das maiores manifestações de massa da história de nosso país, com o nome de “Diretas já”, que culminou com a eleição de Tancredo Neves para Presidente e José Sarnei para vice presidente, encerrando assim os famigerados anos de chumbo, e restabelecendo definitivamente a democracia no país.
Ao conceder este título de cidadania ao Dr. José Ângelo nossa Câmara Municipal se harmoniza com uma de suas precípuas atividades que é a defesa da memória da cidade.
A preservação da memória requer consciência, zelo e vigilância permanentes por parte de todos os segmentos da sociedade para impedir as insistentes incursões do oportunismo de plantão, que tenta apagá-la para colocar em seu vazio agendas mesquinhas de sua hipocrisia.
Parabéns à Câmara pela iniciativa. Parabéns ao Dr. José Ângelo.
Prof. José Emilio Carlos Lisboa
Câmara Municipal de Angatuba, 15 de fevereiro de 2019.
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