ago 22, 2014 Air Antunes EDUCAÇÃO 0
“Muitas vezes me perguntam se ainda me considero ´jornalista´ ou se me considero ´escritor´. há uma certa razão de ser na pergunta: estou na praça há 30 anos como jornalista, mas nos últimos sete publiquei uma história da Bossa Nova (Chega de Saudade) e duas biografias (a de Nelson Rodrigues, O anjo pornográfico, e a de Garrincha, Estrela solitária). Os três livros exigiram um insano trabalho ´jornalístico´. Além disso, entre um e outro livro e mesmo durante, continuei cometendo matérias para jornais e revistas do Rio e de São Paulo.
Mas, evidentemente, minha principal produção nesse período foi em formato de livro. O anjo pronográfico ganhou o Prêmio Nestlé de 1993 e Estrela solitária o Prêmio Jabuti de 1995. Donde, seria legítimo considerar-me ´escritor´.
A tal pergunta me costuma ser feita por jornalistas. “Talvez por isso eu prefira responder, meio gaiatamente, que sempre fui e serei jornalista. A resposta é intencional: milhares de jornalistas brasileiros odeiam ser jornalistas e gostariam de se tornar escritores. Acham ´pobre´ser jornalista e ´nobre´ser escritor. Muitos trabalham de má vontade no dia-a-dia do jornal, voam para casa à noite e escrevem contos e poemas. Não creio que esses contos e poemas sejam melhores do que aquilo que fazem na estiva da redação. Se não conseguem ver nobreza no trabalho jornalístico, duvido que sejam muito bons em ficção ou poesia.
Se tenho dado certo nos livros que produzo, deve ser porque nunca tive essa vaidade de me ver publicado entre capas. Sempre adorei ser jornalista e se, de repente, tide de adotar o formato livro, era porque os assuntos que me interessavam tratar so caberiam nesse formato. Não me lembro de jamais ter escrito uma única lauda que não fosse para publicação imediata, para amanhã, para a semana que vem ou para o mês que vem, depedendo do veículo para o qual fosse escrita. Com os livros é a mesma coisa: penso num assunto, combino com o editor e, seis meses ou dois anos depois, entrego os originais. Tudo cronometrado.
Nesse sentido, posso me considerar um privilegiado. Aos 48 anos de idade e 30 de profissão, faço o que sempre quis fazer- escrever- e vivo disso. Não só é uma delícia, como também um alívio: afinal, não sei fazer mais nada.
Aliás, sei. Há uma coisa tão maravilhosa quanto escrever: ler. Talvez um dia, se perguntarem se sou jornalista ou escritor, eu responsa simplesmente: leitor”.
Palestra proferida na Biblioteca Dinah Silveira de Queiroz, em 4 de julho de 1996.
Ruy Castro nasceu em Caratinga, Minas Gerais, 27 de fevereiro de 1948. Jornalista e escritor com passagem por importantes veículos da imprensa do Rio e de São Paulo a partir de 1967, e escritor, a partir de 1988. É reconhecido pela produção de biografias como “O Anjo Pornográfico” (a vida de Nelson Rodrigues), “Estrela Solitária” (sobre Garrincha) e “Carmen” (sobre Carmen Miranda), e de livros de reconstituição histórica, como “Chega de Saudade” (sobre a Bossa nova) e “Ela é Carioca” (sobre o bairro de Ipanema, no Rio). Parte de sua produção jornalística foi reunida em livros como “Um Filme é para Sempre” (sobre cinema), “Tempestade de Ritmos” (sobre música popular) e “O Leitor Apaixonado” (sobre literatura). Escreveu também um ensaio sobre o Rio, “Carnaval no Fogo — Crônica de uma Cidade Excitante Demais”. Seus livros têm edições nos Estados Unidos, Japão, Inglaterra, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália, Polônia, Rússia e Turquia. Em ficção, é autor do romance “Era no Tempo do Rei”, das novelas “Bilac Vê Estrelas” e “O Pai Que Era Mãe”, e de condensações de clássicos como “Frankenstein”, de Mary Shelley, e “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. A seu respeito foi publicado o livro “Álbum de Retratos — Ruy Castro”, uma minifotobiografia, pela editora Folha Seca. Vencedor do Prêmio Esso de Literatura, do Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira e de quatro Jabutis.
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