ago 08, 2014 Air Antunes EDUCAÇÃO 0
“Quero falar a vocês do que é este aspecto chamado biblioteca, num país como o Brasil, considerado o Terceiro Mundo. Gosto muito de viajar e observar os outros países e sei muito bem o que significa ser país do Primeiro Mundo, e não do Terceiro. Na Inglaterra, por exemplo, há uma biblioteca para cada quarteirão. Quando uma criança nasce a mãe já vai à biblioteca retirar o seu cartão de sócio. Na França chega a haver a creche-biblioteca, prevista para crianças de 0 (recém-nascida) a 4 anos, se bem que eu não consiga imaginar o que um bebê pode ir fazer numa biblioteca. Mas por fatos como esses dá para ver porque esses são países do Primneiro Mundo- porque o que faz a riqueza de um povo é a sua riqueza cultural.
Monteiro Lobato já dizia que um país se faz com homens e com livros. Estamos à beira do século 21, mas se o Brasil não se conscientizar desse problema continuará a ser sempre subdesenvolvido porque não valorizamos nosso mundo interior, o alimento da nossa alma, que é a cultura. Não valorizamos nossas bibliotecas, dizemos que não temos tempo para ler, para saber. E por isso somos pessoas que não são capazes de votar bem, de resistir a promessas de maus políticos, de vigaristas, ou de conquistar a própria felicidade.
Agora quero ler para vocês um trecho escrito por um importante escritor carioca dos anos 50, ainda vivo, Guilherme de Figueiredo, que tomou por tema a vida de Esopo, um escravo grego de 2400 anos atrás- o inventor da fábula:
´Há mais de dois mil anos um rico mercador grego tinha um escravo chamado Esopo. Um escravo corcunda, feio, mas de sabedoria única no mundo. Certa vez, para provar as qualidades de seu escravo, o mercador ordenou: -Toma, Esopo. Aqui está esta sacola de moedas. Coerra ao mercado. Compra lá o que houver de melhor para um banquete. A melhor comida do mundo!
Pouco tempo depois, Esopo voltou do mercado e colocou sobre a mesa um prato coberto por fino pano de linho. O mercador levantou o paninho e ficou surpreso:
-Ah, língua ? Nada como a boa língua que os pastores gregos sabem tão bem preparar. Mas o por que escolhestes exatamente a língua como a melhor comida do mundo?
O escravo, de olhos baixos, explicou sua escolha:
-O que há de melhor que a língua, senhor? A língua é que nos une a todos, quando falamos. Sem a língua não poderíamos nos entender. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e da razão. Graças a língua é que se constroem cidades, graças à língua podemos dizer o nosso amor. A língua é o órgão do carinho, da ternura, da compreensão. É a língua que torna eternos os versos dos grandes poetas, as idéias dos grandes escritores. Com a língua se ensina, se persuade, se instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se demonstra, se afirma. Com a língua dizemos ´sim´. Com a língua dizemos ´eu te amo!´ O que pode haver melhor que a língua, senhor?
O mercador levantou-se entusiasmado:
-Muito bem, Esopo! Realmente tum me trouxeste o que há de mlhor. Toma agora esta outra sacola de moedas. Vai de novo ao mercado e traze o que houver de pior, pois quero ver a tua sabedoria. Mais uma vez, depois de algum tempo, o escravo Esopo voltou do mercado trazendo um prato coberto por um pano. O mercador recebeu-o com um sorriso:
-Hum…já sei o que há de melhor. Vejamos agora o que há de pior….
O mercador descobriu o prato e ficou indignado:
-O quê? Língua? Língua outra vez? Língua? Não disseste que a língua era o que havia de melhor ? Queres ser açoitado ?
Esopo encarou o mercador e respondeu:
-A língua, senhor é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que separa a humanidade, que divide os povos. É a língua que usam os maus políticos quando querem nos enganar com suas falsas promessas. É a língua que usam os vigaristas quando querem trapaceart. A língua é o órgão da mentira, da discórdia, dos desentendimentos, das guerras, da exploração. É a língua que mente, que esconde, que engana, que explora, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que mendiga, que xinga, que bajula, que destrói , que calunia, que vende , que seduz, que corrompe. Com a língua dizemos ´morre´, ´canalha´e ´demônio´. Com a língua dizemos ´não´. Aí está, senhor, porque a língua é a pior e a melhor de todas as coisas!´
Com essa fábula podemos ver como é importante aprender a nossa língua para ter acesso ao conhecimento, para nos defender do mal. E onde fazemos isto? Aqui entre os livros. Aqui na biblioteca. Aqui é a casa da liberdade. Sem a biblioteca só haverá ignorância, que é sinônimo de escravidão. Vocês, jovens, pensem nisto. Vocês estão num lugar sagrado, no único lugar que poderá fazer de vocês vencedores e pessoas felizes. Amem o livro. Amem o seu próprio futuro. Procurem comparecer regularmente a este lugar, para que ninguém venha a explorar vocês mais tarde, dominar vocês, por conhecer melhor a língua. O domínio da língua é necessário para que uma pessoa possa compreender o pensamento dos outros, comunicar-se com outros, entender os personagens que estão dentro dos livros. Esse é o caminho para o Primeiro Mundo. Cresçam com os livros. Sem eles não há salvação, não há saída. Esta é a casa que pode ajudar vocês a conquistar o século XXI e a ajudar a fazer o país que todos nós queremos”.
Pedro Pedro Bandeira nasceu em Santos em 9 de março de 1942. Escritor de livros infanto juvenis, recebeu vários prêmios, como o Prêmio APCA, da Associação Paulista de Críticos de Arte, e o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, entre outros . É o autor de literatura juvenil mais vendido no Brasil (vinte e três milhões de exemplares até 2012) e, como especialista em letramento e técnicas especiais de leitura, profere conferências para professores em todo o país. É autor da série Os Karas2 , de O Fantástico Mistério de Feiurinha e de A marca de uma lágrima, entre mais de 80 títulos publicados e ainda à venda até 2012.
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