Estou prestes a completar 28 anos e “desde que me conheço por gente”, aprendi a sentir muito. É claro que já tive pensamentos e comportamentos egoístas, ainda tenho falas que vão além de mim, além da Nicolli que está em constante transformação, mas elas surgem no momento de ira, quando os absurdos me atropelam, pois ainda não encontrei outra maneira de reagir. No entanto, me orgulho em dizer que consigo olhar para isso e vejo como um problema a ser resolvido.
Mas quem é que não sente raiva, indignação, tristeza (ou seja lá como você reage) quando vê que as mortes seguem aumentando, quando lê que o “presidente” do país recusou milhões de doses de vacinas, quando vê vídeos em redes sociais de pessoas curtindo a praia e chácaras lotadas? Como é que não sente vontade de gritar, xingar e bater nessas pessoas, enquanto você conta os passos e se comporta de maneira cautelosa para poder estar com as pessoas que ama?
Para além disso, quando foi que o ódio se espalhou tão rápido? Quando foi que a morte de pessoas com ideologia de vida contrária à sua virou motivo para comemoração? Quem mandou matar Marielle Franco e o seu motorista Anderson Gomes? Quando foi que o ser humano deixou de ser bom? Ou será que essas pessoas nunca foram boas e só precisaram de alguém para ser porta voz do seu lado mais deplorável?
Quando estava na faculdade, mais especificamente em supervisão de fenomenologia-existencial com a professora Caroline Garpelli (saudades professora), lemos um livro que chama Conversa Sobre Terapia, da autora Bilê Tatit Sapienza. Nesse livro tem uma passagem que nunca esqueci, trocando em miúdos essa passagem diz que é sempre importante parar e olhar para aquilo que incomoda. Por qual motivo sentir raiva me incomoda tanto?
Continuando, na mesma página desse livro tem uma citação do poeta inglês John Donne (1572-1631) “Homem algum é uma ilha completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte do todo; (…) a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou envolvido na humanidade. E, portanto, nunca perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.
Não é de difícil entendimento que nós COEXISTIMOS, não podemos viver sem o outro, mas grande parte das pessoas está esquecendo de pensar qual é o papel do outro em nossa existência, muitas vezes eu mesma e você que se identifica com o texto também esquece. Não podemos deixar que todo esse ódio e desrespeito vença, não podemos nos perder em nós mesmas e nos juntar a essa onda detestável.
Por último e não menos importante, JAMAIS deveríamos questionar se estamos fazendo a coisa certa. É de extrema urgência deixar explícito que certo é aquele que olha para TODOS os outros com empatia, respeito e compaixão. Ser empático não permite que você filtre a quem irá estender a mão.